A barbearia... - Contado Por Irene Fernandes Abreu - Macau - China - Blogue Valium50
O ti Francisco chegara cedo à barbearia como sempre fizera desde há trinta anos. Devagar, limpa as bancadas que já tinham sido limpas na véspera, troca as tesouras e pentes, lava as mãos, muda o lugar dos champôs e das lacas nos armários, dobra e desdobra as toalhas, lava as mãos outra vez.
Não quer que as pessoas que passam e olhem para dentro da barbearia o vejam inactivo, desesperado, sem clientes e já sem esperança que venham dias melhores.
Por isso não pára e anda de um lado para o outro a fingir que arruma coisas, vai mudando de lugar aos frascos de perfumes, secadores, os pincéis da barba…
Há trinta anos que é dono daquela barbearia e nunca tinha tido uma semana assim, nem um único cliente! Nenhum rapaz a quem rapar o cabelo, nenhum velho que queira fazer a barba. Nenhum careca de óculos à procura de uma boa conversa sobre futebol, nada!
Passadas duas horas, não sabe o que fazer, já desarrumou e arrumou tudo, limpou todos os espelhos, esfregou todas as torneiras e varreu o chão pela décima vez e agora sente-se cansado. Doem-lhe as pernas, as costas, a cabeça…
Parado, de barbearia vazia, o ti Francisco olha as pessoas lá fora que se movimentam apressadas sem deitar um único olhar à barbearia.
Senta-se na primeira cadeira virada para o espelho e fecha os olhos. Lá fora, há demasiados barulhos de rua; automóveis, obras, pessoas… e pensa que é um homem só, que dormita no seu próprio fracasso. Culpa sua? Talvez… deveria ter mudado de ramo quando o fazer barbas começaram a rarear e muitos dos seus clientes começaram a preferir os novos salões de cabeleireiro, com as bonitas manicuras que se tornaram um chamariz…
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