sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A IDADE DO OURO (L'Age d'Or, de Luis Buñuel, FRA, 1930) - Cinema de poesia e máquina do surreal

 
A IDADE DO OURO (L'Age d'Or, de Luis Buñuel, FRA, 1930) - Cinema de poesia e máquina do surreal
 
Realizado dois anos após seu primeiro filme Um Cão Andaluz (1928), A Idade do Ouro radicaliza aquilo que eclodiu como preocupação inicial do cineasta espanhol Luis Buñuel, em parceria com o artista Salvador Dali: o cinema como instrumento de poesia e máquina do surreal. A poética de Buñuel escapa do mimetismo e da representação fiel de um estado de coisas e opera imagens desejantes, polissémicas, provocadoras.

Não quer dizer que tal profusão de signos e embaralhamento de sentidos levam à compreensão de Buñuel apenas como «cineasta surrealista». Se por um lado Um Cão Andaluz e A Idade do Ouro passam a ser considerados marcos do surrealismo no cinema por apresentar elementos como a não - linearidade, o humor negro, o bizarro, a provocação ao clero e à burguesia, por outro lado, Buñuel apropriava-se do surreal como algo a serviço da realidade concreta. E é como se o próprio olhar do cineasta desdobrasse o mundo em sua dimensão caótica.
 
Por isso mesmo que encontramos tanta vitalidade nos desconexos planos de A Idade do Ouro: marcados pela incompletude, eles são atravessados por alegorias que dimensionam o compromisso de Buñuel em se posicionar contra a representação das instituições. Todo o poder exercido pela religião, pela família, pela política e pela sociedade em geral se dessacraliza.

Inicialmente, acompanhamos uma sequência de planos convencionais que desdobra um «despretensioso» documentário sobre escorpiões. Em seguida, bandidos fracos e armados caminham entre penhascos pedregosos, onde arcebispos se transformam em esqueletos. Uma caravana de padres, militares, freiras, chega para fundar a Roma imperial, mas a cerimónia é interrompida pelos gritos de uma mulher em luta amorosa com um homem.
 
 
 
 
 

 

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