Santa Iria - Lendas e Feira de Faro - Recolha e composição de Daniel Teixeira - Lenda de Santa Iria (II)
Contam velhos documentos que na antiga Nabância nasceu um dia uma linda menina chamada Iria, ou Irene, filha de Hermígio e Eugénia, gente nobre da região. Educada por duas irmãs de seu pai, Iria entrou mais tarde para um mosteiro dirigido por seu tio materno, o abade Célio.
O abade apressou-se a ir falar-lhe:
- Minha filha… Sentes coragem de abandonar o mundo para te vires refugiar aqui?
A donzela sorriu timidamente.
- Senhor meu tio, saiba que estou disposta a seguir apenas a vontade de Deus.
Houve um ligeiro silêncio, em que os olhos do abade não deixavam o rosto da bela Iria. Por fim, falou:
- Louvo as tuas palavras. Velarei por ti. Mas… és nova e formosa… As poderosas tentações do mundo poderão vir ainda chamar-te!
Que estranha luminosidade transformou a expressão de Iria ao ouvir as palavras do abade Célio! A sua voz perdeu toda a timidez.
- Nada receie, senhor meu tio. As tentações do mundo poderão chamar-me, que eu não as escutarei. Sou uma serva do Senhor… e nada mais pretendo ser.
- Pois que se faça a vontade de Deus, minha filha… Vai juntar-te às tuas companheiras. Elas esperam por ti.
Serenamente, tal como tinha entrado, a sobrinha do abade Célio retirou-se. A tarde perdia aquele dourado fulvo que dá calor aos corpos e uma sensação de confiança a quem a contempla. E a bela Iria, de cabeça reclinada, olhos postos nas lajes do convento, foi juntar-se às companheiras, levando no coração e nos lábios a mais pura das orações. A sua volta tudo era tranquilidade. Iria tinha o pensamento todo entregue a Deus e usufruía uma felicidade quase extra-terrena!
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