domingo, 19 de maio de 2013

 
Cabelo branco - Crónica - Por Virgínia Teixeira 
 
Hoje descobri entre os meus cabelos longos de um castanho escuro não manchado por tintas nem permanentes como tantos outros, mais um cabelo branco.
 
Não é o primeiro, nem deveria importar mais do que qualquer outro, mas à beira de completar três dezenas de anos, parece ressaltar-se a sua brancura por entre o castanho impoluto dos restantes.
 
Este cabelo branco que atribuo às muitas preocupações e tristezas que me calharam na vida (como tantas outras mulheres) parece gritar-me, obrigando-me a uma reflexão supérflua e fútil do tipo das que raramente me deixo contemplar.
 
Sinto mais pesados os vinte e muitos anos (quase trinta) que carrego e, como uma anciã, dou comigo a recordar eventos que me parecem ter ocorrido há tão pouco tempo e que na verdade distam demais.
 
Quando era pequenina, com uns seis ou sete aninhos ainda, posso imaginar-me claramente a caminho da escola primária e lembro-me de cada casa e cada pedra da calçada que percorria.
 
A minha professora, a quem nunca esqueci, costumava vestir uma camisola felpuda que nos fazia sentir tão acarinhados que ela não tinha como evitar nesses dias ter sempre crianças a lutar pelo direito de se roçar na lã, o que imagino que a agradasse porque me recordo de a ver com a mesma camisola repetidas vezes ao longo dos quatro anos em que me ensinou as primeiras letras, contas, e até tentou ensinar a bordar, coisa para a qual assumo que não fui fadada, malogrado as minhas muitas tentativas ao longo dos anos.
 
 
 
 
 

 

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