sexta-feira, 31 de maio de 2013

A Paixão de Ana (1969) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte


A Paixão de Ana (1969) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte  
 
«Minha concepção da existência continua sendo esta: existe uma maldade no ser humano, virulenta e terrível, que não pode ser explicada, e de que, entre todos os animais, só ele é capaz. Uma maldade irracional que não obedece a nenhuma lei. Cósmica. Sem motivo. E não há nada que o homem tema tanto como justamente a maldade incompreensível, inexplicável.» — Ingmar Bergman
 
As cores do pessimismo de Bergman
 
 Transparente é a liberdade de Ingmar Bergman para experimentar nesse filme que sucede a incursão do diretor no universo irracional da guerra. Querendo desafiar a si mesmo, solucionou problemas relativos ao roteiro durante a filmagem de «A Paixão de Ana» (1969), adotou o improviso, fez um uso não convencional das cores e inseriu planos não diegéticos que elidem qualquer barreira entre realidade e ficção — Max von Sydow, Bibi Andersson, Erland Josephson e Liv Ullmann falam sobre peculiaridades de seus personagens após o som da claquete; de um plano para outro, o ator despe-se do personagem.
 
Para Bergman, não foi suficiente abordar a questão da violência como fardo maldito da humanidade em apenas um filme. A direção da câmera muda, não importa mais a brutalidade eclodida por fatores políticos.
 
Em «A Paixão de Ana», a fonte de angústia é inesgotável — crise de identidade, ilusão de felicidade e total incomunicabilidade. Não plenamente satisfeito com «Vergonha» (1968), Bergman faz com que «A Paixão de Ana» seja uma espécie de ramificação do filme anterior.
 
A maldade humana como herança cósmica muito lhe interessa, irreprimível, incompreensível e indefectível. Sem motivo aparente o homem precisa destruir, agredir, verter o sangue de suas vítimas. Não há Deus que possa interferir, somente permanece o silêncio dessa figura sobrenatural (ou quimérica) que não se manifesta. Mistério perpétuo.



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