O DIA DOS ENTERROS - Conto de João Furtado
Recebi com consternação a notícia. Convivemos com a morte desde que nascemos, mais jamais nos habituamos com ela. Principalmente se conhecemos a pessoa que morreu, como era o caso.
A Didinha era minha amiga e prima afastada da minha mulher. Mas era prima e graças a Deus somos um povo muito ligados por laços parentescos. Não creio que exista outro povo que tenha uma família tão grande como a nossa. A Didinha era minha prima, casei com prima dela.
Iria para sua última morada as quinze horas. Era esta a informação que chegara até mim. Não podia faltar a cerimónia. Teria que a acompanhar. Ela jamais me perdoaria.
A Didinha morava na Achada Trás e eu em Lém Ferreira. O Enterro teria que forçosamente passar por Lém Ferreira. Iria esperar na estrada, pelo cortejo. Por enquanto temos apenas um Cemitério na Cidade da Praia. Está constantemente a romper pelas costuras. Já foi várias vezes estendido. Os serviços camarários sabem que a Cidade esta a pedir outro Cemitério, mas ninguém tem coragem de mandar construir outro. Todos têm a certeza inabalável que seriam o primeiro cliente da nova casa. Se é verdade que a morte é certa, também é verdade que ninguém a deseja por esposa.
A Didinha era negra e bela. Somos um povo mestiço. A nossa cor adivinha sempre uma mistura. Mesmo nos mais negros adivinham-se sempre uma certa mestiçagem. Mas na Didinha era difícil ver nela mais que a beleza da pura raça negra, nem precisava pintar os lábios, pareciam pintados de verniz preto, de tão negro que era.
Iria para sua última morada as quinze horas. Era esta a informação que chegara até mim. Não podia faltar a cerimónia. Teria que a acompanhar. Ela jamais me perdoaria.
A Didinha morava na Achada Trás e eu em Lém Ferreira. O Enterro teria que forçosamente passar por Lém Ferreira. Iria esperar na estrada, pelo cortejo. Por enquanto temos apenas um Cemitério na Cidade da Praia. Está constantemente a romper pelas costuras. Já foi várias vezes estendido. Os serviços camarários sabem que a Cidade esta a pedir outro Cemitério, mas ninguém tem coragem de mandar construir outro. Todos têm a certeza inabalável que seriam o primeiro cliente da nova casa. Se é verdade que a morte é certa, também é verdade que ninguém a deseja por esposa.
A Didinha era negra e bela. Somos um povo mestiço. A nossa cor adivinha sempre uma mistura. Mesmo nos mais negros adivinham-se sempre uma certa mestiçagem. Mas na Didinha era difícil ver nela mais que a beleza da pura raça negra, nem precisava pintar os lábios, pareciam pintados de verniz preto, de tão negro que era.
Nenhum olhar masculino era inocente quando o alvo era a Didinha. Ninguém resistia aquela beleza selvagem. E vê-la andar… Era dengosa e a sua curva saliente, formada por contraste de seu volumoso e arredondada coxa e fina cintura, cadenciava no movimento rítmico do esquerda, direita ao som do batuque inexistente… Não deixava nenhum ser humano de sexo masculino indiferente.
Não vou falar do rosto angelical dela. Se anjo negro existisse, os escultores inspirariam na Didinha para as esculturas, mas não existiram, hoje ela vai ser enterrada e muito provavelmente toda a beleza dela irá terminar debaixo de um palmo e meio de terra.
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