domingo, 18 de novembro de 2012

Poesia de Abílio Pacheco - poema 02122011; Escritura; Procura

 
Poesia de Abílio Pacheco - poema 02122011; Escritura; Procura 


poema 02122011
 
 o que meu corpo conta do tempo que o tempo marca?
 ele carrega o peso do peso do tempo que passou
 carrega o fardo maior que o tempo passado
 maior que a pele registra, que a identidade indica

o que meu corpo conta do tempo que o tempo marca?
 ele não sabe medir a medida do que não passou
 não sabe mensurar o que não viveu, o que eu não vivi

o que meu corpo conta do sentido da velhice que não há?
 ele falseia a idade que não tem, a idade que não tenho,
 parece que ele é uma ficção, uma ficção verossímil
 
Escritura
 
A Eliton Moreira e Ademir Braz
 
 Tecer versos é, por força, fazer sulcos em penedos,
 Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
 Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.

é ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
 Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E extrair exangues lascas — vergões por dentro e por fora.

é talhar a cerrados pulsos as pedras finas, mas duras.
 E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
 é um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.
 
Procura
 
 Entre os silêncios noturnos,
grito-me o teu nome
que mal vaga em vão
pelas paredes de mim;
pois tantas são as vozes,
entrecortadas, entrecruzadas,
vozes às vezes babélicas,
buzinas, apitos e roncos,
miados, latidos e urros,
todas vivendo em mim,
que o meu grito se perde
pelas frestas da porta
 
 
 
 
 

 

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