Coisas de «fazer bem», de «fazer mal» - Autoria e Fonte: Cecílio Elias Netto (A Província - Piracicaba) - Viver vive-se vivendo (10)
Neste início de século XXI, há, ainda, quem acredite em benzedeiras, benzeções, simpatias. Pode-se, então, imaginar como tenha sido naqueles já distantes anos 40, 50, até mesmo os 60 do século passado. Eram crenças que – diante do pragmatismo e da racionalidade fria que tomou conta do mundo – parecem bonitas.
Isto é: que, sendo lembradas e revistas, revelam a verdadeira beleza de um jeito, de um estilo de viver. Ora, todas as gerações falaram de tempos anteriores, que seriam melhores do que os do presente. Sempre foram melhores. Pois as dores são esquecidas e ficam quase que apenas as lembranças cada vez mais doces, como se a doçura delas aumentasse com o tempo que passa.
Piracicaba foi uma cidade de doçuras, um mundo onde crenças, superstições, lendas, mentiras contadas por gente adulta às crianças, histórias de carochinha e da beira-rio acabaram criando um universo por assim dizer mágico. Podia-se ir em busca do pote de ouro com a certeza de encontrá-lo. Eram tempos de parteiras, de benzedeiras, de rezadeiras.
Uma das mais famosas e respeitadas, em meados do século passado, foi, com certeza, dona Carolina Martins, a Carolina Benzedeira, também conhecida como Carolina do Inácio. Ela benzia verrugas, nó de tripa, vermes, lombriga, fazia partos, orientava as mulheres sobre higiene, saúde, prevenção de doenças.
Aqueles eram tempos, também, de coisas que «faziam bem» e de coisas que «faziam mal». Dona Carolina sabia de todos esses segredos e mistérios da vida. Havia coisas que «faziam bem» e ninguém, no entanto, falava delas. Namorar, por exemplo.
Sempre foi bom namorar, «fazia bem», mas os pais sonegavam a informação aos filhos, especialmente às filhas. «Fazia bem» comer banana com aveia. E «fazia bem» o insuportável óleo de fígado de bacalhau – a odiada Emulsão de Scott – que os pais, para horror das crianças, nos enfiavam boca a dentro. Uma colher de Emulsão de Scott, ainda que «fizesse bem» martirizava as crianças. E ai de quem vomitasse! Pois teria que tomar outra dose.
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