OUTRAS CIGARRAS E OUTRAS FORMIGAS - Por Mário Henrique Matta e Silva
Um ano que ainda há pouco começou, cheio de maus presságios a prometer um Inverno bem frio e bem chuvoso.
O crepúsculo nem parece o mesmo, sem aquele conjunto de cores que faz a transição para a noite cerrada, na maravilha das constelações em jornada celeste num azul doce. Nada disso. Os dias já vão escuros, frios e húmidos demais para mostrar essa despedida de sóis radiosos e mornos e as noites enluaradas.
Neste desaconchego de um rigoroso Inverno não faltam as cigarras e as formigas, umas cantando outras labutando. Em tempo de recessão não admira porém que sejam outras as cigarras e outras as formigas a esgueirarem-se pelo ruído dos noticiários ou da comunicação social em peso, na guerras das audiências (TV e rádios) e das compras (jornais, revistas…) porque o seu poder de persuasão (mais do que de entretenimento) é tão agressivo que nos trás, diariamente, as maiores brutalidades que o País e o Mundo contém, em si mesmo, esvaindo-se em guerras, em assassinatos, em desavenças, em descrenças, em ódios, em calúnias, em subornos, em roubos, em falcatruas, em doenças, em denúncias, em fraudes, em desemprego, em ruína…
Por outro lado, esse mesmo dia-a-dia mostra-nos bem falantes, opiniosos, malabaristas, astuciosos, tribunos, defensores de criminosos alegando inocência, prevaricadores procurando impunidades, ladrões e criminosos com direito a liberdade, poderes frouxos, políticos audazes a querer convencer os contribuintes, os arautos da cidadania em bicos dos pés em arremessos de autoridade, os ciosos, os traficantes, os arruaceiros, os gananciosos, os palavrosos… que são, sem sombra de dúvida essas outras cigarras, cantando, botando discurso, fazendo batota.
Sem comentários:
Enviar um comentário