sábado, 4 de maio de 2013

Reflexões no meu outono - Trabalho, o custo humano - Autoria: Cecílio Elias Netto

 
Reflexões no meu outono - Trabalho, o custo humano - Autoria: Cecílio Elias Netto 
 
A formiguinha, acabrunhada, quase sem entender aquele paradoxo da vida, perguntou: «Você irá morar em Paris?» A cigarra, exultante, confirmou: «Sim, querida. Em Paris, mantida por meu amante.»
 
Toda vez que se reflete sobre trabalho – ou quando se comemora um dia para homenageá-lo e ao trabalhador – acabo por me lembrar da fábula de La Fontaine, sobre a formiga e a cigarra. Não a versão verdadeira, a dele. Mas uma outra, que surgiu – partindo da clássica – com uma reflexão moderna.
 
E é o seguinte. Como na versão clássica, a formiguinha trabalhava muito, esfalfava-se, cumpria todos os seus deveres, cansava-se, enquanto a cigarra ficava na folga, divertindo-se, indo a baladas, boêmia e preguiçosa. A cada inverno, lá se ia a cigarra pedindo abrigo e asilo à formiga que, generosa, lhos dava. E assim correu-lhes a vida. E assim passava-se o tempo.
 
Em certo inverno, a formiguinha ouviu baterem-lhe à porta. Ao dirigir-se para abri-la, pensou na cigarra, certamente com frio e com fome. E era mesmo a cigarra. Só que, vestindo um maravilhoso casaco de peles, com pérolas no pescoço, diamantes nos dedos. E, na rua, uma limusine com motorista. Toda feliz, a cigarra abraçou a formiguinha contando-lhe: «Amiga querida. Vim aqui para lhe agradecer tudo o que você fez por mim nestes anos todos. E, também, para me despedir. Estou indo para Paris, no jatinho particular de meu amante, com quem irei morar.»
 
A formiguinha, acabrunhada, quase sem entender aquele paradoxo da vida, perguntou: «Você irá morar em Paris?» A cigarra, exultante, confirmou: «Sim, querida. Em Paris, mantida por meu amante.» E a formiga: «Então, vou lhe fazer um pedido. Se você, lá, encontrar o tal de La Fontaine faça-me o favor de lhe dizer que eu o mandei para a p… que o pariu.»
 
 
 
 
 

 

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