sábado, 25 de maio de 2013

Incêndio passional da juventude de um Nobel - Crónica Por José Viale Moutinho

 
Incêndio passional da juventude de um Nobel - Crónica Por José Viale Moutinho 
 
Não, não me refiro ao Saramago, que é Nobel de Literatura, mas ao cientista Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina no longínquo ano de 1949. Outro dia, apanhei na estante um seu livro de memórias, A Nossa Casa, de 1950, e aí ele refere-se a duas viagens suas a Santiago, na primeira das quais se lhe ateou o que ele designa de incêndio passional da juventude.
Conta o prof. Egas Moniz que, em 1897 (o grande fadista coimbrão Hilário morrera no ano anterior), em resposta a uma visita feita pelos tunos compostelanos, os seus camaradas de Coimbra foram a Santiago. «Na passagem em Tui, para a Galiza, escreve o então estudante de Medicina, começaram as manifestações a Santiago que, no céu, se devia sentir atemorizado com tanta evocação do seu nome, em apóstrofes infindáveis.»
 
Depois: «Cantavam-se canções portuguesas e galegas, muitas vezes concordantes na sua toada folclórica que, naquela noite luarenta, trazia em chamas, arrebatamentos inesperados.» Egas Moniz discursava e os seus colegas cantavam.

«E logo me prenderam os olhos negros de uma esbelta rapariga que no seu camarote ostentava no cabelo preto uma rosa vermelha que me serviu para qualquer frase apropriada. Todos se aperceberam da minha predilecção e ela própria não deixou de a sentir.»
 
Entre recitais, o moço acabou por conhecer pessoalmente a tal jovem, com quem teve aceso carteio. «Foi nessa época que surgiu a guerra de Cuba, em que a heroicidade espanhola foi aniquilada pela força dos estados Unidos.
 
A formosa compostelana prendeu-se por tal forma a essa luta, acendrou-se tanto no seu patriotismo exaltado de espanhola, que foi assunto fundamental das suas cartas. Não escondo que houve da minha parte, dado a entusiasmos, alguns madrigais; mas tudo isso era secundário. Pelo meu lado, também andava interessado nessa guerra, prevendo, como toda a gente, um desastre para a Espanha, mas tomando partido a seu lado.»
 
 
 
 
 
 

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