A pressa de Papai Noel - Por: Cecílio Elias Netto
Natal já começa em novembro. Haverá, ainda, quem se lembre do que a data representa?
Sou absolutamente suspeito para tratar de qualquer tema relacionado a Natal. Pois é uma data que me incomoda, que chega a deprimir-me por antecipação. E o curioso disso é que, em família, sempre tive natais felizes, mesmo quando a pobreza estendia sua sombra à nossa família. Meu pai fazia brinquedos com as próprias mãos, minha mãe inventava o que se poderia comer. E, mesmo se não houvesse comida, havia beleza nas coisas.
Poucas vezes, consegui ver o Natal como data religiosa, cristã. Pois a comercialização das festas não vem de hoje, mas desde quando dar presentes e a figura de Papai Noel se impuseram a qualquer reflexão mais profunda. Na minha juventude rebelde e, depois, na minha militância comunista, o Natal se tornava símbolo de um capitalismo cruel e injusto. Doía-me ver a infelicidade dos excluídos da festa, em especial das crianças que nada tinham a comemorar, nem a receber, nem sonhos a acalentar.
Lembro-me de que, certa noite de Natal – ainda em casa de meus pais e em tempos mais promissores – eu estava mordendo uma perna de frango assado e, sei lá porque, fui à porta da casa.
Então, vi crianças famintas, esfarrapadas, estendendo-me as mãos, desejando-me feliz Natal, querendo coisas. A perna de frango ficou entalada em minha garganta e não consegui mais participar das comemorações. Quis ser guerrilheiro e sair por aí carregando multidões de crianças e vaiando todas as festas e exibições e excessos natalinos. Coisas ideológicas da juventude. Mas com justificáveis razões de ser, tão justificáveis que ainda me deixam saudade.
Não gosto, pois, de Natal, embora – com os meus filhos, quando pequenos – eu e a mãe deles tivéssemos lhes dado uma visão cristã da data, seguindo rituais e liturgias. Mesmo minha mãe e meu pai, jamais iniciaram uma ceia de Natal sem, antes, fazer uma oração e ler o trecho do evangelho natalino. Vi, porém, a pouco e pouco, a vitória de Papai Noel, a preponderância das lojas e vitrinas sobre igrejas, templos, cultos. Houve natais que os confundi com carnavais.
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