«Vó Aninha» - Crónica de Arlete Deretti Fernandes
A modesta senhorinha, de estatura baixa e corpo franzino, foi testemunha viva de um século de História em nosso país. Ela era minha avó materna e viveu com lucidez até aos 103 anos. Nasceu em 1876. Descendente de açorianos, vó Aninha tinha 14 irmãos. Quando batizados recebiam o nome do santo do dia, ou de personagens históricos. Cristovam nasceu em 12 de outubro, aí a homenagem foi ao descobridor da América, Colombo. Por ficar viúva muito cedo, Vó Ana morava com meus pais. Daí sua influência em nossa formação. Ela era de uma disposição invejável. Grande cozinheira e ainda melhor costureira.
Nossa casa tinha um corredor grande e uma varanda. Quando alguém «se passava», era uma corrida só pelo longo corredor, para depois pular a janela e o peitoril da varanda, se escapando da chinelada, que ardia. Logo a seguir passava a vó atrás com o chinelo na mão. No verão subíamos nas árvores onde não raras vezes éramos picados por marimbondos . Outras vezes saíamos pelos pastos da pequena fazenda capturando borboletas com um saco apropriado para a finalidade.
Depois do almoço, como o sol era muito forte, vó Aninha colocava o «pegador de borboletas» sob o seu colchão enquanto descansava. E nós, ficávamos esperando-a levantar-se. Havia em nossa casa um poço fundo, de água potável, onde se retirava a água limpa e pura, com um balde ou uma bomba elétrica. Meu irmão tinha um gato de estimação que costumava dormir sobre a sólida tampa de cimento do poço. Um belo dia o poço ficou aberto por uns segundos, enquanto a água era retirada.
O gato acostumado a pular sobre a tampa, desta vez caiu no vácuo e lá embaixo emitia miados desesperadores. O dono do gato chorava sem parar, até que chamaram meu pai, que retirou o bichano com um balde, para a alegria de meu irmão e o trabalho que papai teve de esgotar o poço. Enquanto meu irmão gritava, minha avó pegou-lhe pelo suspensório que ficou em suas mãos, e ele escapou.
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