sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Corcundas da Vida - Texto de Carolina Teixeira - Blogue Coisas da Vida

 
Corcundas da Vida - Texto de Carolina Teixeira - Blogue Coisas da Vida 
 
Por vezes, ou simplesmente muitas vezes, você nota que não entende absolutamente nada do que a vida está tentando falar para você. As interpretações não poderiam ser mais duvidosas, e os sussurros mais impossíveis de serem ouvidos.
 
Então você começa a abaixar a cabeça, a se encurvar e caminhar a passos mais rápidos para não ser impedido por ninguém. Sem compreender os acontecimentos, só consegue entender a necessidade de fugir, correr, sumir; pelo menos, se comporta de modo a ser pouco notado pelos outros. Assim, não será cobrado pelas não compreensões de todas os minutos vividos sem noção alguma de sua vivência.
 
Quando se dá conta, já está mais para Corcunda de Notre Dame do que qualquer outro personagem corajoso explorado por algum quadrinho ou filme. Não consegue levantar a cabeça, só enxerga os pés e o horizonte vira uma visão de sonhos. Pouco a pouco, se acostuma com a velocidade, com a ausência de entender, com o automatismo, e até se sente confortável com as costas encurvadas - é mais perto do chão, impede quedas.
 
Claro que esta nova aceitação de vida não lhe impede de se considerar um marginal, e constantemente se lembra do quanto é vítima de uma sociedade e vida que são incapazes de gastar um tempo contigo para lhe ouvir, e fazer compreender todo o resto que você não ouve mais. Assim como o Corcunda se aceita pela facilidade da ausência de luta, mas rejeita o mundo e não permite seus contatos.
 
 
 
 

 

Escritor por que - Por Abilio Pacheco

 
Escritor por que - Por Abilio Pacheco
 
Escritor, por quê?

Em Como e porque sou romancista, José de Alencar tenta responder denotativamente a pergunta que tantas vezes se faz aos autores. A maioria dos escritores parece dar respostas metafóricas, poéticas, até românticas.

 
Neste livro de seus livros, nosso arqui-romancista se pergunta se não teria sido a «leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro [lhe] imprimiu no espírito» o desejo de ser escritor dessa forma literária de sua predileção.

Ora ou outra esbarro também na pergunta, embora eu seja um projeto de escritor. Escrevo meus versinhos, uns continhos curtos, agora crônicas e tenho cá uns esqueletos de romances. No meu blog/site, a indicação escritor é mais um desejo, uma pretensão e uma presunção que necessariamente uma verdade. Mas fico tentado a refletir sobre esta pergunta, feita nestes termos ou de forma parafrásica: Por que você escreve?

Se digitar a pergunta no google, você vai encontrar mais de meio milhão de links. Uma pergunta recorrente. Para mim, foi Oscar D’Ambrósio, da Rádio UNESP, quem mais recentemente me perguntou isso numa entrevista que concedi ao programa Perfil Literário. Ele me perguntou como foi meu primeiro contato com o objeto livro e se eu venho de uma família de leitores.

Na resposta, eu aponto três tipos de leituras que potencialmente tenham imprimido em mim esta vontade de escrever. A coleção Vagalume que eu pegava de empréstimo nas bibliotecas das escolas onde estudei em Marabá (especialmente a Biblioteca da Escola Jonathas Pontes Athias), os best-selleres de Sidney Sheldon, que meu irmão Ezequiel me motivou a ler, e os discos da Coleção Taba Cultural, que ganhei de minha mãe.

 
Na verdade, são leituras de três momentos diferentes. A Taba mais na infância, Vagalume entre a segunda e a quarta séries e Sidney Sheldon de quinta série em diante. Depois da entrevista lembrei de outras leituras que fizeram parte de meu cotidiano de criança e adolescente e que poderiam ingressar na resposta de modo a deixá-la mais completa.
 
 
Leia este tema completo a partir de 03/12/2012
 
 

 

Página de Arlete Deretti Fernandes - OBRIGADA,JOSE SARAMAGO

 
Página de Arlete Deretti Fernandes - OBRIGADA,JOSE SARAMAGO. 
 
José Saramago é um escritor digno de toda a consideração e respeito pelas ideias e princípios que defendeu com tanta integridade.
 
Foi o primeiro e até hoje o único Nobel de Literatura da Língua Portuguesa, sempre engajado, imaginativo e sem medo da polémica.
 
«O escritor que apresentou a Língua Portuguesa ao Mundo, colocou nosso idioma no mapa - mundi da melhor literatura contemporânea.»
 
Sua obra é magnífica, sobre ela foram escritas muitas teses. Ele reinventou a escrita saramágica, com seus parágrafos enormes e sem pontuação.
 
Criou uma Blimunda que via a alma das pessoas; criou um Caim que, viajante no tempo do Velho Testamento, questiona a justiça de Deus e destrói o mundo matando toda a humanidade na Arca de Noé e assim se vingando por ter sido preterido.
 
Criou Madalena que proferiu uma das frases mais teológicas de sua obra: «Ninguém na vida teve tantos pecados que mereça morrer duas vezes». Com esta frase ela impede que Jesus ressuscite Lázaro.
 
Redimiu Madalena consagrando-a como a discípula amada, transformou o Diabo numa espécie de terceiro homem da trindade, redimiu Judas.
 Eis o Saramago ateu declarado, mas apaixonado pela Bíblia e seus personagens. Para ele, Jesus Cristo era a chave para o humano e não para o divino.
 
Sua crença maior chamava-se Homem. Filósofo e defensor do Antropocêntrico afirmava em um de seus romances: «Que os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito nascer sem asas e fazê-las crescer».
 
Seu maior prémio foi o Nobel de Literatura em 1998. Ganhou também o Prémio Camões, em 1995.
 
 
 

 
 

Poesia e Prosa Poética de Arlete Deretti Fernandes - Anseios da Alma; Alquimia; Cheiro de Manacá (Prosa)

 
Poesia e Prosa Poética de Arlete Deretti Fernandes - Anseios da Alma; Alquimia; Cheiro de Manacá (Prosa)
 
 
Anseios da Alma
 
No meio da tarde um cão ladra.
 é sinal de que alguém chega ao portão.
 São sons que se repetem em toda quadra
 milhares de vezes nas calçadas do coração.

Um cão late dentro de mim a compassar.
 é meu coração que pulsa em liberdade,
 são sentimentos de amor que quer expressar.
 De amor à vida, esta grande oportunidade!
 
Alquimia
 
 Como forte luz que cintila, sinto-te arder.
 Em torno de ti giram meus pensamentos,
 Como a mariposa em volta da lâmpada
 Atraída pelo brilho que me faz aquecer.

Alento e força me ofereces como o oxigênio
 Que entra em meu sangue e dá-me a vida.
 é um composto de amor, de aroma doce,
 Este que se desprende do riso de tua boca,
 
Cheiro de Manacá (Prosa)
 
 A memória desempenha um papel importante na vida humana. é a evocação do passado. é a nossa capacidade de segurar e guardar o tempo que que se foi, salvando-o da perda total.

Há lembranças que se nos afloram através de um sabor ou de um cheiro. Há odores que aproximam suaves recordações.

O cheiro da flor de manacá me remete ao jardim da casa onde vivi minha infância. Um arbusto que minha avó cultivava com carinho, e que na primavera se cobria de flores liláses e brancas, esparramando pelo ambiente um doce e agradável perfume.
 
 
 
 


 

Noite iluminada; Novas forças - Poemas de Haroldo P. Barboza

 
Noite iluminada; Novas forças - Poemas de Haroldo P. Barboza
 
 
 
Noite iluminada
 
 No rastro da estrela-guia
 A noturna bala perdida
 Ceifou mais uma vida.
 
Na janela
 
Dormiu tendo fé
 Pela manhã sua meia
 Só continha chulé.
 
Anúncio
 
 Sonhou com o presente
 Pedido a Papai Noel
 Não ganhou nem o papel.
 
Novas forças
 
 F ama, dinheiro e poder
 E m muitas almas residem
 L evando-as a um sofrimento
 I nvisível, lento e gradual
 Z erando nossa base espiritual.
 
N unca devemos desanimar
 A um mero sopro de fraqueza
 T entemos enaltecer a Vida
 A través do amor e da emoção
 L egando alegria pelo coração.
 
 
 
 
 

 

DE OLHO NA ESTRELA GUIA, POEMA DE NATAL por Sandra Fayad - Um feliz Natal a todos ! - Conto de José Geraldo Martinez

                
 
DE OLHO NA ESTRELA GUIA, POEMA DE NATAL por Sandra Fayad  - Um feliz Natal a todos ! - Conto de José Geraldo Martinez
 
 
DE OLHO NA ESTRELA GUIA, POEMA DE NATAL
 
 Por Sandra Fayad
 
 Abraços efusivos,
 Sorrisos, alegria,
 Fogos, muito brilho,
 Encontros, emoções...
 Glamour que se repete
 Ou se cria
 Simultaneamente,
 Na festa de bilhões.
 Há tantos que comemoram
 Em perfeita sintonia.
 Braços estendidos
 Por todas as nações
 Na data histórica,
 
Um feliz Natal a todos !
 
 Conto de José Geraldo Martinez
 
 Chega o Natal e tudo é esquecido! A guerra, o racismo, o ódio, o fanatismo, a fome, a violência...
 Nesta noite mágica são preparados quitutes, assados e uma bonita árvore de Natal. O vinho cheira uva e cora o rosto das pessoas...
 
As crianças sonham com seus presentes e a casa ganha alegria na algazarra de vozes, que se misturam, dos parentes e amigos.
 
As luzes enfeitam os pinheiros e piscam multicores nos jardins e lojas. A noite natalina comummente derrama uma chuva mansa, levantando do chão os cheiros das folhagens e flores que brilham às luzes das guirlandas penduradas pelas portas das casas festivas.
 
As harpas tocam conhecidas melodias de Natal. Noite mágica ! O forno traz as roscas e panetones a enfeitarem a mesa farta e decorada! Tanto capricho visto nos detalhes do presépio cuidadosamente arrumado na sala...
 
E é a mão da mulher! Bendita mulher que nesta noite de Natal nos faz esquecer um pouco do mundo! Quantas delas nesta mesma noite, estariam acariciando o cabelo do filho que dorme agarrado ao seu brinquedo...Quantas outras esperando aquele que ainda não chegou...
 
 
 
 
 

 
 

Poemas de Natal por Arlete Piedade... - Reis Magos; Natal de Mudança; Significado do Natal

 
Poemas de Natal por Arlete Piedade... - Reis Magos; Natal de Mudança; Significado do Natal
 
 
 
 Reis Magos
 
 Que estrela surpreendente,
além no céu está andando,
 guia os reis magos em frente,
 para o menino ir buscando!
 
Para o menino ir buscando,
 vieram de longe, do oriente,
 dias e noites, caminhando,
 seguindo a estrela luzente!
 
Natal de Mudança
 
 Neste Natal de mudanças
 Sinto haver diferenças
 lampejam as esperanças
 reduzem-se as sentenças
 
Brilham no céu as estrelas
 Com os estranhos bailados
 Aqui ficamos a vê-las
 Decifrando seus ditados
 
Significado do Natal
 
 Interrogo-me qual é o significado do Natal,
 se continua a fome e violência neste tempo,
 afinal será que evoluímos, ou vencerá o mal?
 quando será que ás nações é dado sentimento?
 Os bens materiais, parecem ser a única meta
 quando devia, agora, prevalecer o espiritual,
 devíamos olhar com os olhos da alma secreta
 e aliviar sofrimentos, nosso almejado ideal!
 
 
 
 

 

Dois Poemas de Natal por Patrícia Neme e João Furtado - Poesia de Natal por Patricia Neme: FELIZ NATAL? ; Poesia de Natal por João Furtado - NATAL FELIZ PARA TODOS

      
 
Dois Poemas de Natal por Patrícia Neme e João Furtado - Poesia de Natal por Patricia Neme: FELIZ NATAL? ; Poesia de Natal por João Furtado - NATAL FELIZ PARA TODOS
 
Poesia de Natal por Patricia Neme
 
FELIZ NATAL?
 
 Outro dezembro... E eu me pergunto, apenas,
 se existe uma razão pra celebrar
 a fome das crianças... Tão pequenas...
 Sonhando com o que não vão ganhar.
 Outro dezembro... E vidas pouco amenas,
 desejam paz na terra, paz no lar.
 E esperam que as palavras nazarenas,
 se façam pão, abrigo... E o muito amar!
 
Poesia de Natal por João Furtado
 
 NATAL FELIZ PARA TODOS
 
 N - Neste NATAL de um ano tão sofrido
 A - Amor, Paz e união há todos desejo
 T - Tenho que recordar de Manuel de Novas
 A - As suas belas musicas natalícias
 L - Lamento sua morte e paz a sua alma!
 F - Falar de Natal é falar de vida
 E - Esperar do mundo a compreensão
L - Ler nos olhos das crianças a alegria
 I - Imaginar todos como irmãos neste mundo
 Z - Zelosamente guardados por Deus nosso Pai!
 
 
Leia este tema completo a partir de 03/12/2012
 
 
 

 
 

Coluna de Liliana Josué - NATAL - AS ESTRELAS NO NATAL

 
Coluna de Liliana Josué - NATAL - AS ESTRELAS NO NATAL
 
 
NATAL
 
 Cheira a pinheiros e a neve…
Toscas imagens de barro…
Sinto aquele ar muito leve
 Desses tempos que eu agarro
 Olhos fremindo ilusões
 De criança enfeitiçada
 P’los brilhos dos corações
 Com que a vida é enfeitada
 
AS ESTRELAS NO NATAL
 
Cristais de gelo vestiram meu corpo de frio; pedras lindas, preciosas; lágrimas do céu debulhadas pelo chão. E tudo se tingiu de branco transparente.
 
Há muito que o sol se despedira, correndo através do horizonte. Foi galantear outras terras com sorrisos largos e quentes que elas, em sinuosas ondulações, aceitavam e queriam.
 
A noite chegou de mansinho em ares de menina caprichosa. Acariciou os adormecidos cristais e por mim roçou o seu frio manto numa alegria etérea; brincou com as sombras das nuvens, desaparecendo elas como ninfas fugindo ao seu perseguidor.
 
A nívea lua adormeceu no seu quarto minguante, enquanto esperava serenamente a metamorfose da lua nova.
 
Brancas farripas de neve deslizaram do alto, juntando-se aos seus enamorados cristais fundindo-se num só ser, pois assim é o amor.
 
 
 
 
 

 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Poemas de Natal - Maria da Fonseca - Novo Natal; Tradição do Natal; Natal

 
Poemas de Natal - Maria da Fonseca - Novo Natal; Tradição do Natal; Natal
 
 
Novo Natal
 
 Mais um Natal a chegar
 De incerteza para o Mundo.
 Não cessam de discordar,
 Agravando mal profundo.
 
Eu rezo e desespero,
 Pela Paz, ó meu Senhor,
 E não sou só eu que quero,
 São multidões, com fervor.
 
Tradição do Natal
 
 O meu Menino
Jesus
 Todos os anos
chegava
 Com as prendas que eu
queria
 Com o que mais
desejava
 Não havia de O
amar
 Pois se até me
respondia
 Em linda letra de
forma
 Escrevendo no outro
dia
 
Natal
 
 Virgem Santa, Imaculada,
 Os desígnios do Senhor,
 Aceitaste humilde e pura,
 Ser a Mãe do Redentor.
 
E em lindo Dia
Sagrado
 Deste à luz o Deus Menino
 Numa choupana em Belém,
 Marcado fora o destino.
 
Nasceu sem ter o seu
tecto
 Nem o berço preparado,
 Porque os Pais se deslocaram
 Pra cumprir o editado.
 
 
 
 

 
 

Feliz Natal! - Por Marcelo Torca

 
Feliz Natal! - Por Marcelo Torca
 
 
A sua mensagem de natal está em:
http://natal.macrisan.net/
Cordialmente, Morales.www.marcelotorca.com
 
 Missa de Natal
 
 Entrada.
 
Vamos com alegria orar
 Neste encontro revelar
 A paz que o Menino Jesus vem nos dar

 Orar ao Menino Jesus
 Festejar a nova vida proporcionada
 Criada para a Salvação
 A conversão é o projeto Divino

 Unidos para comemorar este Natal
 Nascimento de uma vida Divinal
 Festejos da data anual

 
 Ato Penitencial.
 
Perdão venho pedir
 Menino Jesus
 Neste Natal que se aproxima
 Perdão eu peço

 Senhor, perdão
 Por omissão
 Senhor, perdão

 Perdão venho pedir
 Menino Jesus
 Pela falta de compreensão

 
 
 Leia este tema completo a partir de 03/12/2012
 
 
 

 
 

Uma crónica de Natal - Prosa de Ilona Bastos

 
Uma crónica de Natal - Prosa de Ilona Bastos 
 
São felizes as recordações que guardo dos Natais da minha infância. Reconheço que algumas das memórias possam ter sido douradas pelo tempo, mas sei, também, que se ao pensar nos Natais de então os sinto como felizes, é porque essas festas antigas algumas sementes de felicidade em mim depositaram, fazendo germinar as imagens que agora contemplo.
 
Lembro-me, assim, de casas quentes e cheias de crianças risonhas, e de festas bem iluminadas por lustres e candelabros, cuja claridade tornava brilhantes as loiças, os copos de cristal, os talheres, o rendilhado das toalhas de linho, as comidas e doces tradicionais, as imagens do Presépio e os enfeites natalícios, revestindo tudo e todos de uma película de luxo e encanto.
 
O interessante é que eu não gosto particularmente do luxo, ou do que habitualmente se considera como tal. Mas o luxo da luz, do brilho, da transparência dos vidros e dos cristais associa-se, no meu espírito e no meu coração, ao calor humano, ao carinho, ao convívio, às risadas e correrias, aos momentos de felicidade!
 
De estranho, ficou-me, porém, durante longos anos, o mistério de as minhas tias avós – traves mestras da família –, se encontrarem ausentes dessas festas da consoada ou do dia de Natal, as quais eram sempre realizadas nas casas dos familiares mais jovens (que eram, nessa época, os meus pais, os meus tios e uns primos da mesma idade).
 
Por qualquer motivo que eu não chegava a compreender, quando se falava em convidar as tias para estas reuniões festivas, havia um adulto que adoptava um semblante grave, baixava a voz, e respondia que as tias preferiam passar o Natal tranquilamente, na sua casa.
 
 
 
 
 

 

Coluna de Rosa Pena - O Natal é vermelho;Desmemória

 
Coluna de Rosa Pena - O Natal é vermelho;Desmemória 
 
 
O Natal é vermelho
 
 A mãe já estava entrando na terceira idade e começava a sentir aquela pontinha de desânimo, aquele tanto faz como tanto fez, entre eles... armar a árvore de Natal, fazer ceia.
 
E pensar que ela sempre fez uma questão danada de muitos enfeites, do presépio, da guirlanda na porta, de um peru maravilhoso. Foram festas lindas, fantásticas. E pensar, e pensar, e pensar!
 
Pronto: Agora nada de pensar, muito menos navegar na nostalgia. Saudade vá procurar outro coração, pois esse não lhe pertence. Replay de Natal fica por conta do Rei RC que só varia a roupa de branco para azul ou de azul para branco. Inovar é a palavra de ordem.
 
O marido sempre acompanhou suas resoluções. Dos sete filhos agora só dois moravam com eles naquela casa linda e imensa. Empregados nessa época folgam. O trabalho e o silêncio dobram.
 
Desmemória
 
 Hoje pela manhã vi homens trabalhando arduamente para colocarem enfeites de Natal nas vias. Subiam em postes, botavam lâmpadas e ao mesmo tempo espantavam os meninos de rua que por ali perambulavam atraídos pelo brilho.
 
Maldita curiosidade em relação à alegria têm esses moleques.
 
Ontem recebi mais um convite para jantar, onde decidiremos como será o Natal sem fome.
 
Quantos anúncios publicitários devem ser feitos para se ajudar ao próximo? De quanto é a doação para acreditarmos no programa Fome Zero?
 
Final de ano! Qual é a maneira de pagar o tributo social com aqueles tratados como inferiores durante onze meses?
 
Do décimo andar vejo novos cartazes com propagandas de olho no décimo terceiro, não andar, mas salário. Começo a pensar que para ser uma pessoa normal, vou ter que trocar todos os celulares da família. Já estão tão fora de moda!
 
 
 Leia este tema completo a partir de 03/12/2012
 
 
 

 

As personagens do meu Natal - Crónica por Maria das Candeias Leal

 
As personagens do meu Natal - Crónica por Maria das Candeias Leal
 
Estava quase tudo pronto! O peru no forno, as batatas cozidas para o puré, o recheio, os vegetais. Pois não queria que faltasse nada às minhas personagens na ceia deste Natal. Elas eram tão importantes que me sentia uma felizarda por tê-las em minha casa na noite da Consoada.
 
As mesas estavam postas. Onde a ceia seria servida, havia uma coberta com a toalha vermelha; sobre ela, o serviço de loiça enramado com pinhas, os talheres de prata, os copos de cristal, os castiçais com as velas verdes e vermelhas. Na mesa mais pequena, com a toalha branca, estavam todos os doces: o bolo de frutas, o de mel, as fatias douradas (rabanadas), o arroz doce, enfim, todas as coisas feitas ao gosto das pessoas que comigo compartilhariam este acontecimento.
 
De vez em quando, dava um retoque na árvore do Natal. Ora mudava uma luz, ou trocava um adorno ou então, sentada no sofá, ficava a olhá-la. No outro canto do sofá, com o terço na mão, estava ela a ver os festejos natalícios na televisão. Como era bom tê-la ali comigo! Por que razão os natais não eram todos assim, com as famílias juntas? Não seria preciso tanta comida, tantos doces, o importante era estarmos todos juntos.
 
Este Natal era diferente; cheirava à frescura do campo, a pinheiro de verdade, cheirava aos natais da minha meninice e aos da infância dos meus filhos. Como foram belos esses natais e como era bom revivê-los!
 
 
 
 
 

 
 

domingo, 25 de novembro de 2012

Jornal Raizonline nº 198 de 26 de Novembro de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XIX) - Países lusófonos longe mas próximos

 
Jornal Raizonline nº 198 de 26 de Novembro de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XIX) - Países lusófonos longe mas próximos

Esta semana a crónica «do baú» do Cecílio Elias Netto, Director do Jornal a Província de Piracicaba chamou-me a atenção para algumas coisas que já vinha juntando na minha mente desde a semana passada. Só não sabia ainda se iria falar nisso esta semana já ou não.

Na semana passada foram publicados dois trabalhos, um do Martim Afonso Fernandes e outro do João Brito de Sousa sobre jogos de futebol que tiveram lugar numa altura em que as regras dos jogos ainda eram coisa muito difusa e o «material»  humano ainda não estava bem afinado, nem agora, mas enfim, está um pouco melhor.

Em qualquer dos casos houve discussão com o árbitro, marcação de penalty e o consequente rol de protestos que tiveram num caso alguns contornos violentos e noutro caso só não foram mais violentos porque as coisas correram de outra forma. Ler sobre um jogo ou sobre o outro, um no Brasil e outro em Portugal, em alturas aproximadas no tempo, leva-nos a ter a certeza que as coisas (até nas coisas más) não são (ou não foram) assim tão diferentes mesmo havendo milhares de quilómetros de distância entre um ponto e outro.

O Cecílio Elias Netto fala-nos do que «faz bem» e do que «faz mal» e da evolução que houve sobre esses conceitos que tinham o seu tempo e a sua verdade alicerçada sobre influências das mais diversas, algumas delas mesmo nascidas naturalmente.

Ora, também aqui entre Portugal e o Brasil a diferença é relativamente pouca: ainda é do meu tempo a história da congestão ao tomar banho após as refeições, deitar-se a dormir com a barriga cheia (logo após a refeição) enfim...aqui em Faro o nosso médico da Escola, Dr. Coroa, nas inspecções que eram feitas em conjunto, pregava-nos verdadeiras vergonhas públicas sobre a história da masturbação. Acho mesmo que ele gozava connosco só para ver a nossa atrapalhação.
 
 
 
 
 

 
 

Noticias mais lidas no site Rádio Raizonline no Facebook

 
Noticias mais lidas no site Rádio Raizonline no Facebook

 
Como é do conhecimento de alguns temos no Facebook uma página dedicada à Rádio Raizonline, que, para além de dar suporte à Rádio tem também um projecto noticioso que é o embrião escrito daquilo que será o nosso noticiário falado (na rádio, é claro) quando para fazer isso tivermos condições.

O nosso objectivo é encontrar uma hora ou mais disponíveis para fazer esse noticiário, entendendo que a periodicidade desse noticiário (diário, semanal, bi -semanal,. etc.) resultará dessas mesmas possibilidades nossas que iremos construindo aos poucos.

As notícias que lá são colocadas actualmente resultam de informações que nos chegam sejam elas de forma directa seja por via de newsletters dos diversos órgãos de informação e dos restantes meios do género. Um grande número de blogues está a enveredar pela informação, pela junção e publicação dessa mesma informação pelo que «matéria prima» não nos vai faltar seguramente. O que nos está a faltar é o tempo para tornar falado aquilo que está lá escrito.

Escolhemos algumas das notícias publicadas com mais visitas nesse nosso site (basta carregar no logo acima para ver) para que os leitores do jornal que não tenham conhecimento da existência desta nossa valência tomem conhecimento e, já agora, para darem um «Gosto» lá no site. Obrigado

Stress de guerra: ex-combatentes acabam por morrer antes de receberem subsídio do Estado

28/09/2012 - 06:46
 O psiquiatra Afonso Albuquerque lamentou esta quinta-feira que muitos ex-combatentes em África, com stress de guerra, acabem por morrer antes de serem qualificados como deficientes das Forças Armadas, apesar de alguns estarem mais de dez anos à espera desta classificação, avança a agência Lusa.
 
 
 
 
 

 
 

Poesia de Amália Faustino - Solidão na multidão; A saudade que senti

 
Poesia de Amália Faustino - Solidão na multidão; A saudade que senti 
 
 
Solidão na multidão
 
 Este meu meio tem gente
 E dentro dele mora gente;
 Aqui e em toda a parte vive gente
 Que passa, olha sem ver a gente!

Aqui na rua sei que há gente
 E ouço falar muita gente,
 Passos apressados de gente
 Assinalam presença de gente.

Mas eu continuo sem gente,
 Que pudesse falar como gente
 E comigo conviva como gente
 Facilitando a existência da gente.
 

A saudade que senti
 
 Amanheceu e eu acordei com mais saudade
 Enrolando a dor resfriada por ventos do além
 Que me sussurram a tua voz de serenidade
 Embrulhada naquele tempo de desdém.

Numas noites mentoladas tentei te ver
 E beijar-te ainda nesses longos sonhos fúteis
 Sentindo o teu volumoso peito se mover
 Sob as minhas mãos, roçando-se inúteis.
 

 
Leia este tema completo a partir de 26/11/2012
 
 
 

 
 

Poesia de Arlete Deretti Fernandes - Minha essência; Cheiro de primavera

 
Poesia de Arlete Deretti Fernandes - Minha essência; Cheiro de primavera
 
Minha essência

Passei neste caminho há muito tempo,
 Há milhares de anos percorridos,
 Algo ficou que por mim foi reconhecido...

Estas nuvens, a luz, a vida,
 Crianças correndo,
 Injustiças acontecendo...

Meus filhos, meus amores,
 Bichinhos de estimação.
 Encontros, adeus, dores e saudades...

Foi ontem, na noite do passado,
 Que se encaminha para o dia de amanhã,
 Que reinterpretei meus sonhos...
 

Cheiro de primavera

Tua boca tem o gosto da alfazema,
 Do cheiro suave que carrega a brisa,
 Doçura agreste que se desprende,
 Do azul - bordado nos canteiros do jardim.

Promessas de fecundidade há em teu corpo,
 Teu cabelo e tua pele perfumada é macia.
 Tens a suavidade do algodão, e a delicadeza
 De um ninho de beija-flor na penedia.

O umedecer das sementes e das folhas
 trazem ao desabrochar a fertilidade
 do amor que acalenta e continua a vida.
 Belas flores de variadas cores abrem-se.
 Sensações percorrem nossos corpos,
 O calor acaricia a pele, as mãos massageiam.

 
 
Leia este tema completo a partir de 26/11/2012
 
 
 
 

O melhor da fila é esperar por ela - Por Marcelo Pirajá Sguassábia

 
O melhor da fila é esperar por ela - Por Marcelo Pirajá Sguassábia 
 
Deu na «Folha»: paulistano às vezes passa mais tempo na fila do que no programa que a originou. E é tanto tempo que ela própria virou o passeio. As duas horas em média de fila no restaurante acabam sendo até mais cobiçadas e proveitosas que as próximas duas de esbórnia. Petisca-se e birita-se na faixa, paquera-se, twita-se, lê-se, medita-se, enfim...
 
Como dizem os americanos, no pain, no gain. No caso, sem espera não tem graça. Só que tem cada vez menos pain no processo, com os mimos e agrados que os donos da casa servem para amenizar a demora e o desconforto em pé. Digo em pé, mas até isso está mudando. Tem atração que oferece banquinho, mesa, cadeira e sabe-se lá mais o que para fidelizar a clientela.
 
 E a fila, quem diria, de ritual enfadonho virou objeto de desejo.
 
 ********
 
- E aí, faz muito tempo que tá aqui na fila?
 
- Umas três horinhas, mas passou tão rápido. Daqui a pouco já chega a minha vez de sair. Mas até que deu pra aproveitar bastante. Sábado que vem tem mais, se Deus quiser.
 
- Olha lá o espertinho, quer voltar pro fim da fila de novo... é o fim do mundo, só aqui no Brasil mesmo.
 
- Pois é, onde é que está a polícia nessas horas?
 
 
 
 

 

A cadela não pode com tantos cachorrinhos - Crónica: Por Lídia Frade

 
A cadela não pode com tantos cachorrinhos - Crónica: Por Lídia Frade

 
Aprendi com a minha avó!
 Quando algo estava a ser pesado demais, na vida de uma pessoa, ou dela própria, a minha avó dizia:
 « A cadela não pode com tantos cachorrinhos»

E é mesmo verdade, nestes tempos que se vivem.

Uns tempos atrás, conversando eu sobre, todas as minhas despesas alargadas demais já, para a minha normalidade, larguei esta sem pensar:
 «A cadela não pode com tantos cães!»

O meu interlocutor que era o meu Paulo, achou graça á frase, nunca tinha escutado tal coisa, eu expliquei que era um dito que ouvia á minha avó, Joaquina, ele por sua vez, aconselhou-me a escrever e guardar, estas frases engraçadas, para que não me esqueça de utilizar em algo que escreva, e tudo ficou por ai.

Passaram uns dias e, chegou a minha terça-feira, dia da minha folga, dia de estar pelo Ribatejo com a minha mãe.
 Estávamos á mesa a almoçar os três, e eu fiz uso de novo, falando das despesas, da mesma frase.
 «A cadela não pode com tantos cães!»

A minha mãe escutou e sem fazer comentários sobre o meu engano, e já fazendo parte da conversa, rematou ela,
 Sendo assim é verdade: «A cadela não pode com tantos cachorrinhos»
 
 
 
 

 

 
 

A todos os romanticidas: a vida e a crise que se lixem, o amor é o amor. - Por: Miguel Esteves Cardoso - Texto Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»

 
A todos os romanticidas: a vida e a crise que se lixem, o amor é o amor. - Por: Miguel Esteves Cardoso - Texto Recolhido em «As Leituras de Madame Bovary»

«Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.

Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em «diálogo». O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam «praticamente» apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.

Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do «tá tudo bem, tudo bem», tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
 

Leia este tema completo a partir de 26/11/2012
 
 
 

 

LENDA DO PAPARRAZ - Texto de Dulce Rodrigues

 
LENDA DO PAPARRAZ - Texto de Dulce Rodrigues
 
Esta flor é conhecida em Portugal como erva-piolheira ou também paparraz. A palavra «paparraz» vem do árabe habba ar-rãs, que quer dizer «grão da cabeça».
 
Quanto ao nome botânico, é «delphinium» e tem origem na palavra grega «delphis» que significa golfinho, pois para algumas pessoas a forma da flor faz lembrar o focinho de um golfinho. Outras pessoas, todavia, acham que se parece com a pata de uma calhandra, e é pelo nome de pata de calhandra (pied d’alouette) que esta flor é normalmente conhecida em França.
 
A lenda desta flor está associada à guerra de Tróia. Segundo esta lenda, ou mito, em determinado momento da querela Ajax teve de lutar com Heitor em combate singular, do qual nenhum deles saiu vencedor ou vencido. Assim, os dois valorosos guerreiros decidiram fazer uma troca mútua de troféus, e Heitor deu a sua espada a Ajax, tendo este oferecido a Heitor o seu cinturão.
 
Após a morte de Aquiles, a mãe deste pediu que o seu escudo fosse dado de presente ao mais valente de todos os Gregos. Ajax pensou que seria ele o eleito, mas foi Ulisses que recebeu o escudo. Louco de raiva, Ajax quis matar Ulisses e mais outros Gregos, pelo que a deusa Atena foi chamada a intervir. E o infeliz Ajax , enlouquecido, começou a chacinar o gado pensando que eram Gregos.
 
Quando Ajax recuperou o juízo e se apercebeu do que fizera, suicidou-se com a espada que Heitor lhe tinha oferecido, e as gotas de sangue transformaram-se em pequenas flores azuís. E assim nasceu o paparraz!
 
 
 
 
 

 

Damião António de Lemos Faria e Castro - um fidalgo algarvio refugiado em Ayamonte - Texto de Fernando Pessanha

 
Damião António de Lemos Faria e Castro - um fidalgo algarvio refugiado em Ayamonte - Texto de Fernando Pessanha 
 
Damião António de Lemos Faria e Castro, figura excêntrica e singular no contexto do Algarve setecentista, viveu entre 1715 e 1789 em Vila Nova de Portimão, terra que reivindica a memória da púnica Portus Hannibalis, e Faro, a Ossonoba da antiguidade.
 
Em Vila Nova de Portimão, Faria e Castro cursou até cerca dos vinte anos a instrução elementar com os jesuítas, no Colégio de São Francisco Xavier. Mudou-se posteriormente para Faro, cidade mais propícia às necessidades culturais e «espirituais» do fidalgo algarvio e, onde efectivamente, instalou faustosa residência para viver «à lei da nobreza».
 
Foi autor de «Aula da Nobreza Lusitana», e de «História Geral de Portugal e suas Conquistas», obras essas que recorrem frequentemente a autores espanhóis e que bem atestam as relações de Faria e Castro com o país vizinho.
 
Não será, portanto, de estranhar que, quando perseguido pela justiça portuguesa, o nobre algarvio se tenha refugiado em Ayamonte durante cerca de dois anos, entre 1749 e 1750.
 
A verdade é que Faria e Castro escrevia correntemente em castelhano, tendo mesmo sido autor de alguns opúsculos que mandou imprimir em Sevilha, o centro impressor mais próximo do Algarve.
 
A dedicatória de Epifonema Epicédico, o primeiro opúsculo redigido em Ayamonte, data de 16 de Julho de 1749, e nele está presente uma homenagem à Rainha D. Maria Bárbara e um elogio ao Duque de Cadaval, falecido aquando da jornada que levou Faria e Castro ao exílio.
 
 
 
 
 

 

CASAMENTOS - Texto de Lina Vedes

 
CASAMENTOS - Texto de Lina Vedes
 
Dia de nostalgia…
 Sinto-me acabrunhada de corpo e alma, não sei porquê!!!
 Ao acordar, com o quarto na penumbra e ainda deitada, vasculho recordações do passado!!!!!!!!!…

Recordo momentos lindos que se foram e não voltam mais. Recordo a avó Ana de Jesus, nascida em 1890, e os serões de Inverno passados em diálogo familiar.
 Momentos calmos de recordações, momentos que a avó aproveitava para nos relatar um pouco da sua vida.
 Nascera e vivera a sua infância e adolescência num sítio a quatro quilómetros de S. Bartolomeu de Messines, aldeia das Pedreiras.

As poucas casas existentes eram todas de familiares. O avô dela teria sido proprietário de uma extensa área que, dividida pelos descendentes, acabou por ficar retalhada, tendo cada parcela a sua casa de habitação rural, caracteristicamente algarvia.

Viviam da venda de frutos secos, produtos das hortas e da pecuária (cavalos, vacas, porcos, ovelhas) …
 Contava a avó ter tido onze irmãos e cada um deles, imensos descendentes.

Quando nova era divertida, vivia feliz rodeada de familiares em ambiente calmo e tranquilo.
 Um dia, tinha ela 19 anos, uma das irmãs diz-lhe:
 - Anequinhas, amanhã vais à vila (Messines) comprar um vestido e sapatos.

Admirada com o facto começou a indagar o porquê de tal surpresa, e vem a descobrir que ia casar dali a 15 dias, com o Joaquim Sebastião, dos caminhos de ferro, indivíduo de algumas posses e com direito a reforma depois dos 65 anos de idade.

Sobressaltada, ainda tentou saber o porquê, mas era assim. Os pais resolviam e os filhos obedeciam.
 Só o tinha visto uma vez, nem com ele falara. Era mais velho e sisudo, o oposto da sua maneira de ser.

A avó Ana sabia ler e escrever. Aprendera quase sozinha, e na aldeia todos recorriam a ela para tratar da correspondência com os parentes e amigos que viviam noutras localidades.

A Anica era uma verdadeira enciclopédia no saber de rezas e mezinhas para todo o tipo de tratamentos – dores de cabeça, constipações, pés torcidos… Cantava e recitava as ladainhas da igreja e sabia muitas quadras populares e lenga - lengas.
 Transmitia aos outros todos os seus saberes durante os serões e a todos valia.
 
 
 
 
 

 

sábado, 24 de novembro de 2012

Elevadores americanos, um monumento ao desconhecido - Texto de Gociante Patissa

 
Elevadores americanos, um monumento ao desconhecido - Texto de Gociante Patissa 
 
Janeiro de 2010. A chegada a Washinton, DC começou com pequenos percalços no aeroporto de Dulles.
 
Na verdade, os percalços tinham começado bem antes, no voo de ligação em Newark, onde o pessoal de segurança suspeitou pelo tamanho da pasta de dentes que trazia de Lisboa estar acima do permitido para bagagem de mão.
 
A presença do protocolo do Departamento de Estado (um senhor simpático de casaco azul) ajudou a desdramatizar a coisa, pois um mês antes tinha sido abortada tentativa terrorista de Mutallab, um jovem nigeriano, de pele escura e desacompanhado, como eu.
 
Voltando a Dulles, é um enorme aeroporto com dois pisos para saída, um reservado a viaturas familiares e outro para serviços de táxi. Fui logo sair trocando as opções. Perguntando a esse e àquele, lá consegui enfiar-me num táxi.
 
Era africano o motorista, somali de 25 anos, que dizia estar nos EUA pela via do «green card» já lá iam dois anos. Pensava buscar a família, à medida que se estabilizasse. Pediu-me 30 dólares, e eu dei 50, satisfeito pela africanidade com que me abordou durante meia hora de estrada.
 
Na recepção, aguardava por mim um envelope com o mapa da cidade (como se o meu sentido de orientação fosse grande coisa) e a chave da porta em forma de cartão multi-caixa. Estavam também os três tradutores (mais guias do que tradutores, uma vez que dominar a língua inglesa era pressuposto para aquele programa de intercâmbio).
 
Fiquei triste ao saber que me tinham reservado o quarto número 800. Não tenho a mínima atracção por elevadores, e caminhar oito andares é uma maçada. Tinha decidido aguentar tais «peregrinações», mas logo desisti de tamanha casmurrice. E foi nos elevadores que observei multiplicidade de choques culturais e laboratórios sociológicos.
 
 
 
 

 
 

Coluna de Liliana Josué - Poesia - INVERNO; ENCONTRO; ESCUTA

 
Coluna de Liliana Josué - Poesia - INVERNO; ENCONTRO; ESCUTA 
 
 
INVERNO
 
 O frio também aquece!
 como os beijos trocados
 por baixo dos lençóis

aquece a vontade de sentir
 os veios de sol enrolados em nós
 dando-nos a leve sensação de ser felizes

o frio aquece a tua mão na minha
à força de tanto a acariciar
 sentindo-te as veias
 como raízes de ti
 
ENCONTRO
 
 Ela corta as unhas
 Com olhar de enfado
 maçam-na os pormenores da vida
 e as suas consequências

observa as mãos
 num cáustico desdém e comenta:
 «Já conheceram melhores dias…»
 sente-se despida de compaixão para consigo
 pois sabe tratar-se do seu próprio encontro
nas divergências do todo
 
ESCUTA
 
 Não me fales de tristezas
 mas do beijo
 desse sem tempo nem hora
 onde as surpresas dos corpos
 são a nossa realidade

Fala-me com tuas mãos
 a enterrarem-se em mim
 na vitalidade do desejo

Não me fales de tristezas
 mas do abraço
 desse que me levou contigo
 
 
 
 
 

 

O DIA DOS ENTERROS - Conto de João Furtado

 
O DIA DOS ENTERROS - Conto de João Furtado
 
Recebi com consternação a notícia. Convivemos com a morte desde que nascemos, mais jamais nos habituamos com ela. Principalmente se conhecemos a pessoa que morreu, como era o caso.
A Didinha era minha amiga e prima afastada da minha mulher. Mas era prima e graças a Deus somos um povo muito ligados por laços parentescos. Não creio que exista outro povo que tenha uma família tão grande como a nossa. A Didinha era minha prima, casei com prima dela.

Iria para sua última morada as quinze horas. Era esta a informação que chegara até mim. Não podia faltar a cerimónia. Teria que a acompanhar. Ela jamais me perdoaria.

A Didinha morava na Achada Trás e eu em Lém Ferreira. O Enterro teria que forçosamente passar por Lém Ferreira. Iria esperar na estrada, pelo cortejo. Por enquanto temos apenas um Cemitério na Cidade da Praia. Está constantemente a romper pelas costuras. Já foi várias vezes estendido. Os serviços camarários sabem que a Cidade esta a pedir outro Cemitério, mas ninguém tem coragem de mandar construir outro. Todos têm a certeza inabalável que seriam o primeiro cliente da nova casa. Se é verdade que a morte é certa, também é verdade que ninguém a deseja por esposa.

A Didinha era negra e bela. Somos um povo mestiço. A nossa cor adivinha sempre uma mistura. Mesmo nos mais negros adivinham-se sempre uma certa mestiçagem. Mas na Didinha era difícil ver nela mais que a beleza da pura raça negra, nem precisava pintar os lábios, pareciam pintados de verniz preto, de tão negro que era.
 
Nenhum olhar masculino era inocente quando o alvo era a Didinha. Ninguém resistia aquela beleza selvagem. E vê-la andar… Era dengosa e a sua curva saliente, formada por contraste de seu volumoso e arredondada coxa e fina cintura, cadenciava no movimento rítmico do esquerda, direita ao som do batuque inexistente… Não deixava nenhum ser humano de sexo masculino indiferente.
 
Não vou falar do rosto angelical dela. Se anjo negro existisse, os escultores inspirariam na Didinha para as esculturas, mas não existiram, hoje ela vai ser enterrada e muito provavelmente toda a beleza dela irá terminar debaixo de um palmo e meio de terra.