sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XL - Por Daniel Teixeira - Sem quase nada para dizer mas não está tudo dito

 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XL - Por Daniel Teixeira - Sem quase nada para dizer mas não está tudo dito

Já há algumas semanas que não preencho esta crónica que é um campo que me é bastante grato e compensador em termos memoriais. Lembro-me de muita coisa mais, mas algumas dessas coisas, sobretudo as que relatam episódios pouco elogiosos para terceiros têm mesmo de ficar na gaveta.
Não me sinto à vontade por vezes para ir além do politicamente correcto, mesmo que as personagens sejam camufladas por iniciais, mas há algumas histórias que não entrando num campo muito complexo em termos de memória dos falecidos acabam por aparecer-me como inofensivas em termos de acontecimento.

Por vezes, como será o caso nesta, têm aquele ridículo são, que vistas bem as coisas até podem ser encaradas no plano da falta de vocação para fazer ou não fazer dadas coisas, sendo certo que esta pessoa de que vou falar era um trabalhador exímio e esforçado na sua agricultura e bem sucedido em termos de posses.

Mas houve uma altura em que as coisas ainda não lhe corriam muito bem e candidatou-se a fazer sortidas com o meu avô e seus companheiros na tarefa do contrabando para Espanha.
Já aqui disse que não se deve confundir o contrabando daqueles tempos com o outro, mais modernizado e em grosso, realizado sobretudo em portos ou em praias, que esse sim acabou por construir e consolidar algumas estruturas marginais que acabaram posteriormente por enveredar pela passagem de droga já nos anos 70/80.

A tentação do «muito dinheiro» foi demasiado forte para alguns e até certa altura no decorrer dos anos honestos pescadores foram tentados nessas operações. O contrabando do meu avô era de produtos alimentares, ovos, por exemplo, que faltavam em Espanha, petróleo que faltava cá, fósforos, não sei de de lá para cá ou vice versa e era praticamente uma troca fronteiriça com um lucro verdadeiramente reduzido mas que tapava os buracos dos rendimentos sazonais.

Faltará um dia fazer um balanço que pode ser embaraçador mas que em termos sociais teve o seu papel numa altura em que a escassez, resultado da guerra civil e não só, assolava a Espanha e no papel que este contrabando terá tido no relacionamento entre populações raianas e a meu ver de relativa pouca importância em termos tributários.
 
 
 
 
 

 

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