terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Jornal Raizonline nº 261 de 10 de Dezembro de 2014 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Os anos da miséria


Jornal Raizonline nº 261 de  10 de Dezembro de 2014 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Os anos da miséria

Viver em Portugal nunca foi fácil: basta ler alguns dos nossos clássicos, descontando aqueles que fizeram apologias em curtos períodos da nossa história, para ficarmos certos que umas vezes com razão outras sem muita razão, rara é a perspectiva positiva sobre o ser-se português em Portugal.

Camilo Castelo Branco, numa resenha crítica que faz sobre Camões, diz com o sentido de humor corrosivo que se lhe reconhece, que não se quer, na nossa literatura, um Camões sorridente, feliz, quer-se um Camões torturado pela desgraça, um sofredor.

Em certo sentido, com mais humor ou menos humor, uma parte substancial - bem substancial frise-se - da nossa história retém, preferentemente, as partes «choramingas» e com raras excepções o português pela-se por uma boa angústia que venha antes ou após o jantar.

Em rigor pode dizer-se que o português médio (de uma média transversal numérica e de classe) fica feliz apenas quando refere uma forma da desgraça do seu ser português em Portugal. António Gedeão (salvo erro) diz num dos seus poemas que «não é impunemente que se nasce em Portugal». Ou seja, tem de se pagar um preço e para os mais pessimistas o total a pagar nunca se acaba.

Estamos no período de Natal e nesta altura, quando tal é possível por ainda existir margem - o tal referido português das duas médias acima referidas - fica ainda mais triste. Dentro da sua tristeza intrínseca quase permanente junta-se a tristeza que vem do calendário. Uma e outra formam um todo avassalador, nalguns casos.

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domingo, 7 de dezembro de 2014

Poesia de Pedro Du Bois - Heróis; Trair; Viver


Poesia de Pedro Du Bois - Heróis; Trair; Viver

 

 

 Heróis

 

 No tempo vive segundos
 de glória. O restante da façanha
 conta em casa e no bar
da esquina: focalizado
 no instante do espetáculo.

 Sorri o estado calamitoso
 das essências: não é
 o mesmo.

 Nos estertores da glória
 restam resquícios de histórias.

 (Pedro Du Bois, inédito)






Poesia de Virgínia Teixeira - Uns e outros; Inverno; Menina, Mulher, Mãe, Companheira


Poesia de Virgínia Teixeira - Uns e outros; Inverno; Menina, Mulher, Mãe, Companheira



 
Uns e outros



Para uns o fado é a tristeza
Arrastam consigo o sofrimento e a saudade
 Outros caminham pela Vida com leveza
E despedem-se sem lágrimas nem contrariedade

Uns carregam no peito as lágrimas de uma vida
E trazem o olhar húmido de melancolia
Outros trazem no peito uma alegria incontida
E no olhar um sorriso sem hipocrisia

Uns passam pelos dias sem nada vislumbrar
Outros abraçam a Vida com alegria
Uns tornam-se cegos pela cortina de lágrimas no olhar

Outros caminham como quem dança
Mas uns e outros são irmãos no dia da morte
Cadáveres apenas, qualquer que tenha sido a sua sorte.


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Ao Domingo Há Música - Carlos do Carmo


Ao Domingo Há Música - Carlos do Carmo

in Blogue Livres Pensantes


No dia em que Carlos do Carmo recebeu o Grammy «Lifetime Achievement Award», foi-lhe prestada uma homenagem pela Rádio Comercial com trinta e cinco artistas a cantar «Lisboa Menina e Moça». Um fado que se tornou um tema emblemático de Lisboa, do Fado e da carreira de Carlos do Carmo com poema de José Carlos Ary dos Santos, Joaquim Pessoa e Fernando Tordo e música de Paulo de Carvalho.

Foi com «grande emoção e imensa surpresa que Carlos do Carmo recebeu a notícia de ter sido escolhido para o prémio: «tive conhecimento do prémio através de um telefonema do presidente da Academia, que me ligou para casa. Tenho de confessar que durante os primeiros cinco ou dez minutos pensei que fosse uma brincadeira, até porque há aí uma rapaziada do stand up com uma graça incrível, que faz umas imitações bestiais e eu estava desconfiado».

E foi com um «e viva Portugal!», que Carlos do Carmo terminou o discurso de agradecimento na cerimónia de entrega do Grammy Latino de Carreira, que decorreu na quarta-feira, 19 de Novembro, no Hollywood MGM Theatre, em Las Vegas, nos Estados Unidos.

 O «Board of Trustees» da Latin Academy of Recording Arts and Sciences decidiu, por unanimidade, atribuir a Carlos do Carmo o «Lifetime Achievement Award», galardão que distingue a obra das grandes referências do panorama musical internacional», segundo comunicado da academia.


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sábado, 6 de dezembro de 2014

O preço dos figos - Conto de Daniel Teixeira


O preço dos figos - Conto de Daniel Teixeira

 De calças compridas dali onde estava, eu nada percebia no seu corpo levantando-se e baixando-se sob uma figueira. De costas abaixadas aqui rente ao chão, a pessoa que eu via logo levantava o dorso mais além num emaranhado de ramos e ramagem onde despontavam pequenos pontos arroxeados.

Virou-se então um pouco e ainda ao longe na minha direcção e eu, incerto, penso ter divisado um volume de seios. Talvez fosse uma mulher que colhia figos e que olhava de quando em vez em redor de si e das figueiras como se estivesse receosa. E devia estar, pensei eu.

 As figueiras que pontuavam pelo pequeno monte não eram daquela pessoa, isso eu sabia e talvez fossem - e isso eu não sabia bem - de um homem de meia idade parecendo um pouco sujo e de barba salteada que por ali cirandava de quando em vez com um feltro escuro na cabeça e um colete sobre a camisa.

 E então a pessoa que apanhava figos deslocou-se para uma outra árvore que estava mais perto do local onde eu observava e eu então vi perfeitamente que se tratava de uma mulher de cabelo enrolado em quase carrapito e um chapéu de palha que me pareceu desfiado nos bordos que transportava duas largas cestas de verga.

Eu não tinha nada a ver com isso, quer dizer, nada tinha a ver com os figos e eles eram tantos ao longo das figueiras na pequena encosta que mesmo que estivessem a ser roubados pouca diferença fariam ao homem um pouco sujo do colete e do chapéu de feltro, se ele fosse mesmo o dono das árvores o que eu não sabia.


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A visita do Tio João - Conto de João Furtado


A visita do Tio João - Conto de João Furtado

A única riqueza que lhe restava era a vida. Com setenta e poucos anos parecia ter mais de oitenta. Todo curvo e cheio de reumatismo.

Os amigos foram se escasseando, os mais novos ocupados com a vida e os mais velhos iam aos poucos para a verdadeira morada. Os vizinhos iam se trocando e os novos inquilinos vieram vacinados e imunes do conhecido e tradicionais «olá», «bom dia», «boa tarde» ou «até amanha, se Deus quiser». As famílias? Também foram vacinados, estamos no mundo das vacinas e das imunidades.

Ele comprou um apartamento onde morava com a mulher e dois filhos, em Carnaxide, não muito longe de Lisboa. Os filhos com a febre da emigração e a falta de trabalho digno emigraram. Foram para a França.

Certo dia a mulher adoeceu e ele fez tudo para que ela se curasse, mas o câncer foi mais forte. Dois anos depois e com muita dor e sofrimento ela recebeu a visita do Senhor e teve a Paz da Alma. Foi um alívio, para ela que tanto sofria e para ele que não sofria menos vendo sua amada a sofrer.

A partir daquele dia o céu apareceu mais cinzento, o sorriso menos alegre e o andar mais cansado. Recolheu-se a casa e só saia para ir a mercearia. Falava com o dono da mercearia, quem lhe dava algumas vezes fiado e ele pagava quando recebia a pensão. Depois de algum tempo só o merceeiro sabia que ele era o Tio João. O Tio João era cada vez mais uma sombra ambulante.

Certa noite, depois de passar por mercearia e saldar todas as suas dívidas foi para o seu apartamento descansar. Era o que fazia diariamente. Descansava enquanto a cidade continuava a viver acordada dia e noite. Naquele dia não foi a excepção. Lá fora continuava a vida, carros a passarem, mulheres e homens a falarem dos seus problemas, jovens a namorarem, prostitutas e prostitutos a prostituírem… Enfim o normal do dia-a-dia.


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Coluna de Liliana Josué - Conto - QUANDO AS FOLHAS CAEM


Coluna de Liliana Josué - Conto - QUANDO AS FOLHAS CAEM 

O velho Manuel era um homem alto e pesado; olhos pequenos, ligeiramente rasgados e brilhantes, de tom pardo e vivos como os de uma criança.

Os cabelos brancos ainda se mostravam um tanto vaidosos do seu vigor, emoldurando graciosamente as aquelas faces bordadas de rugas.

 Suas mãos eram mapas de gelhas, salpicadas de largas sardas acastanhadas mas ainda com alguma destreza. As pernas é que já não tinham a agilidade de antigamente e os pés arrastavam ligeiramente pelo chão.

No entanto, o seu porte era ainda contornado de certa virilidade.

 Cansado de olhar as grandes vespas do jornal, pois a vista para pouco mais dava, levantou-se do puído sofá, outrora verde, adornado de outonais folhas castanhas, saindo em direcção ao jardim perto de sua casa.

 Enquanto caminhava lentamente, nesse fim de tarde, ouvia os pássaros num cântico murmurado de saudade pelos apetecidos dias de verão.

 Manuel sentou-se num banco de madeira pintado de verde, debaixo de uma grande amoreira. As folhas fustigadas por ligeira aragem, cantarolavam nostálgicas melodias de despedida, e num recato de fim de tempo caíam uma a uma, no seu amarelo envelhecer, enquanto se ofereciam dóceis , em tapetes macios, aos pés daquele homem.

 Na relva verdejante, bandos de crianças corriam e gritavam, como pássaros acabados de aprender a voar, no seu entusiasmo de brincadeiras que só a elas diziam respeito.




Banda «Os Magnatas» - L'amour Enterdit. - Por Se-Gyn


Banda «Os Magnatas» - L'amour Enterdit. - Por Se-Gyn 

 Andei publicando uns textos com o título de «Standards - as músicas que me balançam», falando de músicas que ouvi e, que por algum motivo ou outro, me impressionaram e guardei na memória. No último texto, fazendo um comentário da música «Je t'aime... moi non plus», fiz referência à banda de baile que existia em Turvânia / GO, que existiu até o começo dos anos 90.

«Os Magnatas» eram remanescentes de uma época em que toda cidade tinha lá a sua banda de baile - febre que começou lá pelos anos 60 e que só acabou com a chegada da animação de festas com som mecânico e, depois, o aparecimento da figura dos DJs e, enfim, o chamado «som automotivo».

Na última e mais duradoura formação, a banda tinha Braizão no baixo, Pelé nas guitarras, Paulão nos teclados, Tonho Baguá na bateria, todos egressos de outras bandas e histórias de vida.

 Pelé, veio de longe - havia uma lenda em torno de uma suposta participação sua na banda RC-9, antes de começar a ter problemas com o alcoolismo. Braizão andou longe, mas era da cidade. Tonho Doideira, era de Rio Verde/GO. E Paulão, se não me engano, também tinha nascido na cidade.

 Quando criança, eu e a turma gostávamos de passar na casa do Braz, voltando do banho no ribeirão dos Moleques, para ver os ensaios. Sempre estavam lá, no meio de um enrosco medonho de fios e tomadas, ensaiando música nova - ou velha (para corrigir certas mancadas, das quais vou falar daqui um pouquinho), entrementes os choques que levavam, tentando regular os amplificadores valvulados.



Natal - Texto de Maria Alvaro


Natal - Texto de Maria Alvaro

 Aí está vindo ele na sua longa viagem do Pólo Norte!!!...

Os Shoppings e as lojas de rua já estão engalanados, prontos para o receberem e lhe venderem os presentes que ele irá distribuir pelos que se governam na Vida muito bem... ou um pouco menos bem...mas que se governam, de alguma maneira...

Haja parangonas, árvores de luzes tremeluzentes e coloridas, enfeites variados de cor vermelha, branca, dourada ou prateada! Haja bacalhau e/ou peru! Não podem faltar o arroz, as passas e as lentilhas (para dar sorte!), empanadilhas e fatias douradas, vinhos, champanhes e todos os tipos de manjares dos céus! Haja azevinho!

Haja presépio, que o Menino Jesus já vai estranhando tanta árvore em sua substituição!...Haja música.. nas casas e nas ruas repletas de enfeites luminosos!

Haja Festa! E, sobretudo, haja familiares que estejam amistosos e bem humorados! Sim, porque este é um período propício a explosões depressivas em muita gente!....
 Ah, a festa da Família!!! O tradicional ritual religioso que é suposto comemorar o nascimento de Jesus, mas que, no entanto, hoje, responde, sobretudo, aos insistentes apelos do mercado, representando, na maioria dos lares ocidentais, pouco mais do que uma excitante troca de compras bem pagas, que o Papai Noel/Pai Natal, já cansado de tão longa jornada, delega confiante nas mãos dos familiares.

Estes os depositam charmosamente na base das árvores de Natal e, depois de uma ceia bem degustada e devidamente regada pelo néctar de Baco, passam a proceder à entrega dos lindos pacotes, que repousaram, até então, ansiosos pela chegada às mãos de seus destinatários.


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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Prosa Poética de Maria Petronilho - Olhinhos de água


Prosa Poética de Maria Petronilho - Olhinhos de água



A nuvem menina, que se condensara na fria alvorada, abriu os olhos de água e espreguiçou-se em respingos de alegria, fazendo brilhar arcos íris cada vez que um raio de sol nascente lhe tocava.

 Arremessou a capa branca de algodão e debruçou-se curiosa, lá do alto.

 Viu o chão cinzento e negro, até onde a vista alcançava.

 Boiava num azul límpido e fundo.

 Achou estranho o contraste entre a alegria lá no alto e a tristeza que avistara ao longe.

 Um menino muito loiro espreitava no horizonte, sacudindo a cabeleira fulgente, e ria, ria… a desafiá-la para brincar.

 Mas de cada vez que se aproximava, a nuvenzinha ia ficando mais pequena.

 Lembrou-se da escuridão que vira e sentiu muita pena.

 Chegou-se mais perto do chão, onde galhos moribundos lhe estendiam os braços, talos amarelos em clareiras na calvície tostada, espinhos…




Preferências vocabulares - Por Arlete Deretti Fernandes


Preferências vocabulares - Por Arlete Deretti Fernandes 

 Fato provado é que falando ou escrevendo deixamos transparecer a nossa preferência para certos vocábulos ou torneios de expressão.

Afirmou o cronista Francisco Pati no antigo CORREIO PAULISTANO, que «quando se escolhe a obra completa de um escritor para uma romaria às regiões do estilo, acabamos descobrindo predileções vocabulares que constituem ou acabam constituindo verdadeiros «cacoetes».

O jornalista estava a ler «OS POBRES» do grande escritor português Raul Brandão e achou-lhe uma elegante preferência pela palavra dedada, citando alguns exemplos que aqui escrevo:

Ao descrever um banco de hospital, diz que há nele «nódoas de sangue, dedadas de aflição e suor de desgraçados que se entranhou na madeira».

Outra questão: «De que ruínas se constroem estes seres que o destino marcou com dedadas trágicas?».

Mais este: «Só a morte ainda restava intata, sem dedadas na sua roupagem negra, com todo o seu mistério e toda a sua beleza».

O próprio Pati disse o porque da preferência: «A predileção explica-se pela sua arte de escultor. Raul Brandão vive, com efeito, a dar dedadas nos seus personagens, para acentuar-lhes a expressão das respectivas máscaras.»

Quem ouviu ou leu Dom Aquino Correia percebeu logo a sua preferência para certos modos de dizer que bem o caracterizavam dentre os demais escritores ou oradores. Eram muito frequentes nele, por exemplo, os ...que se me dá, os dir-se-ia, os em meio a, os em flor e outros.



 

Poesia de Ivone Boechat - Natal; Ceia de Natal; As velas do Natal


Poesia de Ivone Boechat - Natal; Ceia de Natal; As velas do Natal

 

Natal



No dia do Natal
 tudo amanhece
 exatamente igual;
 o céu espera
 que você acorde
 muito diferente;
 isto você alcança,
 sendo o maior símbolo
 de mudança:
 sendo luz,
 com o propósito
 de viver daqui pra frente
 de maneira tal
 que ao olharem pra você
 as pessoas se lembrem de Jesus.

(Amanhecer 4ª.edição)


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Poesia de José Carlos Moutinho - Navego em mim; Versos sem sentido; Anseios


Poesia de José Carlos Moutinho - Navego em mim; Versos sem sentido; Anseios

 

 Navego em mim

 

 São sombras, são murmúrios
 que me invadem o sentir
 num silêncio doce de afago,
 abraçam-me na minha solidão
 e aconchegam-se na minha alma!

Calam fundo as minhas palavras,
aquelas palavras esmorecidas
 pelas tardes vazias da minha vida,
 que perderam a voz da serenidade
 e se tumultuam em inquietudes,
 que só os luares dos meus anseios
 iludem com a utopia das estrelas!

Alvoradas das minhas Primaveras
 nascem pálidas, cansadas, sem sol,
 turvadas pela luz diáfana das quimeras,
 perdem-se nas maresias sem farol!

Navego em mim pelas veias do meu rio,
 fluxos vermelhos da minha essência,
 por vezes cálido, outros com muito frio,
 sou tenaz timoneiro da minha existência,
 desistir é fraqueza, continuar é desafio,
 encontrarei o remanso da minha resiliência

José Carlos Moutinho


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Poesia de José Manuel Veríssimo - Trazido pelo Mar - ou para alguém que chegou a ser muito especial; Razões; Lá do Oceano Indico ou Sobre uma noite na Internet


Poesia de José Manuel Veríssimo - Trazido pelo Mar - ou para alguém que chegou a ser muito especial; Razões; Lá do Oceano Indico ou Sobre uma noite na Internet



Trazido pelo Mar - ou para alguém que chegou a ser muito especial

 

Vieste navegando
 No barco da vida
 A descoberta……….
Quem dera um pouco que fosse
 De carinho
Nesse convés de descrença
 Em vez de um grito rouco
 Uma mão aberta
 Que acendesse
 Devagar
 Assim de mansinho
 Uma esperança
 Ainda que pouca
 Alguém que achasse
 Um trilho
 Ou mesmo um caminho
 Para uma das dimensões
 Onde a loucura não fosse louca

 Sobre um período do final do ano de 2001 em Lisboa
 Seixal, 19/07/2009


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Poesia de Maria Alvaro - Solidão; Paixão; Eu percebo...


Poesia de Maria Alvaro - Solidão; Paixão; Eu percebo...



Solidão

Solidão crua
Indigesta,
Solidão de festa.
Solidão nua,
De rua,
Acuação funesta.
Se é tudo o que resta,
Solidão em casa é pua
E molesta.
Solidão que presta
é solidão com a lua...
Ela apazigua...
O sonho acentua...
E o Amor manifesta!...

Maria Alvaro



O João e a Filó - Conto de Daniel Teixeira


O João e a Filó - Conto de Daniel Teixeira 

Os dentes dele batiam de uma forma que o assustava, mas era sempre assim. Não era porque estivesse muito frio, de facto a sala estava sempre bem aquecida, naquela temperatura ideal para um dia de inverno, tinha-o sentido quando se despira e quando a enfermeira abrindo a porta um pouco, sem olhar muito para ele, lhe tinha perguntado se já estava despido.

Sim, estava! Disse com uma resposta rápida, como se tivesse receio que ela entrasse mesmo e visse o seu corpo, um pouco magro, mas de qualquer forma não excessivamente magro para a sua idade jovem.

Tenho de comer mais dizia muitas vezes mas o apetite faltava-lhe e agora estava ali, numa consulta, porque a sua mãe tinha dito ao médico que não compreendia porque é que ele estava naquele estado como se o estado dele fosse alguma coisa de grave.

Fui sempre assim, dizia ele tantas vezes à mãe, e ao pai que também lhe ralhava e que achava que havia coisas que ele não devia fazer porque era demasiado fraco. Deixa que eu levo – dizia-lhe o pai quando se tratava de carregar algo mais pesado na loja, pronunciando este deixa que eu levo como se ele fosse um inútil ou estivesse num processo pronunciado de decadência, ele que tinha quinze anos, mal feitos.

O médico dissera que não devia ser nada mas que era melhor ver acrescentando um misterioso nunca se sabe…nunca se sabe como (?) ele não era Médico (?) deveria saber pois então (!!)…mas não sabia e tinha-o mandado tirar uma radiografia aos pulmões, outra radiografia, mais uma radiografia, que raio de coisa, dizia para si mesmo: eu não estou doente nada, só não tenho tanta fome assim e faria uma vida normal se não fosse a mãe estar sempre com o come rapaz ou o pai com aquelas tiradas parvas do deixa que eu levo até nos embrulhos pequenos porque estavam carregados de ferragens e isso era muito pesado para mim, pelo menos era o que o pai dizia.


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PROSA POETICA POR ILONA BASTOS - Olhares


PROSA POETICA POR ILONA BASTOS - Olhares 

 Tudo se resume a um olhar sobre o mundo e ao desvendar das maravilhas que encerra.

Já em criança o fazia: colhia flores, apanhava pedrinhas, folhas, conchinhas, e trazia-as para casa.

Acabavam, depois, por secar entre as folhas de um livro, perder-se ou ir parar ao cesto dos papéis, essas jóias tão acarinhadas. Agora não! Encontrei um cofre, que é este blog.

Aqui coloco as folhas e as flores que trouxe da rua. Aqui os guardo, expondo-os aos olhos do mundo, os vídeos que me comoveram, as músicas que me deliciaram, os excertos de livros que se me tornaram inesquecíveis.
 Eis, portanto, as minhas jóias - o meu cofre!

Encanta-me, claro, a folha amarelecida presa na orelha do cocker spaniel que me olha, inocente, sério, tão embrenhado no seu papel de cão felpudo e focinhudo, de longas orelhas e pêlo dourado! O seu olhar… e o seu olhar… tão ponderado e prudente.

O que era aquele olhar?
Era o de um ser inelutavelmente destruído?
Ou de alguém, ainda há pouco despertado de um pesadelo,
 que se concilia lentamente com a vida?
 Perguntou-me: «é para nós?»
 Acenei que sim e estendi os braços.


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ALEXANDRE O’NEILL E O SURREALISMO - Por Liliana Josué


ALEXANDRE O’NEILL E O SURREALISMO - Por Liliana Josué 

 MOVIMENTO SURREALISTA

 Não se podem estabelecer datas rígidas em relação ao desenvolvimento humano, seja qual for a perspectiva. As viragens rápidas , quanto a mim, não existem, pois qualquer estudioso do seu desenvolvimento não consegue fazer cortes radicais. Há sim evoluções menos ou mais rápidas, assim sendo, a passagem do Realismo/Futurismo para o Surrealismo aconteceu com alguma brevidade mas a seu devido tempo.

Considera-se o início do Movimento Surrealista com o francês André Breton e o Manifesto Bretoniano em 1924, extinguindo-se em 1969, dando-se desta forma inicio a outro novo ciclo cultural intitulado Pós-Modernismo.

Em Portugal surge mais tardiamente com António Pedro. Para alguns estudiosos é determinante o ano 1942 com a obra do mesmo intitulada «Apenas uma narrativa»; outros valorizam o ano de 1947 com a formação do Grupo Surrealista de Lisboa, cujos fundadores foram: António Pedro, José Augusto França, Cesariny, Alexandre O’Neill e outros. Começaram por se reunir na pastelaria Mexicana, mas o local de encontro de maior destaque para os surrealistas foi o café Gelo.
 Em 1960 este movimento foi considerado extinto



ALEXANDRE O’NEILL

 Nasceu em Lisboa a 19 de Dezembro de 1924 e faleceu em Lisboa a 21 de Agosto de 1986.
 Teve antepassados irlandeses mas era filho de António Pereira de Eça e O’Neill , tendo como profissão bancário e de Maria da Glória Vahia de Castro, dona de casa.
 Em 1944 fez o primeiro ano da Escola Náutica de Lisboa, mas devido à sua miopia não lhe será concedido o certificado marítimo. Não continuou os estudos tornando-se quase um autodidacta .



Poemas de Sá de Freitas - COMO SINTO UM ADEUS; HEI DE ENCONTRAR; LUTES


Poemas de Sá de Freitas - COMO SINTO UM ADEUS; HEI DE ENCONTRAR; LUTES

 


 COMO SINTO UM ADEUS

 

 O adeus é prenúncio de ansiedade
 Que surgirá nascida de uma ausência...
é princípio de angústia... é evidência
 De prantos que virão com intensidade.

 O adeus é um sentir de vacuidade,
é o interromper de uma convivência,
é um padecer com a triste permanência,
 Da grande dor que traz uma saudade.

 O adeus é esperança de um retorno;
é sensação terrível de abandono;
é temor do que inda não surgiu.

é apreensão que a alma mortifica;
 Sonho de também ir, para quem fica;
 Vontade de regresso à quem partiu.




quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

OS DENTES DO SOBA - Conto de Gociante Patissa


OS DENTES DO SOBA - Conto de Gociante Patissa

Em Outubro de 1945, um arrolamento extraordinário estava na iminência de ocorrer na Ombala de Tchiaia, capital de cinco aldeolas plantadas no cimo de montanhas vizinhas, que mais se pareciam com dedos de uma mão tentando tocar o céu: Pedreira, Kandongo, Samangula, Kawio e Tchiaia, hoje pertencentes à comuna do Sambo, município da Tchikala Tcholoanga, na província do Huambo.

 Ia ao rubro a ansiedade na Ombala, como de costume em véspera de arrolamento. Cada família procurava catanar a idade dos filhos, o que contribuiria na diminuição dos impostos, o mesmo acontecendo com o número de animais domésticos. Menos posses, melhor. O que restava fazer só dependia da visita do Chefe do Concelho, branco português conhecido por observar ao mínimo pormenor até mesmo os pelos de um porco.

Andava intrigado o Chefe do Concelho com a notícia do registo de dezassete óbitos em oito meses. E de nada o convenceram as justificações das autoridades, que atribuíam tal azar ao aparecimento do dragão, que fora visto por poucos sobrevoando o caminho do cemitério.

 Era fenómeno raríssimo no meio rural, mas havia na aldeia uma mulher (chamada Kutala) em condições de dar conta do recado em matérias de recenseamento. Fora logo cooptada para o posto de secretária-tradutora-dactilógrafa da Ombala. Despachava diretamente o expediente com o Soba.

 Nascida doentia, Kutala vivera a sua adolescência sob os cuidados de missionárias, tendo com elas aprendido as práticas de dactilografia, costura, doméstica e o domínio da gramática portuguesa. Mas com o desabrochar dos seios e o surgimento de sonhos eróticos — que ela não sabia se gostava ou se odiava —, Kutala convenceu-se de não ter vocação para madre, optando por abandonar a residência. Não era de ser pretendida por qualquer um, dada a sua capacidade de análise crítica, embora não fosse cheia de «não me toques».




A Santa e a Leitoa - Crónica / Causo de Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS


A Santa e a Leitoa - Crónica / Causo de Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS

Prequeté, prequeté, prequeté!. E a charrete subia a rua principal.

Na boléia, mascando um pedaço de bom fumo goiano, ia o Souza, legítimo africano de quatro costados. Pouco abaixo de seus pés, entre as rodas murchas do pneu careca e à sombra, ia o Viajante; um querido e legítimo canino puro-sangue tomba-latas. Vez ou outra alguém gritava para ele: - dia Souza!, ao que ele apenas murmurava um «dia» de muito mau grado.

 O Souza trazia na parte traseira da charrete, enrolada dentro de um saco de aniagem, a Neguinha; uma leitoa que foi criada dentro de casa, junto com os gatos e os cachorros da casa do Souza. Pois é, a pobre da Neguinha estava indo para o sacrifício, ou seja estava sendo doada pelo Souza ao Padre Tito, vigário de Passa - Tempo, sendo a pobre uma das prendas que seriam rifadas na quermesse. Três quartos de hora depois, e novo prequeté, prequeté, prequeté... .

 Na boléia o Souza, olhos cheios de lágrimas a responder: «dia»', entre uma cusparada e outra , e entre um esfregar de olhos e outro. O Souza estava chorando!.

Todos em Passa - Tempo gostavam do Souza, e ao vê-lo chorando, perguntavam-se: o que teria acontecido?. Parou a charrete na venda dos Signorini, e depois de meia garrafa da branquinha, contou para a platéia formada de compadres e o vendeiro, a razão do choro. Foi o seguinte o que contou o Souza:


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Fofocar é mesmo uma grande arte! - Texto de Miriam de Sales Oliveira


Fofocar é mesmo uma grande arte! - Texto de Miriam de Sales Oliveira 

«Eu tenho uma grande arte: eu firo, duramente, aqueles que me ferem...»
Rubem Fonseca

Será que todos fazem, todos gostam, todos praticam? Será que tem coisa melhor que a vida dos outros? Meu pai dizia que é pecado fofocar, mas, é divertido. Uma fofocazinha de vez em quando apimenta aqueles tediosos jantares em família, é muito salutar numa igreja – entre um padre -nosso e outro – e, na política então, nem se fala, ou melhor, fala-se a todo momento.

 Por que faz sucesso? Porque assim você tem a ilusão de estar vivendo a vida do outro, principalmente se o outro é uma celebridade e você, o piolho no rabo do cachorro vira - lata. Então, vamos fofocar? E é uma sensação tão agradável, parece que a gente se apodera da vítima, ao mesmo tempo em que se vinga da sociedade madrasta que a transformou numa «personagem»enquanto lhe deu, no palco da vida, o papel de zé-ninguém.
 _ Vamos espalhar, logo, essa fofoca, pois amanhã pode ser mentira e não ter mais graça.

 Fofoca é o nome engraçado de mexerico, maledicência, fuxico, bisbilhotice, mau – caratismo, más línguas e, muitas vezes, um sinónimo de inveja.
 _ Se não posso ser como ele, vou desmoralizá-lo!

 Mas, esse comportamento de lavadeira, chamado fofoca, só vai adiante porque, ouvidos semelhantes ao do fofoqueiro se comprazem em ouvir e espalhar. Asa pessoas ouvem e espalham sem se preocupar em conferir a fonte como fazem os bons jornalistas.
 A indústria da fofoca acabaria num piscar d’olhos se o ouvinte chegasse até a vítima e dissesse:
 _ Olha, estão espalhando esse mexerico sobre você, quero ouvir a sua versão.
 Pronto, acabava ai. Ou não?



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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Jornal Raizonline nº 260 de 26 de Novembro de 2014 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Cinco anos de Raizonline


Jornal Raizonline nº 260 de  26 de Novembro de 2014 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Cinco anos de Raizonline

Chegamos hoje ao número 260 deste despretensioso jornal cultural que tem e teve sempre como objectivo servir de ponto de encontro a várias culturas dentro da geografia do português como base.

Já estivemos melhor em termos de abrangência geográfica em termos numéricos, porque quanto aos horizontes que se manifestaram desde logo nos primeiros números essa mantém-se praticamente inalterável.

Temos colaboradores de Portugal, Brasil, Angola e Cabo Verde, estes situados geograficamente nos países que lhes são próprios, tivemos colaboradores de S. Tomé e Príncipe, igualmente geograficamente situados e temos colaborações que nos vêm dos mais diversos pontos do Globo onde existem comunidades portuguesas: Suíça, Bélgica, Estados Unidos da América, Canadá, Macau - China, Tailândia e Grã Bretanha.

Cada uma destas origens das colaborações podem quase dividir-se em dois grupos: um que «fala tu cá tu lá» connosco e uma outra vertente que é a chamada vertente da saudade.

Esta última, a vertente da saudade, não se demonstra apenas pelas colaborações que aqui vão sendo colocadas, alguma sem identificação do local, mas também pelo número de visitas às nossas páginas.

Em rigor e se virmos o mapa (carregar aqui) que tem o mesmo endereço que está colocado nesta barra à esquerda, veremos que temos visitantes de todo o mundo, sendo raro o país que não tem visitado a nossa página, partindo do princípio de que onde quer que seja há sempre, pelo menos, um português ou alguém que entenda o português, uma vez que todas estas origens de colaborações (de saudade ou não) têm os seus leitores espalhados pelo mundo.


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JORNADA CREPUSCULAR - VIAGEM NO SEBASTIANISMO - Por Mário Matta e Silva


JORNADA CREPUSCULAR - VIAGEM NO SEBASTIANISMO - Por Mário Matta e Silva 

 Enfrento o crepuscular dos dias seguindo em jornada sebastiânica, numa procura incessante, não de um vencido, de um perdedor, de um desaparecido, mas de um herói, de um destemido, de um salvador, de um Messias, que procuramos.

Viajo nos trilhos do sebastianismo (meu último livro de Poemas, editado em Março passado, com o título «SEI QUE VOLTAS SEMPRE») que vêm de 1598 aos nossos dias.

Não me acompanham profecias, (Bandarra: «Muitos podem responder / E dizer: / Com que prova o sapateiro / Ou como isto pode ser? / Logo quero responder / Sem me deter. / Se lerdes as Profecias / De Daniel e Jeremias / Por estas o podeis ver.»- cerca de 1538-1541) nem vaticínios imperiais do Padre António Vieira, pós 1640: («Quando tiverem por certo / Perdida toda a esperança / Portugal terá bonança / Na vinda do Encoberto.») e muito menos presságios de Nostradamus.

 Não me conduzem os velhos apregoadores de mitos sebastiânicos, como Lope da Vega, Fernando de Errera ou Zorrilla, em Espanha, ou de um teatro inglês de Ernest Reeynoldas, e tantos outros.

Viajo sim num sacudir de marasmo e num grito de mudança para melhor. Viajo nos crepúsculos que trazem esperanças renovadas e nos enfeitam os olhos de matizados devires. Venho de longe, por estas linhas, trazendo mágoas, revoltas, ironizados descreres, e jogo-me em cada mensagem contra as injustiças, apontando os reveses da politica, amaldiçoando a insanidade em que vivemos.

Hoje trago o inconformismo que trouxeram noutras diferentes épocas, evocando o Desejado, os mensageiros da poesia, como João de Lemos, Luís Augusto Palmeirim, Guerra Junqueiro, António Nobre, Teixeira de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira, Mário Beirão, António Sardinha, Fernando Pessoa, José Régio, Vitorino Nemésio, António Manuel Couto Viana e muitos outros, que chegam até aos nossos dias.



compaixão - caridade - Por Maria Alvaro


compaixão - caridade - Por Maria Alvaro 

 Na dicotomia compaixão -caridade reside, a meu ver, toda a essencial diferença que define as diversas posições políticas. Os dois conceitos confundem-se nas mentes das pessoas, mas não têm muito semelhança um com o outro e podem, em termos políticos, determinar uma oposição abismal de conceitos.

 Muita gente pratica caridade sem qualquer compaixão. Eu sinto compaixão por quem convive comigo e não pratico, regularmente, caridade. Praticar caridade é exclusivamente o ato de ajudar o próximo, sem que envolva necessariamente o sentimento da identidade com o outro. Compaixão é a empatia com o sofrimento alheio.

 Para Schopenhauer, por exemplo, há uma ética da compaixão. Ele nisso aproximou-se do budismo e do cristianismo, pois que considerou que cada indivíduo é uma parte de uma UNIDADE. Todos seríamos UM, apenas separados na aparência.

Por um lado, na separação aparente, somos dominados por um egoísmo animal feroz (o homem é o lobo do homem). Por outro lado, se nos deixarmos levar espontaneamente pela nossa verdadeira identidade UNA, anulamos esse egoísmo e nos identificamos com o outro, sentindo por ele compaixão e amor no sentido mais universal. Tendo em vista essa anulação do egoísmo,


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Poesia de José Geraldo Martinez - DIVIDIDOS!; TENHO INVEJA...


Poesia de José Geraldo Martinez - DIVIDIDOS!; TENHO INVEJA...



DIVIDIDOS!



 Vão moça e moço nesta doce adolescência...
 O futuro tem belo esboço, na ilusão que alimentam!
 Os beijos ainda são de tutti-frutti ou menta...

Vão moço ou moça,
que o dia de sol se apresenta de
primavera vestido!
 Propício a perderem a réstia de inocência,
 com beijos quentes e atrevidos...

Segredos guardados para todo sempre,
 onde roubarão no amanhã algum sorriso!
 Nas lembranças do hoje ou em qualquer canção,
 quando adultos estiverem divididos...

Vão moço e moça,
 que os shopping centers estão coloridos!
 Com churros de doce de leite...
 Sorvetes a serem consumidos!

Beijos doces que esperam
 por bocas de pura paixão!
 Amores juvenis que não demoram,
 virarem chuva de verão!

Existem muros lá fora
que ainda aguardam um coração...
 E pecado menor a tantas loucuras,
 uma apaixonada pixação!

Um recado de amor ou
pingos de sangue com dor,
 uma flecha atravessando um coração...

Vão moço e moça que amanhã
 tudo será ilusão!
 Ainda que façam juramentos para
a eternidade...
 Quiçá parasse o tempo, seria bom,
 ontem tínhamos a sua idade!

Vão moço velho, moça velha!
 São lembranças que roubam sorrisos...
 Segredos guardados para todo sempre...
 Na realidade que nos acorda, divididos!

«poema dedicado aos meus filhos: Caio e Dênis»

«O amor é aquilo que é, livre,
 pois a liberdade é a essência do que Deus é,
 e o Amor é Deus expressado.»

(Neale Donald Walsch - Uma amizade com Deus)


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Menina Solta ao Sabor das Estações - Conto por Maria Petronilho


Menina Solta ao Sabor das Estações - Conto por Maria Petronilho 

 Para ir à escola, era preciso subir a montanha. Não havia caminho. A vereda mal se via, pois só era pisada aos domingos, quando a minha avó e a criada iam à missa. Desembocava enfim na estrada romana, larga, polida, ladeada por muros.

As vezes perdia-me por entre a erva esparsa. Sobretudo se avistava gafanhotos e me punha a persegui-los.
Bicho dando de esperto!
Fingia aceitar o jogo, de pulinho em pulinho; depois trocava-me as voltas, saltava às arrecuas e eu, que o tinha quase na mão, rodava, no seu instinto...

Quanto deviam rir-se os bichos!

Sabiam decerto que o meu intento não era comê-los, mas vê-los...Eram verdes, amarelos, eram grandes, minúsculos, tinham patas de mola e pontas bicudas, viradas...

As anteninhas diziam de longe:
- Vem, vem que cá te espero!... E eu ia – Plim! Saltava de caninha em caninha e eu, iludida, continuava.
- Vem, vem, que cá te espero!
Estendia a mão ligeira, o meu coração dava um salto e ele outro: Plim!
- Os grandes olhos no alto, brilhavam de tanto riso e os meus, quase choravam de desespero.
- Que idade teria eu?!

Media os anos, como se deve medi-los: pelo correr das estações. A primavera era linda! Tudo em flor! Cravos do monte, moitas amarelas e brancas de camomilas abertas, espreguiçando-se ao sol. Estevas de sete-chagas: flores imensas e brancas com uma dedada púrpura. Eu retirava as pétalas, delas retirava as pintas e depois mastigava-as, deliciada.


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Poesia de Virgínia Teixeira - Todos os poemas que escrevi com a mão cansada; Eu sou; Opera


Poesia de Virgínia Teixeira - Todos os poemas que escrevi com a mão cansada; Eu sou; Opera


 Todos os poemas que escrevi com a mão cansada

 

 Todos os poemas que escrevi com a mão cansada
 Os inúmeros sonetos que sufoquei na garganta dorida
 As sensações que escondi na solidão passada
 Todas as sílabas que gritei dentro da alma ferida,

Todos os instantes em que me permiti viajar
 Cada momento em que soube sinceramente sorrir
 Até ao ultimo floco de alegria que de mim conseguiu brotar,
 Até à seiva de prazer que de mim sou capaz de extrair,

Todo o meu Bem e o meu Mal, a negritude e a pureza,
 Equilíbrio para todos os que te desconhecem, incompreensível,
 Sentimento mágico de uma Harmonia sem qualquer delicadeza,

Antes um sentimento sem sentido, absolutamente invisível;
 Tudo te pertence, nada é meu, nada de mim brotou,
 Tu és a roda, o leme, o fundamento, tudo o que me gerou…


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Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - ANOITECER; A CAMINHO DO NORTE


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - ANOITECER; A CAMINHO DO NORTE
 

 ANOITECER

 

 Espreito quase ininterruptamente à janela,
 E para além de vestes abanadas pelo vento,
 Rostos desconhecidos,
 Não vejo nada.
 é um domingo qualquer,
 à espera de ti,
 E vedam-me a visão,
 Persianas envelhecidas,
 Paredes intransponíveis,
 Nuvens de poeiras esquálidas,
 Portas trancadas opacas.
 Neste domingo de horas curtas,
 Quase no fim,
 Ainda espero por ti.
 Espero por ti,
 Espreito à janela
 E apenas se me deparam paisagens mórbidas,
 Ou qualquer sonho inatingível.
 Apetecia-me o mar,
 O longe...
 Afaga-me a «Rosa em Botão»
 Do poema de Vinicius.
 O mar não me chamou,
 Partiu não me levou.
 O céu não me quis ver,
 Partiu sem me dizer.
 Havia uma palavra azul
 Que me estendia os braços,
 Que me levava pela mão,
 Que me beijava os dedos,
 Mas morreu.
 Morreu de sede,
 De fome,
 E de saudades do mar
 Que lhe afagava as raízes.
 Costumava falar-me de ti com carinho.
 A cada instante,
 Embrenhava-me na paisagem tranquila daquelas horas,
 E sonhava...
 Não sei porque espero por ti.
 Não sei porque espero por alguém...
 Ainda espreito à janela,
 E escorre dos vidros um silêncio negro,
 Como o negrume de minha ansiedade.
 Escrevo para ti,
 Porque não posso falar contigo.
 Minhas falas morreram,
 E foram com a enchente do rio,
 Na hora da tempestade.
 Escrevo para ti,
 Para estar mais perto de ti,
 Nesta hora de crepúsculo
 De pensamentos desnudos,
 Conscientes da verdade.

Cremilde Vieira da Cruz


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O gato preto - Conto de Daniel Teixeira



O gato preto - Conto de Daniel Teixeira 

 A Arminda vivia no décimo andar de um prédio cujo elevador se mantinha entaipado havia anos. Os condóminos, por razões que todos achavam certas, variavam nas suas objecções ao arranjo do mesmo, razões essas que me não cabe a mim desenvolver aqui. Aliás, nem moro lá - caso isso não tenha ficado subentendido até agora.

Apenas sou, no que à questão residencial se refere, visitante da Arminda e quando cheguei a casa dela desta vez estava não só derreado como estava irritado e sentia na pele da face agora crestada a falta do ar condicionado dos outros dias e aquela aragem pequena mas refrescante que o contínuo mandava do rés do chão rodando o botão para o lado do sinal mais por ser para mim.

 Era bom cliente, eu, naquele prédio e o porteiro sabia-o mas desta vez pareceu-me ausente não de corpo, porque ele estava lá, com a sua farda cheia de medalhas e galões à tropa, mas porque estava e não estava no seu posto.

 Ou seja, o corpo dele (e os galões e as medalhas) estavam lá plantados no sítio do costume, atrás de um balcão coberto a fórmica, mas o espírito, a alma, o sopro vital dele, aquela coisa que distingue as pessoas vivas das pessoas mortas, a respiração, o bafo, andavam nos limiares do coma, e acabei por apressar o passo no Hall.

Disse-me depois a Arminda que lhe tinha falecido um gato, um pretinho que frequentava o terceiro andar e que eu não devia conhecer porque ele nunca ia para as escadas mas eu disse-lhe que não senhor, que era capaz de ser aquele que eu tinha visto na última vez que lá tinha estado entre o primeiro e o segundo andar embora tivesse visto um gato preto como veria outro gato preto qualquer porque os gatos pretos são todos iguais.

 A Arminda disse-me então que sendo assim era bem provável que eu até o tivesse visto no dia da sua morte porque ele, o porteiro, tinha encontrado o seu corpinho desfalecido precisamente na zona do rés do chão, entre as caixas vazias de uma arrecadação.


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O passeio - Conto de Daniel Teixeira


O passeio - Conto de Daniel Teixeira


As coisas estavam a correr bem, pelo menos era assim que eu pensava e tudo levava a crer que nada de mau poderia acontecer.

O Fernando ia à frente, fazendo de batedor, a seu gosto e com algum prazer apesar do potencial perigo. O resto do pessoal vinha todo em fila indiana atrás de mim e eu por meu lado tentava seguir os sinais das pisadas das botas grossas do Fernando.

Era um hábito dele, andar sempre de botas tipo tropa, quase, se descontarmos uns cordões de aperto coloridos e em fiapos que ele se recusava a trocar por outros novos sob argumento de que aqueles lhe davam sorte.

Mas não era por causa dos cordões das botas do Fernando e por causa da sua fé neles que eu achava que se tudo tinha corrido bem até ali, tudo correria bem dali para a frente.

No bar da vilória onde tínhamos estado antes dissemos que queríamos ir por aquele caminho para a casa que tinha sido da mãe da Ilda, recentemente falecida, e aí foi- nos dito que talvez não fosse boa ideia.

Um velhote com cara de patriarca destacou-se na cadeira de uma mesa e de voz um pouco pastosa disse-nos que os caçadores furtivos espalhavam ratoeiras para caça grossa em locais que só eles conheciam e que por vezes perdiam os traços das suas sinalizações pelo que havia ratoeiras perdidas espalhadas um pouco por todo o lado.

Chamou um indivíduo fardado, de chapéu com insígnias que apresentou como sendo o seu filho mais novo, guarda florestal, e disse que ele tinha deixado lá um pé, pois quando chegara ao hospital já nada havia a fazer senão acabar de cortar.

Como se pensasse que nós duvidávamos, e acertou, obrigou o moço, relativamente novo, a levantar a bainha esquerda das calças que mostrou então uma prótese, articulada um pouco acima do tornozelo.


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Poesia de António Cambeta - VENDAVAL; SAUDADES NO CAIS DEIXEI


Poesia de António Cambeta - VENDAVAL;  SAUDADES NO CAIS DEIXEI   


 VENDAVAL

 

 No meu pequeno, mas belo jardim
 entrou a tristeza
 o vendaval que assolou a região
 levou-me as belas flores
 as rosas negras, os crisântemos amarelos
 as orquídeas de âncora
 que eu tinha bem estimadas
 como um tesouro que Deus nos dá.

As plantei e tratei
 com paciência de bonzo
 numa tarde serena e luminosa
 de Maio

Diariamente
vigiava meu tesouro
 de orquídeas de âncora
 de Fá Mui e de tulipas

Visionava distante com se de um sonho
 se tratasse.
 De um sonho pleno de amor.

Viver o sonho que sonhei
 entre as orquídeas de âncora de meu jardim
 embriaga-me
 no seu perfume oriental
 das orquídeas de âncora.

Uma noite
 a tristeza
 entrou em meu pequeno mas belo jardim
 e com o vendaval da noite
 minhas orquídeas de âncora
 minhas rosas negras
 meus crisântemos amarelos
 foram levadas pelo vento.

Na manhã seguinte
 ao encontrar todo o meu tesouro
 desfeito, chorei lágrimas de sangue.
 no chão ainda pude ver uma orquídea de âncora
 tentar sobreviver foi só o que restou

De novo, com paciência de chinês
 tentarei fazer florir meu tesouro
 e o protegendo das intempéries
 irei fazer para que minhas orquídeas de ancora
 fiquem bem amarradas ao fundo da terra
 para que jamais as possa perder


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O DIA A DIA DOS BONZOS - Por: António Manuel Fontes Cambeta (Macau)


O DIA A DIA DOS BONZOS - Por: António Manuel Fontes Cambeta (Macau)
 

 Diariamente os bonzos tomam conta do mosteiro efectuando diversas tarefas entre elas cortar a relva, varrendo os aposentos e lavando as instalações, rezam e estudam os ensinamentos budistas. Os bonzos levantam-se por volta das 05.00 horas, um deles toma conta de acordar os restantes.

às 05.30 horas iniciam as suas rezas seguindo depois par o exterior do mosteiro, acompanhados por um noviço e iniciam o seu peditório pelas casas da redondeza, para isso vão munidos da sua tigela. Os fiéis sabem da hora em que os bonzos passam perto de suas casas e ali os aguardam para lhes oferecer alimentos, outros há que vão directamente ao mosteiro fazer as suas ofertas.

 Regressados ao mosteiros essas comidas recebidas são separadas pelos noviços e as espalham pelos pratos que depois irão servir ao bonzos como sua refeição. Os bonzos reúnem-se no Bot ou salão principal onde se encontra a imagem principal do Buda e ali aguardam que lhes seja entregue a comida, entretanto rezam agradecendo essa dádiva.

 Vários toques são dados num gongo anunciando que a comida está pronta para ser servida, é nessa altura que as noviças fazem a entrega da comida aos bonzos ou vão tomar a sua refeição no exterior do mosteiro.

Antes de comer os bonzos tornam a orar desta vez unindo as palmas da mão e inclinando o seu corpo até ao chão por três vezes dando graças, depois sim tomam a refeição comendo um pouco de tudo do que lhes é apresentado, respeitando deste modo os ofertantes.



Poesia de Arlete Deretti Fernandes - Poema da vida; Amigos virtuais


Poesia de Arlete Deretti Fernandes - Poema da vida; Amigos virtuais 


 Poema da vida

 

 Dia e noite, noite e dia,
Assim segue o ritmo da vida.
Buscas, delírios,
Dores, martírios.

Nesta curva da estrada
 A felicidade me esperou.
 O sonho virou realidade,
 Meu lar aqui se formou.

 Família, esposo e filhos,
Emoções tantas encontrei.
 Sucedem-se os dias,
 O sol, o verde, a chuva e as estações.

 Ali, as folhas que caem,
 Aqui, as folhas que brotam.
 O poema da vida
Escrito em um grande cartão.

 A infância, a adolescência,
 A juventude, a vida adulta.
«Nossos filhos não são nossos filhos,»
Como disse um dia Gibran .

 Como a árvore que plantei,
As sementes que vi brotar,
 Cresceram e seus caminhos
 Um dia foram procurar.

Hoje espero ouvir o telefone,
 O skipe, o Messenger, um email.
 Como não sentir saudades
 Do barulho das crianças?

Este ninho ficou vazio,
 Procuro-os por todos os cantos.
 Enquanto em meu jardim vejo
 Pássaros voando constantes.

Passam dias, meses e anos.
 Os rios correm para o mar,
 Lá fora o poema da vida
 Continua a se renovar.


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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Não é com as pernas que corremos (*) - Conto de Gociante Patissa


Não é com as pernas que corremos (*) - Conto de Gociante Patissa

Numa aldeia muito distante do nosso tempo, no contar do meu avô, havia espaço para tudo, menos para a felicidade de pessoas com deficiência. Acreditava-se que a limitação motora seria praga dos deuses por eventual erro dos ancestrais.

 Lumbombo, cujo nome na língua Umbundu quer dizer raiz, na típica essência proverbial dos nomes africanos, era visto como um ser frágil. O próprio nome advinha do facto de nascer doentio, ficando a sua sobrevivência a dever-se a medicações à base de raízes e preces. Em meios rurais, onde são pelo trabalho as pessoas notadas, não era bem do tipo que povoava fantasias. Não se lhe via beleza nem valentia para sustentar uma mulher.

 Diz-se que quem nasce com a deficiência tem maior probabilidade de lidar com a baixa auto-estima do que aquele que a adquire depois de ter uma cosmovisão já construída. Na hipótese de ter sido, de facto, assim, Lumbombo não andava por aí a fazer da sua condição uma canção.

Para a família, ele nem era assim tão inútil. Passava o dia em casa e cuidava dos animais domésticos, muitas vezes usados como moeda de permuta com produtos da loja do único comerciante, português oriundo do Norte, segundo as más-línguas, sem fundos para a passagem de regresso à Europa.

 Romântico inconfesso, Lumbombo não sossegava enquanto não bolasse uma estratégia aparentemente desinteressada de atrair simpatia feminina. Foi então que aprendeu a esculpir pentes de madeira, ciente de ser a vaidade a primeira amiga de uma mulher. Nem foi preciso sequer um ano para o quintal do homem andar apinhado de beldades, perdoem-me aqui algum exagero.

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A CIDADE E AS SERRAS de Eça de Queirós - Por Arlete Deretti Fernandes


A CIDADE E AS SERRAS de Eça de Queirós - Por Arlete Deretti Fernandes 

 é sempre enriquecedor conhecer a Obra de um dos maiores escritores portugueses, Eça de Queirós.

 Seu romance «A Cidade e as Serras» traça um paralelo entre a civilização em que o escritor sempre vivera e a pureza rústica dos costumes que principiara a apreciar com as suas estadas na quinta do Douro, propriedade da família, depois da morte da sogra, a Condessa de Resende. Este livro, por seu idealismo pode fazer lembrar A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Diniz. O crítico Alberto de Oliveira é que sugere o paralelo.

 Este último romance de Eça impõem-se pelas belas descrições e as serenas evocações da serra portuguesa em contraste com os requintes de uma civilização que fizera de Jacinto o herói de «A Cidades e as Serras», «a primeira mentalidade nacionalista do romance português», segundo João Gaspar Simões.

 Eça pode ter castigado sua pátria, nas críticas que a ela fizera, mas exaltou-a após, esquecido de que o seu atraso só era benéfico para quem o podia usufruir no meio da riqueza, e para desfastio de um cansaço de civilização.

 O romance «A Cidade e as Serras» foi publicado em 1901, um ano após a morte do seu criador, Eça de Queiroz, o mais importante escritor realista português (1845 - 1900). Trata-se de uma obra semi-póstuma, onde 65 por cento do escrito chegou a passar pelo crivo do romancista. Com a sua morte, Ramalho Ortigão revisou e não alterou o enredo, que tinha sido originado no conto «Civilização».


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domingo, 23 de novembro de 2014

Pequena análise sobre um texto publicado por José Varzeano no Blogue Alcoutim Livre - Por Daniel Teixeira



Pequena análise sobre um texto publicado por José Varzeano no Blogue Alcoutim Livre - Por Daniel Teixeira

Introdução: Gostaria de esclarecer que o José Varzeano, entretanto infelizmente falecido, fez várias recolhas sobre etnografia e antropologia social no Concelho de Alcoutim e que eu, motivado por afinidades familiares e por recordações dos tempos passados naquelas terras e daquelas gentes colaborei no seu Blogue que, para quem não sabe, é uma verdadeira enciclopédia da específica ruralidade da Serra Algarvia.

Abaixo coloco o link do texto que aqui comento tendo por base um ponto que me fez ficar um pouco curioso. Há muito pouco trabalho publicado sobre usos e costumes nupciais e aquilo que se pode ler sobre o assunto tem de se ir encontrando em pequenas referências em contos e romances.

Uma parte substancial deles são escritos por médicos deslocados para esses locais, que aproveitam assim a sua estadia para descrever da melhor forma hábitos e costumes que por força da sua profissão vão percebendo. Este texto que refiro foi também escrito por um médico.

Já tinha lido, igualmente neste Blogue do falecido José Varzeano, um despique entre candidato a noivo e pais da noiva, um costume que na altura em que foi recolhido estava já em vias de ficar em desuso e que era cantado pela troupe e pelo noivo numa forma já bastante galhofeira.

Tratava-se de um processo de tese e antítese, em que o pai da noiva carregava defeitos sobre o noivo e sobre a sua capacidade de constituir família no que se refere às suas qualidades de trabalho e haveres, o que o candidato a noivo rebatia coadjuvado pelos seus apoiantes, acabando tudo numa confraternização conjunta.

Por outro lado tinha também já lido no mesmo blogue o final de um costume que durante tempos se praticou por aqueles lados e que se prendia com um hábito da noiva dizer «não» na altura em que era perguntada pelo padre se aceitava «aquele homem como seu legítimo esposo», saindo depois os noivos e os convidados da Igreja para voltarem minutos depois para a devida e completa cerimónia já com o «sim» de ambos. Este último costume foi cortado por um padre que chegado de novo não estava ao corrente do costume e se recusou a completar a cerimónia na sua segunda fase.


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Poesia de João Furtado - Ao entardecer o quadro continua; Meu nome na infância


Poesia de João Furtado - Ao entardecer o quadro continua; Meu nome na infância

 

 Ao entardecer o quadro continua

 

 Ao entardecer na Ilha bela e maravilhosa
 Tu e eu… Eu e tu contemplávamos o sol
 Peguei-te na mão e via-te amor orgulhosa
 Enquanto o Astro Rei escondia atrás do farol

 Cansados resolvemos entrar na água… na praia
 Entrelaçados e cheios de sonhos beijávamos
 A sombra da noite não reduzia a nossa alegria
 Não tínhamos nada além da vida e dos sonhos

 E também tínhamos a água tépida do mar
 Onde a natureza confundia a sua sublime energia
 Com o nosso forte e único deseja de amar
 Como era bela a certeza que amanha era outro dia

 Mas era mais um dia para o nosso amor se vibrar
 Saímos da água e sentamos ao pé do coqueiro
 A Natureza falava mais tudo parecia silenciar
 Perante o nosso amor tão nobre e tão verdadeiro

 A natureza nocturna acordava ávida de amar
 E nós curiosos e amantes contemplávamos a noite
 O mar não se cansava de os nossos pés molhar
 E eu não cansava de falar do futuro tal um vidente

 Hoje veio a idade mas não levou o desejo de sonhar
 Vemos os nossos frutos os mais velhos são pais
 E sorrimos para os netos, um a rir e outro a chorar
 Ao entardecer o quadro continua cheio de animais

 Praia, 18 de Novembro de 2014

 João Furtado

http://joaopcfurtado.blogspot.com

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Noites Cromáticas 1 - Recolhido em «as Leituras de Madame Bovary»


 Noites Cromáticas 1 - Recolhido em «as Leituras de Madame Bovary»

Picnic no Parque de Alvalade: há muito tempo, que não me deitava na erva a desfrutar do banho da luz da lua. Não percebia os corpos, ouvia apenas as vozes, deliciada e imaginava as rostos dos que não conhecia. Longe do som do mal, dos passos que ecoam fortes e solitários nas igrejas fechadas e húmidas. Percebo a quietude da natureza, das árvores nos passeios, das ervas daninhas nos intervalos das pedras de calçada, à espera de um intervalo nosso para recuperar o que lhe furtámos. Clamo em silêncio por uma oportunidade de vingança do verde.

 Alfama: alguns whiskies e vou vendo as caras que conheci no escuro. Caras menos enigmáticas do que as imaginei. Olhos mais alucinados do que supusera.

 Regueirão dos Anjos: sento-me ao lado de um homem, vestido com todo o rigor de Africa. Converso com ele. Fantasio-o um xamã. Diz-me coisas profundas, para ter cuidado com o presente. Lê a desordem na palma da minha mão. Depois sento-me num sofá, ao lado de um espanhol que encontrara noutra noite no LX Factory e que não se recordava da conversa que tínhamos tido. Na outra noite, estava há horas aos beijos com uma rapariga.

Quando saí da disco, continuavam cá fora. Na minha ingenuidade não me contive, aproximei-me, pedi desculpa pela interrupção, mas queria saber se aquilo era amor. Queria saber se o amor ainda pode existir nestes tempos. Ele tentou manobrar a questão, a rapariga respondeu de imediato, que não, que não era amor. Ele pareceu desapontado com a resposta. Perguntei então se era sexo. Ela respondeu que não, que era qualquer coisa entre amor e sexo.


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O ORACULO - Conto / Crónica de João Furtado


O ORACULO - Conto / Crónica de João Furtado

 Foi o Gregório quem levou aquele livro, o copo e um dado, recordo como se fosse hoje, por duas razões. Uma porque o dado era de fundo vermelho e pontos brancos, a cor que fazia lembrar o equipamento do Benfica. A outra razão é a rivalidade entre mim e o livro, para todos o livro dava uma resposta sonhadora, menos eu. Definitivamente, o «ORACULO DE NAPOLEAO» não quis nada comigo.

 Chegou como uma novidade lá em casa, era o livro da sorte e todos queriam saber a sua sorte. Desde as minhas irmãs até o meu pai, mesmo ele que era pouco dado as novidades ficou entusiasmado. Todos queriam saber o que seria seu futuro.

Pegavam no copo, colocavam o dado dentro do copo, agitavam o copo em movimento giratório enquanto proferiam a frase que o Gregório nos ensinou que era «Oráculo de Napoleão, Oráculo de Napoleão, diga-me….». Num movimento rápido embarcavam o copo sobre a mesa. Viam qual o número que coube a sorte e no livro, procuravam a resposta. As perguntas eram as que previamente se viam no livro.

 As minhas irmãs, a minha mãe e o meu pai ficaram todos satisfeitos com as respostas obtidas e estavam ansiosos para continuarem o jogo. Pelo menos estavam a viver uma vida de ilusão por algum momento.

Chegou a minha vez e queria que eu me despachasse o mais rápido possível, para continuarem a perguntar. Todos tinham mil perguntas a fazer e queriam a resposta.

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