Poesia de Abílio Pacheco - poema 02122011; Escritura; Procura
poema 02122011
o que meu corpo conta do tempo que o tempo marca?
ele carrega o peso do peso do tempo que passou
carrega o fardo maior que o tempo passado
maior que a pele registra, que a identidade indica
o que meu corpo conta do tempo que o tempo marca?
ele não sabe medir a medida do que não passou
não sabe mensurar o que não viveu, o que eu não vivi
o que meu corpo conta do sentido da velhice que não há?
ele falseia a idade que não tem, a idade que não tenho,
parece que ele é uma ficção, uma ficção verossímil
ele carrega o peso do peso do tempo que passou
carrega o fardo maior que o tempo passado
maior que a pele registra, que a identidade indica
o que meu corpo conta do tempo que o tempo marca?
ele não sabe medir a medida do que não passou
não sabe mensurar o que não viveu, o que eu não vivi
o que meu corpo conta do sentido da velhice que não há?
ele falseia a idade que não tem, a idade que não tenho,
parece que ele é uma ficção, uma ficção verossímil
Escritura
A Eliton Moreira e Ademir Braz
Tecer versos é, por força, fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.
é ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E extrair exangues lascas — vergões por dentro e por fora.
é talhar a cerrados pulsos as pedras finas, mas duras.
E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
é um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.
Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.
é ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E extrair exangues lascas — vergões por dentro e por fora.
é talhar a cerrados pulsos as pedras finas, mas duras.
E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
é um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.
Procura
Entre os silêncios noturnos,
grito-me o teu nome
que mal vaga em vão
pelas paredes de mim;
pois tantas são as vozes,
entrecortadas, entrecruzadas,
vozes às vezes babélicas,
buzinas, apitos e roncos,
miados, latidos e urros,
todas vivendo em mim,
que o meu grito se perde
pelas frestas da porta
grito-me o teu nome
que mal vaga em vão
pelas paredes de mim;
pois tantas são as vozes,
entrecortadas, entrecruzadas,
vozes às vezes babélicas,
buzinas, apitos e roncos,
miados, latidos e urros,
todas vivendo em mim,
que o meu grito se perde
pelas frestas da porta
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