domingo, 31 de março de 2013

Jornal Raizonline nº 216 de 1 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXVII)- A Procissão da Sexta Feira Santa ou do Senhor Morto em Faro

 
Jornal Raizonline nº 216 de 1 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXVII)- A Procissão da Sexta Feira Santa ou do Senhor Morto em Faro
 
Já lá vão muitos anos desde a primeira vez que assisti a esta Procissão: não sou um católico muito praticante mas tal como acontece a tantos na mesma situação que eu a esta procissão não se falta desde que se possa ir.

O ritual é demorado, por vezes sentimos que é demasiado lento, a organização de centenas, senão mais de um milhar ou dois de pessoas não é fácil, controlar os tempos de marcha de cada um também não mas a procissão acontece sempre, ou quase sempre.
Em dias de chuva excessiva o Padre decide que a Procissão não saia: aconteceu poucas vezes até agora, mas da primeira vez que aconteceu havia pessoas revoltadas contra a decisão de cancelamento. Ainda aqui não é fácil tomar decisões.

Há pessoas que fazem descalças o percurso, que com no chão molhado podem escorregar, por exemplo, que pelo avançado da idade, por vezes, podem ficar mal, enfim, e os andores, todos eles decorados para um período de tempo que se esgota rápido, extremamente pesados tornam-se ainda mais pesados com o peso da água, as imagens ficam com a roupa desfeita ou descomposta, etc.
 
Mas é um verdadeiro dilema porque vem gente de vários pontos do Algarve, sobretudo das zonas mais próximas que praticamente guardaram todo o seu dia para se prepararem para vis à Procissão e é verdadeiramente frustrante que ela seja cancelada.
 
 
 
 

 

«A SOCIEDADE» - Conto / Crónica de Jorge Teixeira

 
«A SOCIEDADE» - Conto / Crónica de Jorge Teixeira 
 
Agora chamam-lhe «Os Bonjoanenses» mas no nosso tempo era «A Sociedade», ou «Sede», o único sítio com Televisão no Bom João.
 
Bonanza com o mapa a arder, música que todos cantarolávamos (Tan Tara Ran Tan Tan Tan), o Zorro e o Tonto com o seu Aiô Silver, Ivanhoe e Robin dos Bosques, digladiavam-se perante uma assistência hipnotizada e de olhos a brilhar, envolta na escuridão como no cinema, batendo-se com tremoços em saquinhos de plástico e Sofrutos, que tinha tanto gás que às vezes até saía pelo nariz.
 
Na noite a Televisão passava uma vez por semana concertos de música clássica para um único espectador, o Zé da Cavan que não admitia barulho nem correrias. Conversas em família com Marcelo Caetano, volta a França com Alves Barbosa a comentar, o Cinema mudo de António Lopes Ribeiro e o seu pianista que após muita insistência dizia boa-noite eram outros programas marcantes.
 
«A Sociedade» tinha características únicas. Aos Domingos de manhã disputavam-se Jogos de Basquetebol no campo das traseiras onde uma oliveira que ainda lá está assistia a alguns embates importantes do Campeonato, campo de terra batida marcado com cal, cuja atenção na métrica era dividida com a observação do Sardinha a fazer barcos – melhor nome para um calafate não há – e a carvoaria do Faneca.
 
Na parte da tarde era o futebol, dominó, jogos de cartas a feijões no sentido literal do termo. O futebol não dava ainda na televisão, portanto um rádio «Siera» ou «Grundig» assumia esse papel, colocado num suporte a meia altura, transmitindo as «imagens» dos jogos quase ao pormenor. Os relatadores eram tão bons que chegávamos ao ponto de olhar para a rádio no calor das jogadas e não raro os mais velhos discutiam os lances como se os estivessem a ver na realidade, tal o detalhe do relato.
 
 
 
 

 

Poesia de Mário Matta e Silva - Dois poemas - Desenhar-te; Hino à Sensualidade

 
Poesia de Mário Matta e Silva - Dois poemas - Desenhar-te; Hino à Sensualidade
 
 

 
Desenhar-te



Gostava de percorrer o traço
 do teu corpo junto ao meu
 enquanto viajo
 pela tua silhueta breve e morna.
 O traço não o sei precisar
 senão na mente;
 o teu perfil, aqui presente
 são linhas paralelas
 sinuosas e enternecidas.
 

No papel não arrisco
 a riscar-te com mão segura.
 A criação enquanto dura
 traz-me o teu sorriso belo
 e fresco, de que não sei cuidar
 displicentemente;
 enquanto volto à contemplação do teu corpo

 
Hino à Sensualidade



Há movimentos do corpo
 que excitam o desejo
 num afago morno e terno
 a evaporar-se no ar
 e é sentindo em cada beijo
 esse abraço em clamor
 que o amor vai perdurar.

Há cânticos solenes, brandos
 em arco-íris flamejante
 a escalar no alto as nuvens
 e no peito o sol gritante
 vem em cada sensação
 no bater do coração
 em murmúrio delirante.
 

 Leia este tema completo a partir de 1 de Abril carregando aqui.
 
 
 

 

Amar um livro - Texto recolhido em As Leituras de Madame Bovary

 
Amar um livro - Texto recolhido em As Leituras de Madame Bovary 
 
No início, havia o campo, os invernos rigorosos e uma estranha guerra ocupava os dias. O corpo era muito magro e frágil mas vingou ao abrigo da comunhão com os livros, os cães e os irmãos. Assim se constituiu a sua ideia pessoal de felicidade: uma cama, um livro, um cão e um amante que fosse também um camarada. Terá sido então que os livros se entrelaçaram com o erotismo numa enigmática mas bela coincidência.
 
[O pai estava ausente: sentado no sofá, fumava cigarro atrás de cigarro e lia um livro grosso. Complexo de Electra. Livros e cigarros: uma compulsão fálica de inspiração -expiração.]
 
Dos livros recebeu, portanto, a sua educação sentimental e o gosto pelas palavras certeiras. A sua segunda pele. Anos mais tarde, ao deixá-los empacotados num sótão amigo para viajar durante um ano sentir-se-á estranhamente livre e nua. A doença do livro colou-se aos ossos. As noites serão perdidas para a insónia, na angústia da vida não durar nem para metade dos livros que deseja.
 
Sentirá sempre que não se pode ler um livro sem ter lido todos. Por consolo, conceberá a ideia de paraíso - biblioteca. No entanto, terá sempre as suas poupanças empenhadas, penará sempre que muda de casa e irá cometer muitas imprudências na vida, tentando igualar a beleza da arte.
 
Irá sofrer mas nos ombros sentirá sempre asas prestes a despontar. Aprende-se mulher, cativa-se na ideia de um amor louco. Enternece-se com os desvarios de uma tal Madame Bovary, parece que escolheram ambas viver mal mas poeticamente. Por  vezes vacila, as pernas já não prestam para andar, mas sempre acha novo vigor em poemas (ou serão elegias?) como o de Alexandre 0’Neill:
 
 
 
 
 

 

A LENDA DA VIOLETA - Texto de Dulce Rodrigues

 
A LENDA DA VIOLETA - Texto de Dulce Rodrigues 
 
Uma planta que costuma florir por altura do começo da Primavera e que é fonte de inúmeros contos e lendas de amor é a violeta, e várias são as lendas de amor de origem grega e romana, mesmo frígia, que se contam sobre ela. Mas existe igualmente um mito inglês sobre a violeta, e é esse que vou partilhar convosco.

Segundo esse mito, o rei Frost (nome que significa em português gelo) sentia-se muito sozinho no seu grande palácio de gelo onde imperava o frio e faltava vida. Então, um dia, enviou emissários à procura de uma jovem bela e carinhosa que pudesse reconfortar o seu triste coração e trazer-lhe felicidade.

Depois de terem andado dias sem conta, os emissários encontraram finalmente uma jovem, muito tímida mas lindíssima, que se apressaram a levar à presença do rei Frost. Assim que este a viu, ficou imediatamente apaixonado pela simpática jovem, e a frieza do seu coração fundiu como a neve funde ao sol. O nome da jovem era Violeta.

Graças ao amor e à ternura de Violeta, o rei Frost tornou-se bom e generoso e prometeu ao seu povo que, a partir daí, os Invernos rigorosos e sem fim do seu reino se tornariam amenos durante metade do ano.

Depois de algum tempo de viver no palácio do rei Frost, Violeta sentiu saudades do seu país e pediu ao rei para a deixar ir lá de visita. O rei acedeu ao pedido, mas com uma condição: Violeta voltaria ao seu país alguns meses por ano, mas transformada numa flor.
 
 
 
 
 

 

Ao Domingo Há Música - Recolhido em LIVRES PENSANTES

 
 
Ao Domingo Há Música - Recolhido em LIVRES PENSANTES
 
«Neste Deus é que quero acreditar: um Pai que, desde o princípio da criação, abre os braços numa bênção cheia de misericórdia, sem forçar ninguém, mas esperando sempre; sem deixar cair os braços, e esperando sempre que os filhos regressem para lhes poder falar com palavras de amor e para deixar que os braços cansados repousem nos seus ombros. O seu único desejo é abençoar.» Henri Nouwen, in «O regresso do filho pródigo», Editorial A o, Braga.

Abençoar ou ser abençoado, acção e objecto, eram rituais tão celebrados e importantes nas relações familiares que, sem a respectiva efectivação , não se completava a cerimónia da saudação na hora da partida ou do regresso. Sinais de respeito, de acolhimento, de afectividade que traduziam a força da mais importante organização do mundo: a família.

Num Domingo de Páscoa, saudar e rogar a bênção que dulcifique um mundo onde, todos os dias, milhares de braços cansados carecem de sossego e protecção é uma forma de contextualizar o espírito pascal.
 
 
 
 
 

 
 

Poesia de Rose Arouck - Sexta Feira da Paixão; Páscoa em Nós

 
Poesia de Rose Arouck - Sexta Feira da Paixão; Páscoa em Nós
 
 
Sexta Feira da Paixão



Sob o peso da cruz Ele caminha, ombros curvados,
 rumo ao porto final em Seu calvário.
 Tendo a força dizimada pelos pés dilacerados
 marcha lento sob o chicote dos soldados.

Tropeça aniquilado pelo esforço que produz,
 sob os gritos que O condena, do povo barulhento,
 Segue tombando pelo peso da imensa cruz...
 O ajuda Simão Cirineu que o alivia no momento.
 
Páscoa Em Nós



Páscoa é nascer de novo.
 é a fertilização
 demonstrada na simbologia do ovo.
 é ressurgir de alma lavada,
 com a esperança anunciada.
 Renascer ricamente
 com a alma fertilizada
 a nos elevar docemente.

Páscoa é sentenciar os velhos erros
 sepultando os vícios no aterro
 ressurgindo com a aura iluminada
 na pretensão de uma outra caminhada.

 
 
Leia este tema completo a partir de 1 de Abril carregando aqui.
 
 

 

 

sábado, 30 de março de 2013

Ferreiro trabalhando o aço - Crónica de Antônio Carlos Affonso dos Santos - Acas

 
Ferreiro trabalhando o aço - Crónica de Antônio Carlos Affonso dos Santos - Acas
 
Crônica de um velho ao amigo, também velho.

Caro amigo,

Estamos ficando mais velhos! Os anos se sucedem. As lembranças da Cobrasma, em Osasco; no distante ano de 1971, ainda estão em nossas lembranças.

E éramos também pouco mais que adolescentes à época. As crianças, que ainda há pouco choramingavam em nossos colos, hoje são mães e pais. Os netos correm pelos corredores, pelos jardins. Nós testemunhamos «par e passo» o quanto nosso país mudou nos últimos anos. Avançamos na tecnologia e regredimos nos costumes.



Ficou o respeito entre os mais antigos. Temos que nos adaptar a conviver com os desiguais; coisas do modernismo! Nossas companheiras; legado vivo de nossa existência e nós mesmos, já começamos a nos queixar das dores que a idade provoca.



Quando somos jovens, projetamos muitos sonhos. E muitos deles não se tornaram realidade; alguns sonhos nós conseguimos realizar, ainda que, muitas vezes, não os realizamos da forma como os idealizamos. A idade tem um ingrediente ótimo; que é a temperança. Nós somos mais calmos para tomarmos decisões, que, via de regra, tornam-se cada vez mais sábias.



- Amigo. Estamos ficando mais velhos! Os anos se sucedem. Aos poucos, ficamos sabendo de um ou outro ex-colega de trabalho ou escola que já partiram desta vida levando alguma história, onde nós também fazíamos parte. Vimos muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.
 
 
 
 

 

 

Lenda do Folar da Páscoa

 
Lenda do Folar da Páscoa
 
A lenda do folar da Páscoa é tão antiga que se desconhece a sua data de origem.
 
Reza a lenda que, numa aldeia portuguesa, vivia uma jovem chamada Mariana que tinha como único desejo na vida o de casar cedo. Tanto rezou a Santa Catarina que a sua vontade se realizou e logo lhe surgiram dois pretendentes: um fidalgo rico e um lavrador pobre, ambos jovens e belos.
 
A jovem voltou a pedir ajuda a Santa Catarina para fazer a escolha certa. Enquanto estava concentrada na sua oração, bateu à porta Amaro, o lavrador pobre, a pedir-lhe uma resposta e marcando-lhe como data limite o Domingo de Ramos.
 
Passado pouco tempo, naquele mesmo dia, apareceu o fidalgo a pedir-lhe também uma decisão. Mariana não sabia o que fazer.
 
Chegado o Domingo de Ramos, uma vizinha foi muito aflita avisar Mariana que o fidalgo e o lavrador se tinham encontrado a caminho da sua casa e que, naquele momento, travavam uma luta de morte. Mariana correu até ao lugar onde os dois se defrontavam e foi então que, depois de pedir ajuda a Santa Catarina, Mariana soltou o nome de Amaro, o lavrador pobre.
 
Na véspera do Domingo de Páscoa, Mariana andava atormentada, porque lhe tinham dito que o fidalgo apareceria no dia do casamento para matar Amaro. Mariana rezou a Santa Catarina e a imagem da Santa, ao que parece, sorriu-lhe.
 
 
 
 

 

A Páscoa à volta do Mundo - Por Dulce Rodrigues

 
A Páscoa à volta do Mundo - Por Dulce Rodrigues
 
Este mês, um pouco por todo o mundo, umas crianças vão comer deliciosos ovos e coelhos de chocolate pela Páscoa e divertir-se-ão com a caça aos ovos, enquanto outras terão uma Páscoa diferente, seguindo tradições que tanto podem parecer um pouco estranhas nos seus rituais, como revestir um carácter espiritual. Acompanhe-me nesta volta pelo mundo sobre alguns dos costumes mais insólitos das celebrações da Páscoa.
 
Portugal: Amêndoas e folar da Páscoa
 
Portugal é um país onde as tradições gastronómicas variam de região para região, contudo, as tradições da Páscoa generalizaram-se de Norte a Sul e, assim, dão-se e recebem-se amêndoas na Quinta-feira Santa e come-se folar no Sábado de Aleluia ou no Domingo de Páscoa, e este bolo celebra a reconciliação e a amizade. Saberá porquê lendo a respectiva lenda. (Leia aqui),
 
Hungria: Alegria perfumada
 
 Na Hungria, a Segunda-Feira de Páscoa é um dia divertidíssimo – em vez de trocarem ovos da Páscoa, os rapazes visitam as raparigas e deitam-lhes perfume sobre a cabeça! Felizmente que as raparigas agora sabem que já não vão ser regadas com baldes de água, como era costume até há alguns séculos atrás. Depois de encharcarem as cabeças das raparigas com perfume, os rapazes pedem-lhes um beijo e uma prenda, que pode ser um ovo de chocolate, dinheiro ou um coelho da Páscoa. Segundo parece, a rapariga que foi perfumada mais vezes é considerada a mais bonita!
 
 
 
 
 

 

Lendas Algarvias - A lenda da moura de Faro

 
Lendas Algarvias - A lenda da moura de Faro 

 
A azáfama era grande intramuros do castelo que emoldurava o azul da ria, separada do oceano por um cordão de areia dourada, lembrando a estes povos de origem árabe as paisagens da sua terra natal.
 
Era Ibn Harun uma cidade portuária, próspera e muito bem guarnecida de muralhas, cidade importante do reino Al-Gharb e governado por um emir da dinastia almóada. Era este homem pai de uma bela donzela e de um menino que fazia a delícia de seus olhos, amaciando o comportamento guerreiro e rude, de quem está sujeito às leis da guerra e da governação.

No cimo da torre de menagem os vigias acompanhavam com olhar preocupado o serpentear das tropas cristãs, que dos lados da serra se aproximavam da cidade. As notícias que chegavam falavam de cidades e castelos que iam sendo tomadas com o avanço dos cristãos. Preparavam-se as defesas e quem podia sair da cidade tomava rumo para o reino de Marrocos, que outro caminho já não havia.
 
Aos poucos os guerreiros lusos chegaram às portas do castelo e montaram arraial no largo que se expandia terra adentro, mais tarde chamado de S. Francisco. Eram fortes as defesas e forte também o desejo de defesa dos guerreiros almóadas. O teatro estava preparado para a confrontação. De um e de outro lado se preparavam as estratégias para a refrega que se avizinhava trágica.

Um jovem guerreiro cristão rondava as muralhas na procura de fraquezas destas quando viu a filha do emir debruçada nas ameias e de olhar fixo em si. Ficou tomado de amores o jovem pela beleza da moura e de tal modo foi correspondido que combinaram um encontro intramuros na noite seguinte.
 
Com a ajuda de um guarda mouro da sua confiança, fez-se acompanhar a bela donzela de seu jovem irmão e abrindo os portões do castelo ali se encontraram. Votos de amor eterno e olhar enamorado entre ambos prometeram tomar votos de união, logo que a batalha terminasse.
 
 
 
 

 
 

Anacrónica - Por Marcelo Pirajá Sguassábia

 
Anacrónica - Por Marcelo Pirajá Sguassábia 
 
Outro dia um colega de trabalho me mostrou um programinha que ele tinha acabado de baixar da internet: um simulador de barulho de máquina de escrever. Acionado o software, bastava ligar as caixinhas de som e, ao digitar no teclado, saíam ruídos que imitavam o tec-tec da dita cuja.
 
Com o requinte de poder escolher entre vários modelos de máquina. Para cada modelo um som diferente, cópia fiel do original. O mais engraçado é que se ia escrevendo e, ao chegar o fim da linha, tinha aquele barulhão do carro da máquina voltando.
 
Retornei ao meu lugar e à época em que se datilografava ao invés de digitar. Tinha uns 12 ou 13 anos quando meu pai me matriculou num curso de datilografia da Escola Remington, do Seu Mario Sundfeld. Guardo até hoje o certificado de conclusão - passei com 9. Lembro direitinho do primeiro exercício, só com a mão esquerda: asdf asdf asdf – quatro ou cinco linhas da mesma sequência, para o aluno memorizar a localização das teclas. Para boa conservação do equipamento, era bom passar o limpa - tipos de vez em quando - uma espécie de borrachinha que, pressionada como um chiclete nos tipos da máquina, ia tirando os resíduos de pó e de tinta que se acumulavam nas letras e tornavam os caracteres ilegíveis.
 
Quando a gente xxxxxxx errava alguma coisa no xxxx que estava escrevendo, ou resolvia substiutir uma xxxxxxxxxx palavra por outra, o texto ficava cheio de xxxxxxxx. Ou então se usava o corretivo, também chamado de branquinho, utilizado por muitos para fins bem menos nobres. Hoje, o processo de gestação do texto não deixa rastro. Os originais já nascem insípidos e imaculados. Tudo se deleta, se remove, se inverte, sem rabisco e rasura. O fim do lixo cheio de papel amassado.
 
 
 
 
 

 
 

No meio termo reside a Razão - Texto de Lina Vedes

 
No meio termo reside a Razão - Texto de Lina Vedes
 
Mal abri os olhos para a vida, em 1940, iniciaram-me na aprendizagem do «saber viver»!

Era necessário «beber chá» logo de pequenino. Chá, era sinónimo de educação, que começava pelo treino diário da utilização adequada das expressões - «obrigado(a)», «se faz favor», «desculpe ou perdão», ditas com um sorriso nos lábios e um brilho no olhar.

Era necessário aprender essa ciência do «saber viver» a partir da infância, interiorizando leis impostas pela sociedade da época.

Essas regras levavam-nos a «saber viver» sem incomodar ou melindrar o próximo, encaminhando-nos para melhorar a maneira de estar em sociedade.

Ninguém queria ser apontado como menino(a) mal-educado(a), que praticava ou dizia «coisas feias», entendendo-se o termo, como pecadilhos de grande ou pequena monta.

Preparavam-nos para sermos bem-educados na família, na escola, na rua, usando boas palavras e atitudes exemplares. E éramos treinados e sabíamos que educação era tão importante como o pão para a boca.

Não sei se havia algum manual de instruções. Sei que os meus avós haviam moldado os meus pais, tal como tinham sido educados, e estes, por sua vez, faziam o mesmo comigo…Sempre assim aconteceu ao longo das gerações…

A família, como célula da sociedade, tinha de ser unida e forte para se defender dos perigos e para se resignar com as contrariedades – falavam os pais, os professores, a igreja…

Ainda recordo frases importantes que marcaram os meus comportamentos:

- a gentileza é indispensável;

- um rosto carrancudo não gera amizades;

- temos de ser compreensivos, pacientes e resignados.

Havia ainda a máxima – «as acções transformam-se em hábitos, estes moldam o carácter que marcará o nosso destino.»

Não era fácil aprender ou, mais concretamente, aceitar e cumprir as regras impostas. Em todas as situações, antes de agir, tínhamos de pensar:

- Posso!?
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vinte e poucos anos atrás - Texto de Tino Cabralia

 
vinte e poucos anos atrás - Texto de Tino Cabralia
 
Há vinte e poucos anos atrás eu era o cara aí na foto abaixo. Estava na Europa no inverno muito bem acompanhado das amigas e irmãs Acosta de Porto Rico; conforme se verifica usava um casacão do meu avô, cachecol branco e tinha muitos sonhos e muito mais cabelo como é fácil constatar.
 
Desde essa época já escrevia com constância no meu «Diário» com a minha Remington portátil e guardava algumas coisas em pastas para «posteridade». As religiões passaram, os espasmos atléticos, os ideais políticos, os fartos cabelos, a Remington portátil.... mas a literatura ficou em minhas entranhas, no meu modo particular de encarar as coisas e suportar a loucura do cotidiano.
 
De todos os escritores que li talvez tenha como maior ídolo Charles Bukowski que certa vez confessou: «essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura».
 
E é mais ou menos nessa pilastra que a coisa toda se sustenta.
Num momento de nostalgia , gripe forte e falta de inspiração começo a reler essas coisas antigas, muito ruins, diga-se, mas que me protegeram e me ajudaram em algum momento da vida. Recomendo ler e escrever como forma de terapia gratuita, de auto-conhecimento.

 
E para não dizerem que estou mentindo aí vai um trecho do antigo «Diário»:
 
«24/08/1992 – Hoje me vejo por outro ângulo. Abaixo do chão. Sem pretensões faraônicas, desejos demoníacos, sonhos onipotentes. Mais um mero mortal em busca de sexo, prazer, dor, aceitando suas imperfeições.
 
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FARO, A MINHA CIDADE - A Procissão de Sexta Feira Santa - Texto de João Manuel Brito Sousa

 
FARO, A MINHA CIDADE - A Procissão de Sexta Feira Santa - Texto de João Manuel Brito Sousa

Nessa noite, a malta do campo vai à procissão. Vão todos ou quase. E gostam de ir, porque encontram alguns conhecidos que já não viam há muito, ou porque andaram pela estranja ou têm andado arredios.
 
E lá vai um abraço e dois dedos de conversa.
 
Antes da procissão passar, já a Rua de Santo António está cheia de gente encostada às paredes. Não há uma nesga . E é nessa altura que a malta passa. O Zé Vitorino Neves do Arco com o Verdelhão, o Zeca Basto com o Zé Pinto, o Carlos Alberto Magalhães com o Justino, o Zé Eusébio com o Jorge Barata, o Zé Aleixo Salvador com o Marcelino Viegas, o Brito da Falfosa com o Alex, o Zacarias com o Januário, e a malta do Liceu com o Tabeta e o Santana à cabeça.

Quando o palio passa as pessoas curvam-se e respeitosamente fazem o sinal da cruz. Mas a procissão começa com as matracas à cabeça, uns utensílios que, rodando-os fazem um barulho esquisito e forte. Depois vem a turma dos Bombeiros com o Larguito à frente com o bombo, a dar-lhe umas porradas.
Passo certo e cadenciado, vem a banda de música de Paderne, com os clarinetes à frente e os pratos atrás.
 Pétalas de rosas vermelhas pelo chão e colchas roxas nas janelas.
 Vem aí o andor representando a agonia e morte de Cristo, com a Mãe.
Depois o palio com o Cónego Henriques e mais sacerdotes.
 A procissão leva duas horas a passar.
 
 
 
 
 

 
 
 

sexta-feira, 29 de março de 2013

A Abóboda de Mestre Afonso Domingues - Crónica de Arlete Piedade

 
A Abóboda de Mestre Afonso Domingues - Crónica de Arlete Piedade
 
A propósito da história da Padeira de Aljubarrota, (já com diversas publicações no Jornal Raizonline de vários autores), e da construção do Mosteiro da Batalha, inicialmente chamado de Santa Maria da Vitória, ordenada pelo rei D. João I, como agradecimento á Virgem pela vitória na Batalha de Aljubarrota, resolvi contar-vos outra história desta época e que se passou durante a construção do mosteiro.
 
Como se imagina, nesta época uma obra desta magnitude, levava vários anos até ser concluída, e esta não foi exceção, tendo sido iniciada em 1386 até que em 1517 foi dada como concluída, tendo atravessado o reinado de sete reis de Portugal.
 
D. João I encarregou do projecto e condução das obras, o arquitecto português Mestre Afonso Domingues, que durante anos trabalhou para erguer o grande monumento de estilo gótico tardio, ou manuelino, como veio a ser designado.
 
Mas em 1402 o mestre estava cego e já de avançada idade e o rei resolveu entregar a condução da obra a um mestre irlandês de renome, Mestre Huguet . Na altura em que este arquitecto tomou conta das obras, estava em curso a conclusão de uma imponente sala, a mais extensa do mosteiro, chamada a Sala do Capítulo.
 
Faltava levantar a abóboda, que segundo o projecto do velho mestre Domingues, dispensaria o uso de pilares, sendo totalmente livre de apoios centrais, e seria apenas apoiada nas paredes laterais, segundo o recurso a uma nova técnica de construção.
 
Também devido a ter conhecimento dessa inovação arquitétonica, o rei temendo que os olhos já sem vida do mestre falhassem, resolveu confiar a condução da obra ao mestre estrangeiro.
 
Este querendo sair-se bem aos olhos do patrão real e tendo conhecimento dos receios do monarca, resolveu fazer alterações no projecto, com vista a uma melhoria pensava ele.
 
Trabalhou afanosamente refazendo os cálculos e dirigindo os operários, e na data marcada a abóbada estava pronta, e o seu orgulhoso mestre assim o comunicou ao rei português.
 
 
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Poesia de Maria da Fonseca - SEMANA SANTA; SEXTA-FEIRA SANTA

 
Poesia de Maria da Fonseca - SEMANA SANTA; SEXTA-FEIRA SANTA

 

SEMANA SANTA

Para o Senhor receber
 Acerco-me do Altar.
 Na Quaresma, meu querer
 Foi me penitenciar.

 
A divina Paz senti
 Por ter sido perdoada,
 Mas também eu pressenti
 A minha alma contristada.

 
SEXTA-FEIRA SANTA

Triste Dia, meu Senhor
 Pelos Cristãos venerada,
 A Sexta-feira Maior,
 Todos os anos sagrada.
 .
 O céu cinzento da Dor
 De Vos ver assim sofrer.
 Cristo, nosso Redentor,
 Quis a todos proteger.
 .
 Sinto o vento sibilar
 E os ares demais pesados.
 Foi Jesus a agonizar
 Há dois mil anos passados.

 
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Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - O capital não existe - Cotação do esforço e soma do produto humano para a avaliação do trabalho - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL

 
Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - O capital não existe - Cotação do esforço e soma do produto humano para a avaliação do trabalho - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL
 
Um dos problemas que mais se acentuaram neste século * e que vem sendo motivo de grandes preocupações para os governos de todos os países do mundo, é o promovido pela constante desinteligência entre o capital e o trabalho. Mais exato seria dizer – porque, em honra à verdade, isto é o que acontece – que existe uma aversão crónica e um constante estado de sublevação mental nas massas operárias, que representam o trabalho, em relação aos chamados patrões, que comumente são designados com o nome de capital.
 
Para aquelas, é crença enraizada que elas representam o trabalho e que são exploradas pelos que manejam o capital. E de tal crença parte o erro que dá a base para todos os conflitos que se suscitam na engrenagem das finanças e das economias, na qual entram em jogo os interesses de uns e de outros.
 
Parece incrível que legisladores e homens versados em questões sociais, e particularmente em elucidar temas relacionados com as questões operárias e o desenvolvimento do capital, não tenham podido enfocar esses problemas em seu aspecto essencial, discriminando, para o melhor e mais claro entendimento de todos, o que significa ou deve significar cada atividade humana e como deve ser julgada ao se estimar sua contribuição.
 
Analisadas as perspectivas que cada homem nos oferece em seu posto de trabalho e de luta, deve-se chegar à conclusão de que o capital, como tal, não existe, e, por outro lado, em substituição a ele temos o que poderíamos denominar trabalho superior. O que anteriormente se chamava trabalho deve ser denominado trabalho inferior.
 
Vejamos agora o estudo que ilustrará o leitor sobre a razão na qual fundamentamos esta apreciação.
 
Comecemos por deixar bem estabelecido que, não sendo vedado a ninguém poder ser ou ter o que são ou têm aqueles que parecem ser os mais afortunados, fica de fato o caminho aberto às aspirações de todos. Porém, tenhamos aqui presente que, embora a mente de cada ser humano tenha sido feita sem variações – ou seja, todas foram dotadas de idêntico mecanismo –, com o correr do tempo, enquanto as mentes de uns foram evoluindo desde os primitivos estados da espécie humana até alcançar, depois, pelo cultivo da inteligência e pela educação que se foi acentuando de geração em geração, as mais proeminentes posições no seio da sociedade humana, as de outros, que no final das contas são a maioria, atrasaram-se a tal ponto que, postos lado a lado, dois homens de cada uma dessas duas posições descritas dariam a impressão de que um deles, aquele cuja mente se acha em melhores condições e até, poderíamos dizer, sincronizada com o ritmo do progresso, vivesse em nossa época, ou seja, nos anos em que estamos vivendo, ocorrendo que o outro, a julgar por sua incapacidade e inferioridade de condições intelectuais, estaria vivendo ainda nos séculos passados ou, pelo menos, com muito atraso em comparação com o outro.
 
 
 

 

Quando a cabeça não tem juízo - Por Leocardo: Blogue Bairro do Oriente

 
Quando a cabeça não tem juízo - Por Leocardo: Blogue Bairro do Oriente
 
Estava a ver um programa dedicado à moda, nomeadamente à criadora portuguesa Fátima Lopes, uma referência nacional vinda da Madeira para o mundo, qual Cristiano Ronaldo.
 
Nem sei quando é que a Ana Salazar, a (única?) criadora de moda nacional da minha infância se deixou ultrapassar por esta espécie de Cleópatra das passerelles. O que é feito da Ana Salazar? Será menos comercial devido ao apelido que nos lembra o ditador? Terá pendurado o dedal, a agulha e a linha? Mistério.

Voltando à tal Fátima Lopes, a moça move-se pelo mundo da «haute couture» parisiense, e tem uma relação bestial com as câmaras. Fala pelos cotovelos, gesticula, explica os comos, os ondes e os porquês do seu ofício, enfim, está como um peixe na água. Lá no fundo até gosto da lata da magana. E é despachada. Tem carisma. Deve ter aprendido com o tio Alberto João, o cacique da sua Madeira natal. Se é um exemplo de compatriota de sucesso que devemos todos admirar, não vou por aí. Isto da moda tem que se lhe diga.

As vezes quando estou a fazer o almoço gosto de mudar de canal para a Fashion TV e aumentar o som do aparelho. Tenho que admitir que a escolha da música de fundo deste canal dedicado à moda foi bem conseguida. Muito actualizada, consequente, e até um pouco dançável, se me permitem a ousadia. Alguns colegas e amigos dizem maravilhas desta Fashion TV, nomeadamente no que toca à qualidade das modelos. Ouço opiniões no sentido de que se vê ali «material de primeira». Aí não me resta senão discordar. Na forma e no feitio.

As modelos que desfilam nessas tais «catwalks» (passadeiras de gato, numa tradução literal) são das criaturas mais deprimentes que existem à face da Terra. Congratulo-me que se tenha (finalmente) tomado consciência que a excessiva magreza destas modelos é uma má influência para jovens que sonhem com uma carreira no mundo da moda. Além do mais, estas tais roupas com que desfilam são destinadas a quem? Outras múmias anoréxicas como elas? Isto para não falar de alguns «designs», com que ninguém no seu perfeito juízo sairia à rua. Enfim, acho que percebo muito pouco de moda, para ser sincero.
 
 
 
 
 

 

Sylvia Beirute - BERNARDO SOARES - TEMPESTADE

 
Sylvia Beirute - BERNARDO SOARES - TEMPESTADE
 
L. do D.
 
Como uma esperança negra, qualquer coisa de mais antecipador pairou: a mesma chuva pareceu intimidar-se; um negrume surdo calou-se sobre o ambiente.
E súbito, como um grito, um formidável dia estilhaçou-se. Uma luz de inferno frio visitara o conteúdo de tudo, e enchera os cérebros e os recantos. Tudo pasmou. Um peso caiu de tudo porque o golpe passara.
 
A chuva triste era alegre com o seu ruído bruto e humilde. Sem querer, o coração sentia-se e pensar era um estonteamento. Uma vaga religião formava-se no escritório. Ninguém estava quem era, e o patrão Vasques apareceu à porta do gabinete para pensar em dizer qualquer coisa.
 
O Moreira sorriu, tendo ainda nos arredores da cara o amarelo do medo súbito. E o seu sorriso dizia que sem dúvida o trovão seguinte deveria ser já mais longe. Uma carroça rápida estorvou alto os ruídos da rua. Involuntariamente o telefone tiritou. O patrão Vasques, em vez de retroceder para o escritório, avançou para o aparelho da sala grande.
 
Houve um repouso e um silêncio e a chuva caía como um pesadelo. O patrão Vasques esqueceu-se do telefone, que não tocara mais. O moço mexeu-se, ao fundo da casa, como uma coisa incómoda.
 
Uma grande alegria, cheia de repouso e de livração, desconcertou-nos a todos. Trabalhámos meio tontos, agradáveis, sociáveis com uma profusão natural. O moço, sem que ninguém lho dissesse, abriu amplas as janelas. Um cheiro a qualquer coisa fresca entrou, com o ar de água, pela grande sala de adentro.
 
A chuva, já leve, caía humilde. Os sons da rua, que continuavam os mesmos, eram diferentes. Ouvia-se a voz dos carroceiros, e eram realmente gente. Nitidamente, na rua ao lado, as campainhas dos eléctricos tinham também uma socialidade connosco. Uma gargalhada de criança deserta fez de canário na atmosfera limpa. A chuva leve decresceu.
 
 
 
 
 

 

Páscoa - Publicada por ANTONIO MANUEL FONTES CAMBETA em O Mar do Poeta Macau e Tailândia

 
Páscoa - Publicada por ANTONIO MANUEL FONTES CAMBETA em O Mar do Poeta Macau e Tailândia
 
Páscoa (do hebraico Pessach), significando passagem através do grego Πάσχα) é um evento religioso cristão, normalmente considerado pelas igrejas ligadas a esta corrente religiosa como a maior e a mais importante festa da Cristandade Católica.
 
Na Páscoa os cristãos católicos celebram a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação (ver Sexta-Feira Santa) que teria ocorrido nesta época do ano em 30 ou 33 dC. A Páscoa pode cair em uma data, entre 22 de março e 25 de abril. O termo pode referir-se também ao período do ano canónico que dura cerca de dois meses, desde o domingo de Páscoa até ao Pentecostes.
 
Origem do nome (Páscoa)
 
Os eventos da Páscoa teriam ocorrido durante o Pesah, data em que os judeus comemoram a libertação e fuga de seu povo escravizado no Egito.
 
A palavra Páscoa advém, exatamente do nome em hebraico da festa judaica à qual a Páscoa católica está intimamente ligada, não só pelo sentido simbólico de «passagem», comum às celebrações pagãs (passagem do inverno para a primavera) e judaicas (da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida), mas também pela posição da Páscoa no calendário, segundo os cálculos que se indicam a seguir.
 
No português, como em muitas outras línguas, a palavra Páscoa origina-se do hebraico Pesah. Os espanhóis chamam a festa de Pascua, os italianos de Pasqua , os franceses de Pâques, e também em outras línguas em que provavelmente não saiu do hebraico: latim Pascha, azerbaijano Pasxa, basco Pazko, catalão é Pasqua, crioulo haitiano Pak, dinarmaquês Påske, Pasko em esperanto, galês Pasg, Pasen em holandês, indonésio Paskah, Páskar em islandês, Paskah em malaio, em norueguês påske, Paști em romeno, Pasaka em suaíle, påsk em sueco e Paskalya em turco.
 
Os termos «Easter» (Ishtar) e «Ostern» (em inglês e alemão, respectivamente) parecem não ter qualquer relação etimológica com o Pessach (Páscoa). As hipóteses mais aceitas relacionam os termos com Estremonat, nome de um antigo mês germânico, ou de Eostre, uma deusa germânica relacionada com a primavera que era homenageada todos os anos, no mês de Eostremonat, de acordo com o Venerável Beda, historiador inglês do século VII. Porém, é importante mencionar que Ishtar é cognata de Inanna e Astarte (Mitologia Suméria e Mitologia Fenícia), ambas ligadas a fertilidade, das quais provavelmente o mito de «Ostern», e consequentemente a Páscoa (direta e indiretamente), tiveram notórias influências.
 
 
 
 
 

 
 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Blogue Alcoutim Livre - José Varzeano - O mestre azeiteiro (fazedor de azeite) - Escreve António Afonso

 
Blogue Alcoutim Livre - José Varzeano - O mestre azeiteiro (fazedor de azeite) - Escreve António Afonso
 
No Nordeste Algarvio a oliveira era uma árvore quase sagrada! Tal como na Grécia Antiga, pois, no perímetro da Acrópole sempre existiu e existe, um exemplar desta espécie. Há fortes razões para o Homem lhe dedicar tanta estima. Ela lhe concede sombra, alguma lenha, as azeitonas, que serão preparadas, de conserva, britadas, retalhadas, pisadas sempre presentes na mesa do Alcoutenejo; além disso, da transformação dos seus frutos se extrai o precioso azeite, utilizado na culinária, outrora alimentava as candeias, servia para oferecer a quem não o tivesse de colheita e ainda como oferenda à Senhora das Candeias ou à Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Freguesia.
 
Paralelo com esta árvore só encontrei em Africa, certo dia, um nativo em Moçambique me confessou que o Coqueiro é para nós a árvore de Deus! Porque dela tudo aproveitamos, a sombra, as folhas que cobrem as nossas casas, a madeira para vários fins, os frutos tão importantes para a nossa alimentação e não só.
 
Nós tínhamos algumas oliveiras centenárias herdadas dos nossos avós, o meu pai sempre que encontrava um zambujo, logo procedia á enxertia, caso obtivesse sucesso, na época própria o transplantava para local definitivo; passados alguns anos já dava frutos, mas continuava a ser designado por  «oliveiro» até ser de maior idade.
 
A Terra gira nos seus movimentos de rotação e translação, o tempo passa, deixando a sua marca, quer nas pessoas, quer nos seus modos de vida.
 
Nos últimos cem anos, muitas profissões existentes no meu concelho, algumas nem conheci, desapareceram simplesmente e outras estão em risco disso. Irei enumerar umas quantas:
o alvetário (profissional que tratava os animais),
o vedor (profissional que indicava o local onde existia água no subsolo),
albardeiro, o sapateiro, o azeiteiro, o latoeiro, o retratista, o dentista ambulante, o capador, o roupeiro, o maioral «zagal», ferrador, o ferreiro, o oleiro, o almocreve, o ganhão, o limpador, a tecedeira, a boleira, a caiadora, a costureira, a ceifeira, o cesteiro, o tendeiro, o vendedores ambulantes (o ti Januário, o ti Zé Guerreiro, o ti Feliciano o ti Pano Cru), moleiro, o endireita, o cesteiro, o pedreiro de pedra solta, etc.
 
 
 
 

 

O sonho aqui ao lado - Por Leocardo - Blogue Bairro do Oriente

 
O sonho aqui ao lado - Por Leocardo - Blogue Bairro do Oriente
 
Quando andava no ciclo preparatório tirava sempre boas notas a Música. Um pouco sem saber como, pois na realidade para mim a música é um verdadeiro mistério. Gosto de música, ouço música, mas não sei como se faz.
 
Não sei ler música, não toco qualquer instrumento, nem sequer tenho unhas para tocar guitarra. A música para mim é como a água que sai da torneira: é bom tê-la, e pouco importa saber de onde vem. O meu pai olhava para as tais boas notas a Educação Musical com apreensão, e dizia meio a brincar que eu «lhe estava a dar música».
 
Na realidade os tempos hoje são outros; antigamente era quase uma tragédia ter um músico na família. Os músicos eram potenciais pindéricos, condenados à esmola. No tempo dos nossos pais e avós era importante aprender um ofício, e a profissão de músico – bem como a de qualquer outro artista – era considerada «marginal».
 
Actualmente, e com o evento da indústria discográfica que gera milhões, os pais estimulam o talento musical dos filhos, se o têm, e até não se importam de lhe comprar instrumentos e deixá-los tocar na garagem com os amigos. Vistas as coisas, o mercado de trabalho é cada vez mais um mundo cão, e se há alguma coisa que aprendemos nesta vida é que nem sempre se chega longe estudando muito e trabalhando duro. Aliás, sem outros expedientes menos ortodoxos, chega a ser uma tarefa quase impossível.
 
Se antes era condenável um jovem ambicionar a uma carreira nas artes, fosse na representação, na música ou outra, hoje isto é visto como uma escapatória, um «sonho».
 
Da forma desenfreada como se sucedem os talentos «a la minuta», gerados pelos «reality shows», concursos de talentos e outra tralha televisiva, é fácil perceber que a mentalidade vigente é agora outra: isso de acordar cedo e trabalhar duro é para tansos. O que está a dar é a fama e o estrelato, custe o que custar.
 
 
 
 

 

QUERO IR CEIFAR CONTIGO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»

 
QUERO IR CEIFAR CONTIGO - Por José Francisco Colaço Guerreiro - Publicado em «Património»
 
O verão veio temporão naquele ano. Ainda não era tempo para tamanhos calores, mas os braseiros e os ventos do levante ressequiram as pastagens e apressaram o amadurecimento das cearas que ficaram curtas e de bagos falidos.
 
Tudo à roda da vila de Entradas eram espigas por colher .Os lavradores e os seareiros, começaram cedo a fazer as suas contas às fundalhas. Nas conversas das tabernas e do café, nos finais do Maio já se falava das empreitadas e das jornas , com um tanto para os homens e outro tanto para as mulheres e para os moços.

E naquele fim de tarde, quando pela rua a Rosa bem preparada passava, de quarta ao quadril, a caminho da Fonte do Linhas, enchi-me de coragem e perguntei-lhe se já tinha patrão. Ela corou , corámos os dois, mas ainda lhe disse : «quero ir ceifar contigo» !
 
Passados dias, não sei quantos, quando ela a caminho da fonte, fez por passar de novo, sozinha, à minha porta, ofereci-lhe uns canudos de cana que tinha feito e rameado pacientemente com a navalha.

Em troca, deu-me , mais tarde, de prenda , uma patrona que depois na ceifa, todos os dias eu usava com as mortalhas e a onça do tabaco.

Combinámos ir pedir trabalho ao mesmo patrão. Mas tardava a madrugada do dia em que no rancho podíamos ir juntos , estarmos e voltarmos , só depois do sol cair.

Até que chegou a hora, em que de manhã cedo lá fomos estrada fora e depois de duas léguas andadas, parámos na herdade, diante de um mar de pão ondulante para vencermos ceifando. Lembro-me de a ter visto tirar, devagarinho, os canudos rameados da foice para depois os colocar nos dedos. Enquanto os ajeitava, um a um, olhava na minha direção por debaixo das abas do chapéu.
 
 
 
 
 

 
 

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLVII - Por Daniel Teixeira - Alcaria Alta e os ciganos

 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLVII - Por Daniel Teixeira - Alcaria Alta e os ciganos

Devo começar por confessar que faço parte de um sector dentro da minha geração onde ser cigano tem o significado usual que tem atravessado muitos anos da nossa história. Não vou, pois, neste texto, «armar-me» em defensor acérrimo dessa etnia até porque eles disso não sentirão seguramente falta e também não vou dizer que me coloco ao lado daqueles que a não toleram de todo.
 
Vou contar uma história sem tirar nem por. Comecei cedo a criar esta convicção quase neutra que tenho hoje sobre a etnia cigana. Sou um «produto» desta sociedade em que vivemos e nada lhe acrescento neste plano nem nada lhe retiro.

A sua errância tem servido para alimentar inúmeros sonhos de liberdade e fuga às regras sociais mais custosas sobretudo quando somos jovens, a sua capacidade de viverem numa sociedade que os hostiliza e não os hostiliza conforme as circunstâncias e as conveniências pontuais tem merecido algumas referências também pontuais e o seu relacionamento com o conceito de autoridade, tanto internamente na sua comunidade como externamente na sua relação com os «outros» já foi inclusivamente objecto de teses académicas.
 
Trata-se de uma questão discutida e não discutida ao mesmo tempo, uma questão neutra, se quisermos, tal como eu apresento aqui neste meu texto. Por curioso que possa parecer a imagem que existe sobre os ciganos, em Portugal e um pouco por todo o mundo é quase a mesma que existe em relação à negritude nos países que preferem ignorar que possa existir um problema simplesmente não falando nele.

Pois, e começando propriamente, a minha mãe, essa para mim extraordinária contadora de histórias, contou-me talvez centenas delas e eu infelizmente só de quando em vez arranjo princípio, meio e fim para as contar. A primeira que aqui conto e que entra dentro deste contexto, foi logo quando o meu irmão mais novo nasceu.

Todos nascemos no antigo Hospital da Misericórdia de Faro, gerido por freiras, por razões que se prendem não tanto com a falta de ideia do uso da parteira, mais utilizada na altura, mas porque as gravidezes da minha mãe todas elas foram de risco, exceptuando a última, em que se tratou já do assunto numa perspectiva preventiva.
 
Os cuidados pré-natais eram praticamente inexistentes e todos até ao mais novo nascemos com peso excessivo. Este, o mais novo, já «beneficiou» de uma parte desses cuidados e acabou por nascer com um peso a aproximar-se daquele que agora é considerado normal para um parto normal.
 
 
 
 

 

domingo, 24 de março de 2013

Jornal Raizonline nº 215 de 25 de Março de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXVI) - Regresso ao passado

 
Jornal Raizonline nº 215 de 25 de Março de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXVI) - Regresso ao passado
 
O regresso ao passado pode ser visto pelo menos em duas perspectivas embora de uma forma corrente a conotação que se dá à expressão seja imediatamente negativa ou pelo menos, não sendo desde logo negativa, é pelo menos suspeita.

Claro que o regresso ao passado tem representado sempre uma coisa que se não pode ter, quer ela seja vista no seu aspecto positivo quer no seu aspecto negativo. Deus nos livre de um regresso à ditadura - diz-se desde logo - mas Deus não nos livre de um regresso a uma vida melhor que já tivemos e não temos quando foi e é este o caso.

Já quando se procuram trazer recordações do nosso passado trazemos sempre as melhores e os melhores momentos, fazemos uma triagem espontânea daquilo que «interessa» recordar e a consequente rejeição daquilo que não queremos lembrar ou que até, oportunamente, já esquecemos mesmo.
Portanto regressar ao passado, para todos os efeitos, mesmo sendo impossível, seria sempre voltar a ter os bons momentos que fruímos, normalmente no período da infância e da juventude e isto visto de uma forma geral porque há quem tenha tido infâncias horríveis. Mas, mesmo nestes casos, ainda que o esforço de memória seja mais intenso, mais selectivo, mesmo quem teve infâncias menos boas acaba sempre por encontrar nos meandros dos seus arquivos aqueles momentos que foram bons.

E, pasme-se quem achar que deve pasmar-se, numa parte substancial dos casos das infâncias infelizes, salvo os casos em que os traumas foram mais profundos e castrantes, é possível, nestes casos excepcionais, encontrar em cada momento bom, comparativamente e se fosse possível comparar, uma maior prazer na recordação, parcelada, caso a caso do que naqueles casos em que a abundância de momentos bons cria não só o embaraço da escolha como também a vulgarização do prazer sentido.

O que quero dizer com isto, nesta reflexão, é que de uma forma geral os valores em qualidade e em quantidade tendem a nivelar-se, ou a aparecem nivelados, nesta operação de troca de informações sobre o passado. Ou seja, tantas e tão boas recordações tem aquele que as teve fartas quanto as tem aquele que as tendo menos fartas as sente mais intensamente.
 
 
 
 
 

 

Em transito com Maria da Pemba e Lichinga - Conto - Crónica de João Furtado

 
Em transito com Maria da Pemba e Lichinga - Conto - Crónica de João Furtado
 
 
Estava sentado há cerca de duas horas na sala de trânsito do aeroporto de Joanesburgo na Africa do Sul. A sala estava, como sempre, cheia e os passageiros eram renovados constantemente. Uns chegavam e outros partiam, mas a sala continuava sempre lotada.
 
Vi uma vez mais a hora no relógio da parede mesmo a minha frente e calculei mentalmente o tempo que faltava para tomar o voo SA201 com destino a Ilha do Sal. Tinha a minha frente mais 4 horas de espera. Senti-me sozinho dentro da multidão de estranhos. Mentalmente fiz um dos milhares de poemas que jamais escreverei, imaginei a solidão que estava a sentir enquanto a minha volta dezenas de passageiros circulavam, outros tentavam se acomodar nos pequenos assentos expostos, tal como eu.
 
Tentei deitar-me utilizando três das cadeiras. Minutos depois tive que me levantar. Era difícil dormir de dia, muito menos na sala de trânsito. Levantei-me, peguei na minha bagagem de mão e fui dar uma volta. Entrei numa das lojas de utensílios de telecomunicações perguntei pela décima vez o preço de um telemóvel. A empregada pacientemente deu-me o preço em inglês, a mesma língua em que perguntei, usando todo o meu restrito vocabulário. A resposta amável e educada da empregada fez-me pensar que ou ela achava que eu era outro passageiro muito parecido e vestido da mesma maneira do outro que fez a mesma pergunta recorrendo do mesmo titubeante inglês ou a sua função era tão rotineira que deixara de reparar nos clientes para se dedicar apenas à sua missão de vendedora. Ou então eu era tão insignificante que passava despercebido entre os mortais.
 
Voltei a mesma sala depois de esticar as pernas dando duas ou três voltas. Fui para sensivelmente o mesmo espaço onde estava sentado antes. O assento onde eu estava antes uma mulher o ocupava. Eram duas, uma no assento onde eu estava, como disse e outra no assento da frente, providencialmente colocado no sentido inverso. Conversavam animadamente em Português. Sentei-me ao seu lado, mas mal reparei ou tentei ver o seu rosto. Tentei de novo dormir para que o tempo pudesse passar mais rápido. Pouco depois uma das duas levantou-se e dirigiu-se para a porta de embarque ao ser chamada pelos serviços aeroportuários. A outra, a que estava ao meu lado, ficou sozinha. Inadvertidamente voltei-me e vi o rosto dela.
 
Santo Deus era a mesma. Era a Moçambicana que havia conhecido em Maputo.