domingo, 24 de fevereiro de 2013

Jornal Raizonline nº 211 de 25 de Fevereiro de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXII)- Hábitos de cultura e hábitos de escrita

 
Jornal Raizonline nº 211 de 25 de Fevereiro de 2013 - COLUNA UM -  Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXII)- Hábitos de cultura e hábitos de escrita

A Arlete Deretti Fernandes tem esta semana um texto cultural intitulado «Preferências Vocabulares» (pode carregar aqui para ler) que é interessante em vários aspectos. O primeiro é de facto poder ver-se aquilo a que se poderia chamar de «tiques na escrita», que como o nome indica, é ou será, uma reacção quase reflexa ou simpática que em termos neurológicos eu colocaria ao mesmo nível das reacções do nosso organismo perante estímulo, nuns casos (ver Pavlov) ou mesmo sem estímulo pelo menos visível como é o caso do peristaltismo.

Neste último caso, e no outro, «reflexo» quer dizer aqui talvez necessário (a uma causa segue-se um dado efeito) e no que se refere ao peristaltismo, isso aproxima-nos da ideia do periférico, que como se entende está fora ou para além do centro (neste caso sistema nervoso central).

Dito isto ver a repetição de expressões num dado texto é uma coisa que eu conheci por volta dos anos 60/70 através daquilo a que se chamou na altura análises estruturais relacionadas com a corrente dos finais dos anos 60 que se intitulou estruturalismo.

Claro que as análises textuais tenderam logo para dar valores a determinadas expressões: «mas» indica indecisão, por exemplo, «e» completamento de uma ideia mal expressa ou insuficientemente expressa na frase que antecede, enfim...isto são exemplos e não garanto que as coisas fossem mesmo assim porque não me dediquei ao assunto senão pela curiosidade. Valerá aqui pela ideia geral.

Claro que a isto se seguiu a sumarização: todo o «mas» implica indecisão, todo o «e» implica completamento, etc. etc. Ainda no ainda famoso filme «O Clube dos Poetas Mortos» se pode ver que esta corrente analítica teve a sua influência até a nível didático, uma vez que o livro de leitura com que o novo professor de literatura se confrontou referia isso e nomeadamente fazia (ao que vimos) uma análise de um poema de Shakespeare utilizando curvas e gráficos. Livro esse cujas folhas ele mandou arrancar, simplesmente e que é o primeiro acto de revolta no filme.
 
 
 
 
 


 

JORNADA CREPUSCULAR - POR: DR. MARIO MATTA E SILVA - O FADO COMO CANTAR DO POVO

 
JORNADA CREPUSCULAR - POR: DR. MARIO MATTA E SILVA - O FADO COMO CANTAR DO POVO
 
Nas jornadas em que se homenageia Amália Rodrigues, não há crepúsculo que não traga as assimilações que ao longo dos anos o povo recolheu, nas três vertentes que o velho regime do Estado Novo desenvolveu e que hoje ainda se evidencia de forma acentuada: Fado, Fátima e Futebol.
 
Nestas formas em que as multidões sabem vibrar e assimilar o que é bem português, ainda hoje, em plena democracia, se vive com entusiasmo e emoção. Quanto ao Fado, as audiências e os aplausos mantêm-se acesos e vivos, com caras e vozes novas que a morte de Amália fez iluminar num vislumbre internacionalizado e por isso, transportado a todos os continentes do planeta.
 
Vejamos, o que nos diz de Amália, em poucas linhas, Fernando Dacosta, numa obra literária exemplar, da qual aconselho a leitura, com o título OS MAL AMADOS.
 
«A facilidade com que, adolescente ainda, dominou o fado desde os tugúrios gordurosos de Lisboa, aos palcos acanhados do País, fê-la ambicionar mais. Compreendendo-lhe a originalidade (nada existia de parecido na musica internacional), sentindo-lhe a hipnose (o fascínio dos que o ouviam era flagrante), Amália comete a ousadia de encená-lo com outras (novas) vestes, espaços, conteúdos, expressividades, sonoridades.
 
Dilatando-o, eleva-o – pela postura (adejante) do corpo e pela palavra (superior) que lhe imprime – a alturas de incenso. A dolente «Canção de Lisboa» tem, vislumbra-a e assume-a, uma arquitectura de centelha operática incomum.»
 
Nos populares caminhos da Severa expande Amália as dolorosas letras de muitos autores de nomeada portugueses, que arrastando seguidores, admiradores, fãs de toda a ordem, se impõe durante décadas como a grande fadista que encarna um Portugal amargurado, dorido, exausto, mas que na sua voz o transforma num brilho misterioso e altivo por esse mundo além.
 
 
 
 
 

 

EDUCAR O VER - Crónica de João Manuel Brito Sousa

 
EDUCAR O VER - Crónica de João Manuel Brito Sousa
 
Visitar a cidade de Faro, é, num certo sentido, a mesma coisa, salvo as devidas proporções, que visitar um museu. Os Farenses são, digamos assim, os guardas do museu, porque conhecem como as suas mãos a sua própria cidade.
 
E nós, que acabamos de chegar, somos os visitantes ou turistas.
E é nesta perspectiva, que o titulo desta crónica talvez tenha cabimento, porquanto, é preciso saber olhar, saber ler o movimento da cidade, saber escutá-la, saber dizer bom dia, com um sorriso se possível.
 
E é nesta preparação que se encaixa a expressão «educar o ver», porque, penso já ter acontecido a todos, passar por uma rua cem vezes e só à centésima vez repararmos numa argola que está na parede, num cata-vento que está lá em cima, numa batente que está numa porta, enfim tanta coisa que não vimos ou que não tínhamos visto ainda.
 
Um turista, disse ao pé de mim, numa cidade que não Faro, a seguinte frase: «Aqui há passado». Olhou com o ver educado. E é assim, quem se interessa pelas coisas… com significado. Para as cidades, o passado é a sua riqueza, enquanto para o homem, o passado já foi, o que interessa é o agora. Teixeira de Pascoaes, o poeta de Maranus, disse até: «Tenho Saudades do Futuro». Como quem diz, vem depressa amanhã.
 
 
 
 
 

 
 

Comentários sobre as publicações

 
Comentários sobre as publicações
 
Ao longo dos tempos temos ido guardando os comentários que são colocados no nosso Blogue de Comentário com a intenção de colocar no jornal uma vez que, por aquilo que sabemos, alguns dos autores comentados nem sempre têm a oportunidade de ir ao Blogue ver esses comentários. Aqui deixamos mais uma remessa:
 O Blogue onde as introduções aos trabalhos publicados no Jornal Raizonline (blogue4ever - Francês) faz o favor de nos enviar periodicamente o número de visitas ao Blogue (e estimativa para o mês) o que pode ser visto aqui (traduzido).
Février 2013 : 8690 visites (Estimation pour le mois : 13518 visites)
Janvier 2013 : 16813 visites
Décembre 2012 : 18111 visites
Novembre 2012 : 14258 visites
Octobre 2012 : 11438 visites
O Blogue até esta data teve 195.296 Visitantes (contra 177.257 = 18.039 mais que no último apanhado, em meados de Janeiro).
Pequena Nota: Há dois formatos para acesso aos artigos que estão na origem dos comentários. o termo «Artigo» contém o link que leva ao artigo no Blogue. Só a partir destes comentários é que o Blogue começou a fazer um tipo de referência diferente, mais detalhada, que é o que se encontra no último comentário.
Cremilde Vieira Cruz
 Querida Arlete, Desejo-lhe um bom fim de semana e agradeço a «lição» sobre o pepino, que li com toda a atenção. Beijinho grande, amiga Cremilde. Artigo.
 Cremilde Vieira Cruz
 Não me canso de ler, este grande poema, querida amiga. Gostaria que lhe fosse concedido esse presente de aniversário, ano após ano. Beijinho Cremilde. Artigo.
 
 
 
 
 

 

Preferências vocabulares - Por Arlete Deretti Fernandes

 
Preferências vocabulares - Por Arlete Deretti Fernandes
 
Fato provado é que falando ou escrevendo deixamos transparecer a nossa preferência para certos vocábulos ou torneios de expressão.

Afirmou o cronista Francisco Pati no antigo CORREIO PAULISTANO, que «quando se escolhe a obra completa de um escritor para uma romaria às regiões do estilo, acabamos descobrindo predileções vocabulares que constituem ou acabam constituindo verdadeiros «cacoetes».

O jornalista estava a ler «OS POBRES» do grande escritor português Raul Brandão e achou-lhe uma elegante preferência pela palavra dedada, citando alguns exemplos que aqui escrevo:

Ao descrever um banco de hospital, diz que há nele «nódoas de sangue, dedadas de aflição e suor de desgraçados que se entranhou na madeira».

Outra questão: «De que ruínas se constroem estes seres que o destino marcou com dedadas trágicas?».

Mais este: «Só a morte ainda restava intata, sem dedadas na sua roupagem negra, com todo o seu mistério e toda a sua beleza».

O próprio Pati disse o porque da preferência: «A predileção explica-se pela sua arte de escultor. Raul Brandão vive, com efeito, a dar dedadas nos seus personagens, para acentuar-lhes a expressão das respectivas máscaras.»

Quem ouviu ou leu Dom Aquino Correia percebeu logo a sua preferência para certos modos de dizer que bem o caracterizavam dentre os demais escritores ou oradores. Eram muito frequentes nele, por exemplo, os ...que se me dá, os dir-se-ia, os em meio a, os em flor e outros.

O Padre José Stringari, meu primo, professor de português e escritor, resolveu ler um dia o volume NOVA ET VETERA, edição da Imprensa Nacional do Rio de Janeiro e notou que mais de quarenta vezes o bispo académico empregava a mesma expressão:

Por entre o louro mar dos seus trigais maduros,
 E das comas em flor de crianças gentis. (p.13)

A hora quente ermara-se a campina...
 Só as copas em flor, rara bonina
 Jogava no caixão. (p. 23)

Na primavera em flor, minha alma seja
 A cotovia extática do azul. (p. 30)

Ir pelas ruas de Zamora em flor. (p. 44)

Este éden, todo em flor, de Pindorama. (p.53)

Era um sarcasmo para aquela vida,
 Que vergava inda em flor. (p. 55)
 
 
 


 

O Atleta e o Velho Safado - Texto de Tino Cabralia

 
O Atleta e o Velho Safado - Texto de Tino Cabralia 
 
2028, o Brasil como a maior potência econômica mundial é sede pela primeira vez dos Jogos Olímpicos. (futurismo ou delírio???).
 
O rapaz de quarenta e dois anos acorda às onze e trinta com uma terrível ressaca em uma manhã chuvosa, negra e poluída na cidade de Santo André/SP. Ele é solteiro, tem quarenta e dois anos mas aparenta bem mais.
 
Pesa exatos oitenta e nove quilos e meio o que não lhe cai bem considerando ter um metro e sessenta e nove de altura. (um a menos do que este pobre cronista que abaixo subscreve).
 
A barriga proeminente e flácida cultivada em anos de sedentarismo encobre o cinto em torno da calça; as olheiras da ressaca em torno de seus olhos negros lhe dão uma aparência de zumbi, misturado com vampiro, o que de certo combina muito com seu cabelo cumprido e ensebado que não vê uma tesoura a tanto tempo.
 
Sua roupa maltrapilha e suja lhe dá uma aparência de mendigo vagabundo, o que aliás só não é verdade porque desde um ano após as Olimpíadas de Pequim recebe uma vergonhosa aposentadoria por invalidez da Previdência Social que lhe possibilita beber pinga e ligar para o disk-putas sem ter que pedir dinheiro nas esquinas da cidade.
 
Aposentou-se após sofrer os horrores da síndrome de «burn-out» ou para os puristas - crise aguda de estresse decorrente de sobrecarga no trabalho.
 
Olhou no espelho e não gostou do que viu. «As aparências enganam...os outros!»(pensou e sorriu sarcasticamente). Ligou a televisão e os canais só falavam da porra da merda das Olimpíadas de São Paulo. Desligou rapidamente. «– Que porra!» Gritou sozinho.
 
Saiu na rua e encontrou sua irmã toda atleta, toda animada, toda exemplo como sempre foi. – «Quer ir para São Paulo? Hoje é a abertura das Olimpíadas. Tenho ingresso!» Com um olhar perdido no horizonte e uma dor dilacerante no peito, recusou-se a responder....virou às costas e foi para o famoso bar do «copo sujo» de seu compadre Genésio como fazia todos os dias na hora do almoço desde que se aposentou.
 
Cumprimentou respeitosamente todos os bêbados que começavam a enfileirar garrafas na mesa. Pediu uma branquinha para variar, jogou dois dedos no chão para o santo do dia e começou a fazer sua fileira irregular de mini-copinhos de geléia.
 
A televisão do bar mostrava a porra da merda da festa de abertura Olímpica. -«Oooo Genésio desliga está merda!?»- Foi atendido prontamente.
 
 
 

 

BATUQUE MUKONGO - Poema 17 do Livro Batuque Mukongo de Manuel Fragata de Morais

 
BATUQUE MUKONGO - Poema 17 do Livro Batuque Mukongo de Manuel Fragata de Morais
 
 Chegada a hora parti
 do verde Cazengo
 subi os morros do futuro
 já longe do meu quarto onde as manhãs
 suplicavam nos dentes do meu avô
 e reconstruíam o viveiro dos pássaros
 as casas toscas dos macacos
 o cantarolar de minha mãe
 sobrepondo-se ao longínquo ruído
 das máquinas do café junto ao secador
 onde os meus pés
 eram repasto das matacanhas
 almoço dos mauindo
 jantar das ovitakaia
 naquela doce dor do coça-coça
 que só acabava com o perfurar do saco
 pela agulha mestra na mão de minha mãe
 da lavadeira
 ou qualquer outra mais velha
 que me xingava
 com longos muxoxos
 a cheirar a tabaco
 filho do branco com matacanh’ééé
 não tem vergonha não tem vergonh’ééé
 o mona yá mundele
 não tem matacanha uevu
 não podia ser africano
 
 
 
 

 

Poesia de Rose Arouck - Bolinhas de Sabão; Quero Você!; Pipoca

 
Poesia de Rose Arouck - Bolinhas de Sabão; Quero Você!; Pipoca



Bolinhas de Sabão
 

Pruf... Pruf...Pruf
 Sopro o canudinho e procuro a direção.
 Lá vão as bolinhas coloridas
 sempre brilhando nos ares exibidas
 as bolinhas... minhas bolinhas de sabão.

A água no copo fica ensaboada;
 eu sento distraída na calçada
 curtindo aquela linda brincadeira...
 Uma bolinha reflete a minha cara de contentamento.
 Quero gravar na memória esse momento
 e espalhar minha alegria pelo chão.
 

Quero Você!
 

Eu quero você!
 Mesmo que seja por um
 minuto
 se entregando em jogo duplo
 em tempo absoluto
 pra acompanhar meu renascer.

Quero te mostrar meu conteúdo
 que é infinito
 e mudo,
 alegre infante e sortudo,
 extrovertido e astuto,
 misturado com o tesão do prazer.
 

Pipoca
 

(Mundo da Criança)

Pipoca
 milho
 espoca
 pula
 e toca
 a tampa da panela
 que está amarela
 de tanto pipocar.

Eu gosto de comer pipoca
 tomando guaraná...

Branca igual um pedaço de algodão
 é a flor colhida pelos dedos da minha mão.

 
 
Leia este tema completo a partir de 25 de Fevereiro carregando aqui. 
 
 
 


 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Outra dimensão - Conto de Liliana Josué

 
Outra dimensão - Conto de Liliana Josué
 
- Ando confusa, não sei em que mês estou, talvez Julho...então já é verão. Mas não é igual ao de outros tempos: indefinido, sem certezas, sem saber o que quer.
 Está diferente, tenho a certeza de que está muito diferente.
 Já não sou nova. Quantos anos tenho? Acho que noventa, ou... até mais um bocadinho. Vou perguntar.
Psst, venha cá. Quem é você? Sim, sim a Antónia, já sei. Está cá em casa para me dar de comer e fazer companhia. Diga-me lá, se faz favor, quantos anos tenho? Acho que me esqueci. Já noventa e dois? São muitos...! Obrigada Antónia você é simpática.

Gosto do meu vestido, é azul. Azul da cor que os bebés vestem. As almofadas da minha cama também são azuis. Eles não dizem, mas eu sei que é para condizer com os meus olhos.
 
A minha cama já se tornou incómoda. Mas o sofá deixou de poder comigo, atirava-me para o chão e depois as minhas pernas ficavam duras e com medo. Coisas complicadas; manias de sofá que já se acha com direito ao descanso e depois não quer ficar comigo, por isso cá estou eu na minha cama de lençóis brancos iguais à cor dos os meus cabelos.

Certas alturas ela também se zanga comigo: dá-me empurrões nas costas... e fazem doer. Até chega a empurrar-me para o lado, também quer que eu a deixe descansar. Tem de ter paciência, não posso andar sempre a mudar!?

Há dias que tenho cá visitas e fico muito feliz, até parece que o meu quarto se torna mais brilhante. O sofá mostra-se mais risonho e a cama mais condescendente. Algumas pessoas nem sei quem são, não as conheço, e muito menos dos nomes lembro, mas não me importo, fico contente na mesma.

Elas dizem-me coisas... e perguntam também. Eu gosto e até acho graça mas não sei as respostas... e a boca, para me contrariar, não quer falar. Então rio para não parecer mal educada. Mas é tudo bom, gosto de os ver cá.
 
 
 
 


 

A lição do cambista - Crónica de Gociante Patissa

 
A lição do cambista - Crónica de Gociante Patissa 
 
Sendo já consabida a carência do pós - quadra - festiva, fiz-me ao banco, anteontem, para esgotar o último pouco, muito pouco, da poupança.
 
De seguida, parei o carro sobre a rotunda do Kulinji, cidade de Benguela, para cambiar as três míseras centenas de dólares para kwanzas. Dez mil e quatrocentos era quanto cada centena valia.
 
Desfeita a algibeira, pôs-se o kínguila a conferir os kwanzas, pronto mesmo a entregar-mos, sem que tivesse um mínimo contacto sequer com o motivo do câmbio, no caso os dólares. Como sabes que as notas não são falsas? Confrontei o homem, como aliás, inutilmente talvez, sempre faço, na esperança de voltar a ver a velha preocupação do cambista em levantar a cédula para o sol, ou afagá-la entre o indicador e o polegar.
 
Dava-me mais conforto, receando se calhar ser vítima de milhares de falatórios que nos chegam sobre ardis de cambistas que te forçam a aceitar que tua nota era falsa. Mesmo porque, como disse, as notas eram as últimas, quando do salário de Dezembro e do décimo terceiro já só restam saudades.
 
Muito serenamente, o kínguila disse: o kota já costuma trocar aqui, eu já conheço. Mentira!, quase ripostei, pois há já um bom tempinho que meu suor não vale dólares. Como iria trocar o que não tenho? Além do mais, o carro que usei naquele dia é relativamente recente, pouco menos de três meses. Quer dizer, ele tratou-me como trataria qualquer um. Mas então, esses homens vêem excesso de honestidade nos seus clientes? Xiça!
 
 
 
 
 

 

Uma fada feminista - Conto de Dulce Rodrigues

 
Uma fada feminista - Conto de Dulce Rodrigues 
 
Escrevi esta historieta inicialmente em francês, mas traduzo-a agora para todos os meus amigos e conhecidos portugueses. Até vem a propósito do Dia dos Namorados e outros apaixonados.

Não posso acreditar que haverá muitos homens capazes de pensamentos inconfessáveis como os do homem de que fala esta historieta, mas... Que isto vos sirva, contudo, de lição se verificarem que, no fundo de vós mesmos, escondem ideias tão feias.
 
A historieta é a de um casal com 25 anos de casados. No dia em que vão festejar essa data inesquecível, eis que lhes aparece uma fada muito simpática que lhes diz :
«Vós fazeis hoje 25 anos de casados, o que nos tempos que correm é uma proeza cada vez mais rara, por isso, decidi conceder a cada um de vós um dom, como recompensa. Comecemos pela senhora. Diga-me, minha querida senhora, o que é que lhe daria prazer? Seja o que for, o seu pedido tornar-se-á realidade.»

A mulher não perdeu sequer um segundo a pensar, respondeu logo : «Gostaria de dar a volta ao mundo com o meu marido e companheiro de todos estes anos de felicidade. »

A fada agitou a sua varinha magica, pronunciou algumas palavras ininteligíveis e, eis que os bilhetes de avião e os vales de hotel apareceram por magia nas mãos da mulher.
Agora é a vez do marido. A fada faz a mesma pergunta. O homem hesita e o seu rosto crispa-se, deixando transparecer uma terrível luta de consciência... finalmente, volta-se para a esposa e diz-lhe :
 
 
 
 

 

Poesia de João Manuel Brito Sousa - A AMIZADE; QUERO DIZER-LHE!...; A VIDA

 
Poesia de João Manuel Brito Sousa - A AMIZADE; QUERO DIZER-LHE!...; A VIDA
 
 
A AMIZADE
 
 Para o Jorge L M Reis
 
Constrói-se pouco a pouco, convivendo
 Com respeito e consideração entre nós
 Os dias passam e vamo-nos conhecendo
 A saudade chega e não podemos estar sós

 
 Porque amigos são os que querem bem
 E isso vê-se claramente no modo de estar
 Se não estão, nós não nos sentimos bem
 Apareçam, nem que seja só para conversar.

 
QUERO DIZER-LHE!...
 
 Ao Presidente Pinhal Dias
 
Admiro a sua força, coragem e vontade
 De nos brindar com tantos e bons autores
 Que me dá alegria de viver, isso é verdade
 E orgulhoso de constar entre esses valores

 
 Que têm uma relação intima com a poesia
 E que me acenam de longe com amizade
 Parecendo dizer-me, ó caro poeta bom dia
 Se dizem de manhã à tarde já sinto saudade

 
A VIDA
 
 à vida
 
Ao nascermos, logo entramos nela …
Neste espaço totalmente desconhecido
 O melhor é logo bem cedo conhecê-la
 Porque só assim serás bem recebido.

 
 Na vida… interessa mais o saber estar
 Respeitarmo-nos e aos outros também
 Porque um dia tudo, tudo vai terminar
 E dizem alguns que o destino é o Além.

 
 
Leia este tema completo a partir de 25 de Fevereiro carregando aqui.
 
 
 

 
 

Poesia de José Carlos Moutinho - A tua ausência; Nas asas dos sonhos; Navegando pela memória

 
Poesia de José Carlos Moutinho - A tua ausência; Nas asas dos sonhos; Navegando pela memória
 
 A tua ausência
 
 Tardes que se alongam no cansaço da tua ausência,
 e se escusam em trazer novas da tua caminhada,
 pelos becos de estranhos contornos,
 onde perdes o discernimento em conturbadas emoções!

 
 Levas-te em marés vivas, por agitados mares,
 sem sentires a beleza e o calor do sol,
que te afaga o corpo,
em provocante carícia de sensual despertar!

 
Nas asas dos sonhos
 
 Quisera eu poder voar nas asas dos sonhos,
 sobrevoar montanhas e colher pétalas de ilusões,
 caminhar por campos de emoções,
coloridos pelas quimeras,
 acolher o sol que me penetrasse na alma
 e voar sem fim, por entre nuvens brancas de paz!
 Pousar o meu olhar nas estrelas, agora apagadas
 pelo descanso que lhes é dado pelo dia,
 esperar pela noite que viesse a mim, suave
 e com a sua luz, iluminasse o meu coração!
 Fazer o mundo parar em nostalgia,
 tornar reais todas as alegrias

 
Navegando pela memória
 
 A minha canoa de memórias ainda navega
 Por aquela tarde de verão, de sol esmorecido,
 no mar de uma emoção de total entrega,
 do amor que um dia, na praia, havia nascido.

 
Lembrar o passado pode ser nostálgico,
 mas se há lembrança, existiu alegria,
 neste contexto tudo me parece lógico,
 por isso lembrei-me fazer esta poesia

 
Os olhos dela tinham encanto que fascinava,
 de negras íris, como a bela turmalina,
 quando na rua caminhando, ondulava,
 na espuma das ondas da minha adrenalina.

 
 
Leia este tema completo a partir de 25 de Fevereiro carregando aqui.
 
 
 

 
 

Poesia - Por Abilio Pacheco - Procura; Andança; A poesia; No teu telhado

 
Poesia - Por Abilio Pacheco - Procura; Andança; A poesia; No teu telhado 
 
Procura
 
Entre os silêncios noturnos,
 grito-me o teu nome
 que mal vaga em vão
 pelas paredes de mim;
 pois tantas são as vozes,
 entrecortadas, entrecruzadas,
 vozes às vezes babélicas,
 buzinas, apitos e roncos,

 
Andança
 
Carrego meus males todos
 juntos no mesmo bolso,
 juntos do mesmo lado – no peito esquerdo.
 

A poesia
 
A poesia
está no varal.
Veja lá se ela
está enxuta.
Se não estiver

 
No teu telhado
 
No teu telhado
miam gatos
e os demônios
brincam com anjos
de pega-pega.
No teu quintal
ladram cães
e os demônios
brincam com anjos
de corre-corre.

 
 
Leia este tema completo a partir de 25 de Fevereiro carregando aqui.
 
 
 

 
 

O passeio - Conto de Daniel Teixeira

 
O passeio - Conto de Daniel Teixeira 
 
As coisas estavam a correr bem, pelo menos era assim que eu pensava e tudo levava a crer que nada de mau poderia acontecer.
 
O Fernando ia à frente, fazendo de batedor, a seu gosto e com algum prazer apesar do potencial perigo. O resto do pessoal vinha todo em fila indiana atrás de mim e eu por meu lado tentava seguir os sinais das pisadas das botas grossas do Fernando.
 
Era um hábito dele, andar sempre de botas tipo tropa, quase, se descontarmos uns cordões de aperto coloridos e em fiapos que ele se recusava a trocar por outros novos sob argumento de que aqueles lhe davam sorte.
 
Mas não era por causa dos cordões das botas do Fernando e por causa da sua fé neles que eu achava que se tudo tinha corrido bem até ali, tudo correria bem dali para a frente.
 
No bar da vilória onde tínhamos estado antes dissemos que queríamos ir por aquele caminho para a casa que tinha sido da mãe da Ilda, recentemente falecida, e aí foi - nos dito que talvez não fosse boa ideia.
 
Um velhote com cara de patriarca destacou-se na cadeira de uma mesa e de voz um pouco pastosa disse-nos que os caçadores furtivos espalhavam ratoeiras para caça grossa em locais que só eles conheciam e que por vezes perdiam os traços das suas sinalizações pelo que havia ratoeiras perdidas espalhadas um pouco por todo o lado.
 
Chamou um indivíduo fardado, de chapéu com insígnias que apresentou como sendo o seu filho mais novo, guarda florestal, e disse que ele tinha deixado lá um pé, pois quando chegara ao hospital já nada havia a fazer senão acabar de cortar.
 
Como se pensasse que nós duvidávamos, e acertou, obrigou o moço, relativamente novo, a levantar a bainha esquerda das calças que mostrou então uma prótese, articulada um pouco acima do tornozelo.
 
Lamentámos o sucedido e agradecemos o aviso e dissemos que iríamos tomar cuidados. O velhote voltou-se então para a Ilda e disse-lhe:
 
«Você não se lembra de mim, mas eu era grande amigo do seu pai e da sua mãe. Eram boa gente, os dois, não desfazendo dos presentes. Você tem quase a mesma cara dela!»
 
 
 
 
 

 

O casal hippie - Crónica de Daniel Teixeira

 
O casal hippie - Crónica de Daniel Teixeira
 
Quando da minha travessia por Espanha nos anos 60 apanhei boleia de um casal hippie que tinha tudo aquilo que normalmente se diz que os hippies tinham.
 
A moça era simpática, tinha uma cara mesmo linda, lourinha, mas via-se que o cabelo havia tempo que não via água o que me fez depressa adivinhar que o resto do corpo dela também não, embora aquele intenso perfume marroquino, o patchouli, no qual ela parecia ter-se banhado, afastasse qualquer onda de outro adivinhável mau cheiro.

Ele não lhe ficava atrás embora não me parecesse que usasse o tal perfume. Tinha cheiro a suor puro, intenso e devia ser gorduroso também, pois, de barba desgrenhada, o cabelo derramava-se sobre os seus ombros em pastéis de cabelo colado tal como a barba.
Os caracóis dele e uma fita vermelha a barrar-lhe a fronte disfarçavam um pouco o desarrumado pessoal composto ainda por um colete em imitação de cabedal com negruras gordurosas nas mangas, nos bolsos, no colarinho e sabe-se lá onde mais.

Tinham uma daquelas carrinhas Volkswagen e na parte traseira, que foi onde ficámos os dois, eu e ela, havia um colchão preso por elásticos à parte lateral do furgoneta. Talvez por simpatia ela optou por vir fazer-me companhia na parte traseira, o que achei bem, mesmo que ela tivesse aproveitado a oportunidade para acender um charro e tentado partilhar com o condutor e comigo uma passa ou duas.

Eu não aceitei e simpaticamente disse quer era asmático e ainda tossi rouco um bocado para confirmar, mas para ela tudo bem, era verdadeiramente uma simpatia e resolveu fazer a parceria exclusivamente com o seu cara metade.
Fizemos cerca de duas horas de viagem juntos, o carro não era propriamente um fórmula 1 como se entende e acabámos por parar uns minutos enquanto eles entusiasmados tiravam fotos a uma enorme e solitária estátua de um pastor de ovelhas numa região perto de Vitória que teria esse seu símbolo.
 
 
 
 

 
 

A FEIRA DO PAU ROXO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»

 
A FEIRA DO PAU ROXO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»
 
Ao redor de Castro,em lugares definidos por razões ocultas, erguem-se capelas, igrejinhas que resistem há muitos séculos ao esmeril do tempo e ao esquecimento dos devotos que as ergueram e branqueavam de cal pelo menos uma vez em cada ano, por ocasião da festa do patrono respectivo.

A escolha do sítio onde foram implantadas resulta, na maioria dos casos, da preexistência no mesmo lugar de altares ou simples práticas de culto a divindades que os povos de antanho reconheciam como suas protectoras, antes da vinda e acampamento dos cristianos.

Assim foi em S. Pedro das Cabeças, assim terá também sido em S. Martinho e quem sabe se o não foi igualmente em S. Sebastião, aqui à saída da vila, quando se toma a antiga estrada dos Geraldos, direito ao olival.

Certo é que em 1510, segundo as crónicas, esta ultima capela, feita de pedra e barro e com altar de taipa, coberta por telha vã e habitada por um só santo esculpido em pau, estavam já, ela e o morador a ceder ao peso dos anos, mostrando sinais evidentes da antiguidade de ambos.

Em cada vinte de Janeiro, lá acorria toda a vizinhança deste lugar para rezas e pagamento de promessas anuais feitas ao santo mártir. Fitas, azeite e depois velas de muitos tamanhos e feitios, lá ficavam em acção de graças pelos benefícios vindos através das suplicas . Muitos fregueses, fazem freguesia e a freguesia encanta os comerciantes que à margem da fé, mas aproveitando-se dela, lá iam também para armar a esparrela .

Deste jeito ou doutro idêntico, nasceu naquele lugar um arraial, um mercado, uma feira.
Lugar de fé e de venda.
Arredia da vila, a meia ladeira de um cerro, em sítio descampado como também convinha para o maior negócio que ali se fazia.

Porcos aos milhares, gordos com a bolota de todos os montados das redondezas, para ali convergiam e aguardavam que os negociantes os comprassem às varas.

Ao redor do santo estendia-se um mar de lombos pretos, deitados, arriados pelo peso das arrobas de carne postas na engorda e pelo cansaço das léguas andadas no caminho. No ar , misturava-se um cheiro intenso com um grunhido ensurdecedor. Os porcariços andavam numa fona, despejando gorpelhas de palha e saquilhadas de cevada no chão. Depois corriam com os caldeirões para as bicas para encherem os maceirões de água que não aturavam .
 
 
 
 
 

 

A lei não mata a sede (nem ajuda a esquecer) - Por Leocardo: Blogue Bairro do Oriente

 
A lei não mata a sede (nem ajuda a esquecer) - Por Leocardo: Blogue Bairro do Oriente
 
Está em Portugal a sair a nova lei do álcool, que causou alguma controvérsia por distinguir o vinho e a cerveja das bebidas espirituosas.
 
De acordo com o novo diploma, um jovem com menos de 18 anos não pode consumir bebidas espirituosas, mas a partir dos 16 pode consumir vinho ou cerveja.
 
As únicas alterações de monta prendem-se sobretudo com o horário de venda de bebidas alcoólicas, que fica assim limitado a clubes nocturnos, aeroportos e outros estabelecimentos licenciados entre a meia-noite e as oito da manhã. Pouco mais que isso. Na elaboração da lei foram ponderados factores como as estatísticas e a tradição – e ambas dizem que somos um país de bêbados.
 
Ao contrário dos países mais civilizados onde o consumo de álcool por menores é visto como sinal de decadência e em alguns casos associado às camadas mais pobres e menos educadas da sociedade, em Portugal sempre existiu uma grande flexibilidade – e bebamos mais um copo para comemorar.
 
Não é nem nunca foi fácil a um jovem de 10 ou 11 anos chegar a um supermercado e comprar uma garrafa de whisky ou de vodka, mas a coisa muda de figura quando se trata de uma garrafa de vinho ou uma litrosa de cerveja, nem que seja com o pretexto de estar a fazer um recado ao pai.
 
Eu próprio ia deste tenra ao supermercado entregar o vasilhame e levar uma grade de Sagres para casa e nunca sequer fui olhado com desconfiança. Num país de brandos costumes como o nosso, é comum um menor entrar numa farmácia e comprar preservativos, ou num clube de vídeo e alugar um filme pornográfico. Se lhe perguntarem é só dizer «é pró meu pai», e fica o problema resolvido.
 
Quando estudava no Liceu existiam à volta da escola vários cafés, tascas e restaurantes que os alunos frequentavam, e nunca vi os proprietários recusarem servir bebidas alcoólicas aos estudantes, mesmo os menores de 16 anos.
 
 
 
 
 

 

Poesia de Rita De Cássia Tiradentes Reis - Minha sina; Triste realidade; Tantos Sóis

 
Poesia de Rita De Cássia Tiradentes Reis - Minha sina; Triste realidade; Tantos Sóis
 
 
Minha sina
 
Na aspereza do quase e nunca ter
 A sina de quem tanto procurara
 A noite mais tranquila e mesmo clara
 Expondo-se aos anseios do prazer,

 
 Não pude receber do amanhecer
 A luz que tantas vezes se declara
 E a sorte se mostrando em corte e escara,
 O mundo desabando, eu pude ver.

 
Triste realidade
 
Joguete que esquecido nalgum canto,
 O velho coração se faz presente,
 Embora mal respire, ainda sente,
 No fundo um sinal de desencanto,

 
 E quando algum momento; em paz, garanto,
 Meu mundo se desdenha e impertinente,
 Não deixa que esperança vã fomente
 Vertendo o quanto resta em mágoa e pranto.

 
Tantos Sóis
 
Os raios que eu buscara em tantos sóis
 Esparsos pelas sendas mais nubladas
 Vagando por espúrias, vãs estradas,
 Sem ter qualquer noção de outros faróis.

 
 Mas quando calmamente reconstróis
 As sendas mais tranquilas, desejadas
 No quanto me redimes, tanto agradas
 Meus olhos te perseguem: girassóis.

 
 
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Poesia de Arlete Deretti Fernandes - Canção da Chuva (Solo) e Duo: Arlete Brasil Deretti Fernandes & Hildebrando Menezes

 
Poesia de Arlete Deretti Fernandes - Canção da Chuva (Solo) e Duo: Arlete Brasil Deretti Fernandes & Hildebrando Menezes

 

 
 Canção da chuva

Chuva benfazeja a escorrer pela vidraça,
 Sacia a sede da terra, momento de magia.
 Dança um tango na noite, pura fantasia,
 Junto aos fantasmas que a sombra cria.
 Pingos tamborilam no telhado, brincam e
 Cantam com a voz do vento esta melodia.

O colchão, é suave repouso de meu corpo
 Enquanto viajo no espaço, para além.
 Fixo o olhar a uma réstia de luz do poste
 Que desce qual jorro de uma ravina
 Que brota da entranha da terra e cresce,
 E se expande a beirar matas e colinas.
 

Duo: Arlete Brasil Deretti Fernandes & Hildebrando Menezes

Chuva benfazeja a escorrer pela vidraça,
 Sacia a sede da terra, momento de magia
 Alimenta o chão como o leite às crianças
 é à força da natureza quando ela procria

Dança um tango na noite, pura fantasia
 Emoldura quadros que a tudo encanta
 Seu poder transformador logo contagia
 São as lágrimas do céu que não se conta
 

 
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Poesia Por João Furtado - A vida é feita de enganos que nos enganam; Sonhos da Maria

 
Poesia Por João Furtado - A vida é feita de enganos que nos enganam; Sonhos da Maria
 
 
A vida é feita de enganos que nos enganam
 
 Vou mascarar-me de mim mesmo
 E com esta máscara tão minha
 Vou sair e me mostrar para toda a Ilha
 Mas de uma coisa muito temo....

 
Por de trás desta máscara irão me reconhecer
 E ao mundo mil vezes retratado
 Mas que importa... Sempre fui maltratado
 E as chagas criadas procurei sempre esquecer...

 
Sonhos da Maria
 
 Linda crioula de Santiago, a Maria
 Sem querer, teve uma febre de paixão
 Ela vendeu ao José o seu nobre coração
 E sem ele por perto, ela perdeu a alegria!

 
O José era emigrante e vivia na emigração
 Veio de férias e mostrou-se muito simpático
 E o coração da Maria nada prático
 Apaixonou loucamente e perdeu a razão!

 
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Poesia de José Manuel Veríssimo - DEIXA QUE CHORE; Diálogos do Amanhecer

 
Poesia de José Manuel Veríssimo - DEIXA QUE CHORE; Diálogos do Amanhecer
 
 
DEIXA QUE CHORE
 
Deixa que chore
Os ódios semeados
Que é preciso destruir
 As árvores guerreiras e carnívoras
 Onde corre a seiva de sangue humano

 Deixa que chore
 Este amor por explodir
 Encarcerado nas conveniências
 E todos os mestres crucificados
 Na voragem do quotidiano.

 Deixa que chore
 Esses ombros que faltam
 Dos amigos que o não são

 Deixa que chore
 
Diálogos do Amanhecer
 
 Pedem-me:
«Desenha a paisagem que habitas
 Uma carta urgente de ternura»

 
No início povoei o caos de esperanças
 Na solidão, teci telas de paisagens vossas

 
 Deslumbrei-me no mundo reflexo dos olhares
 
 Estabeleci a prioridade dos gestos/grinaldas
 Com flores entre os dedos
 Nadei entre perfumes e gestos

 
 Difícil escrever
 Com as mãos ocupadas
 Nos afagos
 Dos rostos murados de angústia

 Os meus olhos transmitiam manhãs de certezas
 
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Poesia de Pedro Du Bois - AMORES; INEXISTIR; MUDAR

 
Poesia de Pedro Du Bois - AMORES; INEXISTIR; MUDAR
 
 
AMORES
 
 O perfume do jasmim
 a cor da jabuticaba
 a palavra àspera na despedida.

 Os namoros breves
 em breves namoros

 
INEXISTIR
 
 A pedra
 em sedimentos
 petrifica
 a ideia
 da vida
 em movimento

 (rola pelas ribanceiras
 explode em dinamites)

 
MUDAR
 
 Busco a mudança
 no incógnito regresso
 ao ventre
 exijo outra
 nova
 repetida forma
 na deformação do corpo
 em desconhecimento

 
 
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P. S. Eu Te Amo - Cecelia Ahern - Texto remetido por Helena Emília Bortoloti

 
P. S. Eu Te Amo - Cecelia Ahern - Texto remetido por Helena Emília Bortoloti
 
O livro P. S. Eu Te Amo de Cecelia Ahern, nos conta a história de Holly. Holly viveu um verdadeiro conto de fadas ao lado de Gerry, seu marido. O relacionamento dos dois era praticamente perfeito e ele conhecia Holly como ninguém.
 
Até mesmo brigando, eles encontravam um motivo para se divertirem. Porém, Gerry acaba falecendo em decorrência de um tumor cerebral, deixando sua esposa completamente devastada.
 
Holly julga impossível encontrar a felicidade novamente. Mergulhada na melancolia, ela não encontra ânimo para nada, e vive enfurnada dentro de casa, cada vez mais depressiva e chorosa.
 
Perto do seu aniversário de 30 anos, ela recebe um pacote de cartas escritas por Gerry. Ao todo, são 12 correspondências, e cada uma delas deve ser aberta no dia 1º de cada mês, totalizando um ano.
 
Nas palavras de Gerry, ela encontra conforto, carinho e tudo o mais que precisava para seguir em frente. Holly conta também com o apoio infindável de seus amigos e da sua família atrapalhada, e descobre que ainda pode - e deve - ser feliz.
 
P. S. Eu Te Amo se iniciou de uma forma magistral, e com poucos capítulos lidos, eu já estava banhada em lágrimas. A dor de Holly é tão profunda e intensa, que acabou se tornando quase que palpável para mim. As cartas de Gerry para ela são lindas e emocionantes, e provam que o amor é realmente o sentimento mais belo e imortal da face da Terra.
 
Bom, o livro tinha todos os ingredientes para ser perfeito, como puderam notar, mas o deslize cometido no final pela autora, fez com que a história perdesse muito do seu encanto.
 
 
 
 

 

O XV de Piracicaba - Relato de Antônio Carlos Affonso dos Santos (Acas)

 
O XV de Piracicaba - Relato de Antônio Carlos Affonso dos Santos (Acas)
 
Prólogo do ACAS

Embora o desejo desse autor (ACAS) fosse mostrar apenas o curioso hino caipira do time do XV de Novembro de Piracicaba, mais conhecido como «Nhô Quim», divido com a jornalista Ana Marly Jacobino seu texto precioso, publicado na «Agenda Cultural Piracicabana», em 02 de maio de 2009, mostrando o Hino Oficial (em Português culto e o Hino preferido por 9 entre 10 torcedores do XV: o Hino caipira!)

A cidade de Piracicaba era e é, berço de grandes jogadores de futebol e de basquete, principalmente aquele memorável time feminino, onde jogava a Magic Paula, num time patrocinado por uma empresa de saúde e pela Escola Superior Luiz de Queirós, faculdade piracicabana padrão de agronomia.
 
Também foi lá que o grande jogador de futebol, Dema, revelado pelo Ypiranga de São Paulo; que passou pelo Palmeiras e seleção brasileira (lateral esquerdo, apesar de destro), que era primo do meu cunhado Ferrari (com o qual jogou pelo Ypiranga).
 
Dema encerrou sua carreira no XV de Piracicaba, tornando-se depois treinador. Residia há muito em Piracicaba. Faleceu já há alguns anos, assim como meu cunhado Ferrari.
 
Devo lembrar aos leitores que tenho um carinho especial por Piracicaba, onde, de vez em quando (e quando posso - $$$$), vou com minha esposa à Rua do Porto, comer um peixe assado na grelha; maravilha que todos deveriam conhecer.
 
Também foi em Piracicaba que meu primeiro livro o «Pequeno Dicionário de Caipirês» foi colocado à venda, no Shopping da cidade.
 
Piracicaba também é a casa do Antônio Cecílio, velho amigo virtual, jornalista de Piracicaba, que comigo e tantos outros, colabora com um jornal virtual de Portugal.
 
Piracicaba é também berço do «Salão de Humor»; evento único, de categoria internacional, onde estive em visita por três vezes.
 
 
 
 

 
 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Jornal Raizonline nº 210 de 18 de Fevereiro de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXI)- A permuta de ilusões

 
Jornal Raizonline nº 210 de 18 de Fevereiro de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXI)- A permuta de ilusões
 
Os portugueses são conhecidos em Portugal através de um chavão secular que se tem mantido contra todos os ventos, todos os adamastores e todas as marés: de uma forma geral não acreditam no seu país, diz-se e quando as coisas correm menos bem passam pura e simplesmente as fronteiras e vão para um outro país onde, alegadamente, as condições são melhores. Aliás são sempre melhores mesmo que sejam piores, no seu sentido mais profundo, porque são diferentes.
 
Antero de Quental, a quem tomo a liberdade de pedir emprestadas estas palavras que se seguem dizia:
«O que realmente fomos; nulos, graças à monarquia aristocrática!
 Essa monarquia, acostumando o povo a servir, habituando-o à inércia de quem espera tudo de cima, obliterou o sentimento instintivo da liberdade, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa; quando mais tarde lhe deram a liberdade, não a compreendeu; ainda hoje a não compreende, nem sabe usar dela.
As revoluções podem chamar por ele, sacudi-lo com força: continua dormindo sempre o seu sono secular!» (in Causas da Decadência dos Povos Peninsulares , III)
 
O português, nas palavras de Jaime Cortesão, quando se trata de erguer o seu país revela uma enorme indolência. «O nosso grande mal é uma doença da vontade cujos sintomas se chamam o desalento, o pessimismo, o abandono fatalista, uma inerte cobardia e a falta de confiança no esforço próprio» (cf. J.C., Da Renascença Portuguesa e seus Intuitos, A Aguia. 1912 ).
 
Ainda, e continuando esta saga de depressivas citações: «Os portugueses sempre procuraram fora do seu país a solução para os seus problemas internos. Como notou António José Saraiva, em vez de se empenharem em desenvolver Portugal, preferiram investir em expedições, conquistas além-mar ou mesmo na emigração. Ora, à medida que prosseguiram nesta prática foram-se tornando cada vez mais pobres e dependentes do exterior.» Carlos Fontes In Lusotopia.
 
 
 
 

 

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLV - Por Daniel Teixeira - As diferenças da vida

 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLV - Por Daniel Teixeira - As diferenças da vida
 
Conforme tem sido notório aquilo que me tem interessado neste conjunto de crónicas e de uma forma geral noutros locais e formas onde intervenho, seja sobre a forma de crónica ou simples conversa, mesmo escrita que seja, o que me interessa, repito, é a história contada e feita pelas gentes.
 
A parte edificada, monumental, de arquivo secular, tem o seu interesse para buscar pontos de referência mas para mim o seu interesse remete-se a isso mesmo, à mera referência, ao apoio ou comparação através do escrito daquilo que é dito e sabendo-se que quem conta um conto acrescente um ponto, serve também para ajustar esses desvios quase naturais.

Cada pessoa tem (ou pode ter) a sua forma de ouvir e depois de contar e uma das minhas preocupações tem sido sempre analisar a divergência entre a «realidade» escrita e a realidade contada, tendo também presente que a realidade escrita contém já em si ou pode conter uma parte de imaginado ou de irrealidade.

Neste diferencial, entre aquilo que terá eventualmente acontecido e aquilo que é contado anos depois e por pessoas diferentes e que normalmente não é considerado científico, existe uma riqueza no imaginado ou na fidelidade que corresponde em grande parte ao desejado, ou seja, corresponde a uma posição ética sobre a realidade.

Eu explico melhor: a aceitação de uma história tal como ela aconteceu (ou terá acontecido) é sinónimo de aprovação dessa realidade, a desaprovação pelo menos parcial leva ao imaginado, à ficção.

Será sempre difícil, senão impossível, aquilatar da existência ou não desse diferencial memorial, do seu volume, das suas características, dos desvios mais prováveis, enfim, é «trabalhar» mesmo numa corda bamba, mas é um trabalho interessantíssimo que nos diz muito sobre a psicologia colectiva.
 
 
 
 

 

Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - Verdade e sabedoria - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL

 
Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - Verdade e sabedoria - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL
 
é inegável que a verdade única, imponderável e suprema está além de tudo o que é humanamente concebível. Essa verdade é a própria existência de toda a Criação; portanto, é a razão de ser de tudo que foi criado e, como verdade suprema, é o pensamento universal de Deus, plasmado ou a plasmar-se em todos os fragmentos de existência que, em corpos cósmicos ou microcósmicos, existam ou devam existir.
 
Dessa verdade suprema e imensurável se desprende um grande número de verdades, como grande é o número de conhecimentos que se desprendem da Sabedoria. As verdades desprendidas da verdade suprema ou grande verdade têm por finalidade, no caso do homem, iluminá-lo no caminho de sua realização humana.
 
Como a verdade se projeta diretamente sobre a vida do homem e do mundo em que vive, ele deve descobri-la aqui, ali e em todas as partes onde ela lhe ofereça uma oportunidade de ser percebida, a fim de senti-la e vivê-la. Porém, sem a menor sombra de dúvida, uma coisa é certa: devemos nos vincular à verdade como nos vinculamos a uma família, pois dessa vinculação nascerá o conhecimento da mesma.
 
O homem pode se acercar da verdade vinculando-se às demais verdades desprendidas dela, começando pelas mais acessíveis à sua inteligência. Da vinculação alcançada com cada uma delas surgirá nele um grau maior de consciência, já que haverá conhecido algo que antes permanecia alheio a essa consciência.