A Ultima Serenata - Conto Surreal por José Pedreira da Cruz (Tico Cruz)
Nós éramos bons amigos, e com música costumávamos fortalecer nossos vínculos de amizade. Nosso principal robe era fazer serenatas em noites de lua cheia: uma brincadeira ingênua que enriquecia nosso ego e divertíamos os enamorados.
Certa noite, eu e meus amigos João Cosme e Raimundo Torres, resolvemos fazer mais uma. Entre um gole e outro comíamos torresmo e rodelas de salame e a seguir o som do violão quebrava o silêncio daquela madrugada de brisa, luar e poesia.
«Tanto tempo longe de você
quero ao menos lhe falar.
A distância não vai impedir,
meu amor de te encontrar….(….)
quero ao menos lhe falar.
A distância não vai impedir,
meu amor de te encontrar….(….)
Eu te amo, eu te amo, eu te amo».
Havia a certeza de estarmos fazendo uma linda serenata.
Nossas canções se alternavam e muitos, na cama, se deleitavam com nossas cantorias. Já outros, xingavam-nos.
Nossas canções se alternavam e muitos, na cama, se deleitavam com nossas cantorias. Já outros, xingavam-nos.
«....esta noite, eu queria que o mundo acabasse
e para o inferno o Senhor me mandasse
para pagar todos pecados meus.......».
e para o inferno o Senhor me mandasse
para pagar todos pecados meus.......».
A bebida já, já, acabaria. Era alta noite. Plena madrugada. Hora dos corococós dos galos, e nós já havíamos cantado algumas canções e sentíamo-nos contentes e orgulhosos.
Eu, ladeado pelo dois amigos, estava sentado num dos degraus da calçada da igreja cantando e dedilhando o violão e pressentia que alguma coisa não ia bem, pois, mesmo cantando e bebendo conhaque, vinha-me pensamento desagradável: «aqui, nessa igreja, todos os mortos do lugar obrigatoriamente fazem sua última visita antes de irem para suas covas», e nós estávamos sentados justamente no caminho deles. Isto muito me desagradava e deixava-me apreensivo.
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