sábado, 18 de maio de 2013

Os nossos cães - O Lyon - Conto / Crónica de Daniel Teixeira

 
Os nossos cães - O Lyon - Conto / Crónica de Daniel Teixeira
 
Até hoje - conforme já tenho escrito - e que eu me lembre assim por alto devemos ter tido em nossa casa de família talvez uns dez cães. Os canídeos não vivem tanto como nós, e tivemos alguns em segunda mão, quer dizer, cães vadios de idade indefinida que acabavam por asilar à companhia do cão ou cadela oficial e que depois por serem engraçados, meigos e outros atributos acabavam por ficar.

A primeira condição para estadia conjunta era darem-se bem com o outro (o oficial) e com os gatos que proliferavam pelo quintal, exames aos quais todos iam passando mais ralheta menos ralheta.

Quando regressei de França deparei-me desde logo com um Serra da Estrela, injustamente, a meu ver, considerado arrafeirado, porque não tinha o céu da boca preto.
Foi o que bastou para que a minha prima o deixasse ficar lá por casa sobretudo para tentar esquecer o dinheirão que tinha pago por ele, indo expressamente buscá-lo à origem para satisfazer um insistente pedido da sua filha.

O Lyon foi assim baptizado por ter entrado na «família» numa altura em que eu estava em Lyon - França e era um bom cão, apesar de não me deixar entrar em casa nos primeiros dias, mas depressa se habituou ao estranho que era eu.
Uma enormidade de animal, manso como um cordeiro, salvo quando os instintos falavam mais alto. Só o meu pai conseguia acalmá-lo nessa altura, talvez porque ele o considerasse aquilo a que o televisivo César Millan define como sendo o chefe da matilha.

A propósito, sou fã do César Millan, no Facebook, por pedido da minha neta e assisti a alguns programas dele vendo a sua extraordinária capacidade de dar a volta ao prego colocando a «culpa» dos desvarios de cada animal nesta importante função: ele, o animal, tem de saber quem manda e o dono tem de saber mandar.

Dono fracote de autoridade não serve, segundo as suas teorias, o que enjeita desde logo não só os donos cúmplices e tolerantes como aqueles que pela idade vão tendo pouca disposição para mostrarem que mandam, numa altura em que a sociedade e a idade e vice versa e o conjunto das duas os fazem sentir que cada vez mandam menos e que cada vez estão menos disponíveis para exercer qualquer comando.
 
 
 

 

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