Poemas de Ilona Bastos - SINO SONANTE; TEJO; Conchas e Mundos
SINO SONANTE
(tão longe, tão perto)
Mais sentido faz do que tudo o resto
O soar tão próximo do sino distante
Em badalar sonante lá no campanário.
O soar tão próximo do sino distante
Em badalar sonante lá no campanário.
Condiz o seu som com o azul do céu
Tão longe, tão longe, tão perto, tão perto,
Com o cantar das aves tão atarefadas
A esvoaçar por entre as ramagens,
Com o soprar do vento tão alvoroçado
Fluindo ligeiro pelas verdes copas,
Com o dançar das águas tão agradecidas
Em ondas brilhantes que alegram o lago.
Tão longe, tão longe, tão perto, tão perto,
Com o cantar das aves tão atarefadas
A esvoaçar por entre as ramagens,
Com o soprar do vento tão alvoroçado
Fluindo ligeiro pelas verdes copas,
Com o dançar das águas tão agradecidas
Em ondas brilhantes que alegram o lago.
TEJO
Lindo, largo, ledo Tejo,
pelo estuário avanças, magnífico!
pelo estuário avanças, magnífico!
Não desces, lânguido e mortiço
arroio que à foz se escoa vindo morrer...
arroio que à foz se escoa vindo morrer...
Impetuoso invades, com vigor e sal,
em ondas que as margens tocam, vencedoras.
em ondas que as margens tocam, vencedoras.
De luz, golfinhos e aventuras brindas,
profundo, áureo, valoroso, forte,
profundo, áureo, valoroso, forte,
Lisboa, nívea princesa, cidade amada.
és guardião fiel de garças, andorinhas,
alfaiates, cegonhas e suas crias.
Das aves, carinhoso poiso e recanto amigo.
alfaiates, cegonhas e suas crias.
Das aves, carinhoso poiso e recanto amigo.
Conchas e Mundos
Disse:
«Sim, gostaria de ser encontrada, como uma concha finamente trabalhada, à beira-mar, com o brilho que a água lhe confere e o encanto próprio da areia onde se deita.
«Gostaria que sobre mim se debruçassem – olhos de criança, abertos, espantados –, e se dessem ao trabalho de me apanhar cuidadosamente, como quem pega numa pérola muito pequenina, frágil e valiosa, que se não pode perder.
«Gostaria que me guardassem com alegria e me mostrassem aos outros. «Vejam, vejam que conchinha linda eu encontrei!».
«Mas o mundo real não existe para as conchinhas. Para elas, só funcionam esse espaço e esse tempo especiais, um mundo de fantasia, infantil, cuidadoso nos pormenores e na beleza do detalhe. Tanto que, trazidas para casa, as conchas perdem o brilho, tornam-se baças, mostram as suas imperfeições e acabam no cesto dos papéis ou no fundo de alguma gaveta, desprezadas. Em boa verdade, logo que afastadas da praia, a luz que irradiavam se desvanece.»
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