Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLIX - Por Daniel Teixeira - Histórias possíveis pouco confirmadas
Como se sabe, Alcaria Alta não é uma povoação fronteiriça e mesmo agora com as melhores estruturas rodoviárias não é fácil ir de Alcaria Alta a Espanha, mas havia, curiosamente, muitas histórias que me eram contadas relacionadas com Espanha.
Como já tenho dito o meu avô dedicou-se à actividade de contrabando em pequena e para mim inocente medida, mas no seu caso eu acho que ele sempre foi um andarilho, naquele sentido de procurar sempre coisas diferentes e para conseguir isso tinha de se deslocar a sítios diferentes.
Não se pode dizer que tenha corrido muito no sentido actual, até porque naquele tempo correr muito era andar para aí num raio de cinquenta ou setenta quilómetros: tinha uma série de profissões base, desde tosquiador a cardador, a pastor, a lavrador, a ceifeiro, a podador, a comerciante, a contrabandista, trabalhador braçal em estradas e caminhos de ferro, enfim, não devo esgotar aqui todas as artes que ele exerceu, mas dou uma ideia que qualquer uma delas, se excluirmos a semi - sedentária de tratar das suas terriolas, implicava deslocação.
Não se pode dizer que tenha corrido muito no sentido actual, até porque naquele tempo correr muito era andar para aí num raio de cinquenta ou setenta quilómetros: tinha uma série de profissões base, desde tosquiador a cardador, a pastor, a lavrador, a ceifeiro, a podador, a comerciante, a contrabandista, trabalhador braçal em estradas e caminhos de ferro, enfim, não devo esgotar aqui todas as artes que ele exerceu, mas dou uma ideia que qualquer uma delas, se excluirmos a semi - sedentária de tratar das suas terriolas, implicava deslocação.
Normalmente as herdades do Alentejo no caso da ceifa, os montes em redor para tosquiar e cardar, a serra de Tavira para o comércio das panelas de barro, a zona de Castro Marim a Alcoutim para trabalhar na estrada, e já mais no litoral para trabalhar nos caminhos de ferro, na instalação das linhas e todo o conjunto de coisas que isso implicava, desde trabalhar de picareta a carregar carris.
Sem que se possa tomar como exemplo este caso único é preciso acrescentar que o meu avô não era caso único. Normalmente deslocavam-se grupos para um lado e outro, para uma profissão ou outra no sentido de conseguirem complementar aquele pouco que a terra lhes dava, embora eu sempre tivesse a sensação que nunca faltava comida, coisa que parece ser comum ou normal em zonas rurais de todo o mundo, se excluirmos aquelas que sofrem efeitos constantes de secas.
Sem que se possa tomar como exemplo este caso único é preciso acrescentar que o meu avô não era caso único. Normalmente deslocavam-se grupos para um lado e outro, para uma profissão ou outra no sentido de conseguirem complementar aquele pouco que a terra lhes dava, embora eu sempre tivesse a sensação que nunca faltava comida, coisa que parece ser comum ou normal em zonas rurais de todo o mundo, se excluirmos aquelas que sofrem efeitos constantes de secas.
Poderia não haver bifes mas havia pão, queijo, chouriça, morcelas, cozidos de couve, grão, nacos de presunto e toucinho, ovos, ervas aromáticas, ervilhas, favas, batatas, enfim...ainda sinto o cheiro dos cozidos de couve portuguesa a abobrarem à rés das brasas na panela o dia inteiro.
Talvez a zona nordeste algarvia estivesse, em termos da globalidade que atrás referi, numa zona limiar entre as zonas de seca e as zonas com chuvas regulares, e por vezes excessivamente abundantes, mas este tipo de alternância sazonal fomentava a migração de proximidade, o aproveitamento de algumas obras públicas que necessitavam de mão de obra não qualificada, o trabalho nas minas, enfim, se formos contar hoje por aquilo que sabemos raro é o filho da terra que por lá se ficou a seguir aos anos 60 o que singularmente quer dizer que as alternativas migratórias de proximidade existentes deixaram de produzir o efeito esperado.
Talvez a zona nordeste algarvia estivesse, em termos da globalidade que atrás referi, numa zona limiar entre as zonas de seca e as zonas com chuvas regulares, e por vezes excessivamente abundantes, mas este tipo de alternância sazonal fomentava a migração de proximidade, o aproveitamento de algumas obras públicas que necessitavam de mão de obra não qualificada, o trabalho nas minas, enfim, se formos contar hoje por aquilo que sabemos raro é o filho da terra que por lá se ficou a seguir aos anos 60 o que singularmente quer dizer que as alternativas migratórias de proximidade existentes deixaram de produzir o efeito esperado.
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