sábado, 3 de novembro de 2012

Uma Carta para Hilda Hilst - Texto de Tino Cabralia

 
Uma Carta para Hilda Hilst - Texto de Tino Cabralia
 
Hilda,
 
 Li o seu livro «Contos D’Escárnio», onde as estranhas experiências sexuais de Crasso e sua aguçada crítica ao comportamento de suas amantes e amadas e a si próprio, tornam-se uma crítica generalizada para toda classe artística, aos leitores, ao próprio autor (você se questionando) e a toda sociedade.
 
 Você tenta educar o leitor desesperadamente, usa o seu personagem ou seus personagens para desfraldar uma série de ataques à pobreza da literatura nacional e porque não de toda cultura impregnada de mesmice. Seu cinismo perante essa situação é mortal, irónica até o fim do túnel, retratando um País no fim do poço.
 
 Seus contos com tema erótico/pornográfico, talvez um meio termo entre os dois, revelam uma beleza plástica literária jamais imaginada nos livros do gênero. «Avis rara».
 
O vocabulário vastíssimo é exemplo de respeito e admiração pela língua portuguesa, ficando muito distante do rebuscamento desnecessário, revelando uma riqueza pouquíssimo explorada, tão importante para uma comunicação diferenciada, estudada e de alto nível, para um leitor (em geral) tão mal acostumado e acomodado buscando a simplificação.
 
Você quebra tabus, demonstra uma visão aberta, banalizando e desnudando tudo aquilo que vivemos tentando esconder; esse lado animal, não civilizado – o sexo em conflito com o intelecto – a busca e a não busca de explicações para o inexplicável, o homem inserido no contexto natural, impulsivo, a magia do ser humano e tudo o que lhe cerca. O mistério.
 
 Assim também me senti ao ler «Cartas de um Sedutor», impressionado com a qualidade do seu texto...tanta riqueza...tanto humor refinado neste País tão pobre, sem referências e sem graça.
 
 
 
 
 

 

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