Dorival não era assim - Por Marcelo Pirajá Sguassábia
- Estou lhe dizendo e tenho como provar. Fui o personal trainer do Dorival Caymmi de 1976 até o dia do desencarne. Ele fazia a vida toda o marketing da preguiça baiana, essa é que é a verdade. Ninguém chegaria aos 94 se entupindo de vatapá, espraiado na rede e só saindo dela para ficar se lamentando de saudade da Bahia.
- Mas nenhum baiano fez isso tão bem quanto ele.
- Lógico. Quem sou eu pra questionar? Mas se tinha tanta saudade assim da terra dele, porque não voltava logo de uma vez pra lá? Podia morar onde bem entendesse, o homem era mito, monstro sagrado. Ele não queria era sair do Rio de Janeiro, da academia de ginástica particular que tinha em casa, das doses cavalares de Mega Mass.
- Você é um caluniador, está chutando cachorro morto. Cometa suas infâmias com quem é vivo e pode se defender. O que você quer é difamar o bom nome do ícone da letargia soteropolitana. A malemolência malandra do brasileiro deve muito ao sábio sedentarismo de Dorival.
- Pois eu lhe digo que o homem puxava ferro como ninguém, meu amigo, das quatro às sete e meia da manhã, inclusive aos domingos. E depois dos aparelhos de musculação vinham as sessões infindáveis de abdominais e bicicleta ergométrica na carga máxima.
Aí quando chegava a imprensa ele escondia tudo, me dispensava mais cedo e vinha com aquela conversa que não fazia esforço pra não gastar o corpo, que esse era o segredo da longevidade, a baboseira toda que você já conhece e que a mídia só foi ajudando a espalhar. Baiano esperto, espertíssimo. Aquele andar moroso era cansaço físico. Era fadiga muscular, ligamento estirado e outros transtornos de quem pega pesado demais na malhação.
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