sábado, 1 de junho de 2013

Minhas Primeiras sextas-feiras - Por João Furtado


Minhas Primeiras sextas-feiras - Por João Furtado
 
Apenas li o título.Foi no Liberal Online. Não tinha tempo.   Estava tão sem tempo que nem li quem foi o autor da obra. Nem cheguei a saber se era uma crónica, um poema ou um conto. Alias, havia lido apenas o título porque era a minha mulher que estava online a ler jornais. Eu vi de raspão. «KADA KATCHOR TEM SI SESTA FERA» era o título. Lembrei que estava tendo as minhas sextas-feiras.
 
Estou a tratar de um empréstimo para estudos para meu filho. Jurei a mim mesmo que eles completariam os estudos. Nenhum deles ficaria apenas com instrução primária, como eu. Sei o que passo diariamente. Consigo fazer o meu trabalho com o mínimo de qualidade exigido, ao ponto de ser até difícil me darem férias. Entretanto não posso ser remunerado pelo meu trabalho porque não sou licenciado.   Se fosse licenciado podia ganhar pelo trabalho que actualmente faço mesmo se fizesse apenas um por cento do que estou a fazer. Não obstante estar farto de dizer para me pagarem, não pelo meu rosto, não pelo meu diploma que não tenho, mas pelo trabalho que ofereço. Pela garantia que dou. Nada, bem isto também não vem ao caso agora.  
 
Para fazer empréstimo, tenho que hipotecar a única coisa válida que eu e minha mulher temos. Estou cá a dizer eu, eu e eu, mas devia dizer nós, eu e ela ou melhor ela e eu. Espero que ela me perdoe, mas estou a falar das minhas sextas-feiras.   Disse que para fazer empréstimo é preciso hipotecar coisa válida economicamente aos olhos bancários, no meu caso a casa. Para hipotecar é preciso entre outras coisas a certidão do registo da propriedade. E para tirar a certidão é preciso ir, julgava eu, duas vezes aos serviços de registo de propriedade. A primeira vez até que me pareceu muito promissor. Sai de lá a rir de satisfação.
 
Já ia mentalizado que o prazo era dez dias. Não me receberam com flores, nem me estenderam tapete vermelho, bem, não esperava tanto.   A senhora não foi nada simpática. Mas isto eu já me habituei. Cá nesta nossa terra de Morabeza, tão falada e tão apregoada, não se paga para se ser simpático. A Morabeza é gratuita, como tal só oferecemos aos estrangeiros. Até acho bem que tratemos bem aos nossos visitantes, aliás gostaria que fossemos muito mais agasalhadores. Principalmente com os ditos mandjacos, estes, coitados, são tão maltratados.  





 

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