COLUNA DE MANUEL FRAGATA DE MORAIS - O imaginário no texto Angolano - Filipe Correia de Sá - ESTAMOS JUNTOS COM OS TRES ARAUTOS
Estamos Juntos tinha acabado de recolher água na cacimba, quando viu três homens a subir o carreiro para a casa dele.
Vestiam os trajos dos viajantes e pelo seu aspecto caminhavam há muitos dias. Depois dos cumprimentos, Estamos Juntos convidou-os a lavarem-se e ofereceu-lhes hospitalidade. Disseram que não podiam aceitar nada antes de cumprirem o mandado do rei. Sentaram-se então debaixo de uma mangueira. Convidativas, pendiam frutas dos ramos. Nem sequer olharam.
Um deles deu-lhe a notícia real, que a princesa ia casar e tudo o resto. Um outro perguntou:
- Achas-te com direito à mão da princesa?
- Sim – respondeu Estamos Juntos, sem perceber completamente o que estava a acontecer. As palavras do arauto ainda não tinham chegado lá bem dentro da sua cabeça.
Então, o terceiro arauto perguntou-lhe se ele tinha Passado.
Estamos Juntos ficou um bocado surpreendido com a pergunta mas logo se lembrou de que há muito tempo não lhe punha a vista em cima. Desde que o avô se tinha ido embora
Concebido pelos maiores ceramistas do reino e depois de submetido a rigorosos rituais purificados e consagrados, era entregue pelos sábios e kimbandas a cada chefe de família.
Quando um dos membros da comunidade conquistava a sua independência, recebia um, depois de sagrado pela Terra, pela Agua, pelo Fogo e pelo Ar.
Estamos Juntos disse que sim, que tinha o Passado lá dentro.
Os arautos olharam para ele em silêncio durante alguns momentos. O primeiro a falar perguntou-lhe como se chamava. Ele disse ‘«Estamos Juntos».
- Com quem vives?
Com Ninguém respondeu.
Um deles deu-lhe a notícia real, que a princesa ia casar e tudo o resto. Um outro perguntou:
- Achas-te com direito à mão da princesa?
- Sim – respondeu Estamos Juntos, sem perceber completamente o que estava a acontecer. As palavras do arauto ainda não tinham chegado lá bem dentro da sua cabeça.
Então, o terceiro arauto perguntou-lhe se ele tinha Passado.
Estamos Juntos ficou um bocado surpreendido com a pergunta mas logo se lembrou de que há muito tempo não lhe punha a vista em cima. Desde que o avô se tinha ido embora
Concebido pelos maiores ceramistas do reino e depois de submetido a rigorosos rituais purificados e consagrados, era entregue pelos sábios e kimbandas a cada chefe de família.
Quando um dos membros da comunidade conquistava a sua independência, recebia um, depois de sagrado pela Terra, pela Agua, pelo Fogo e pelo Ar.
Estamos Juntos disse que sim, que tinha o Passado lá dentro.
Os arautos olharam para ele em silêncio durante alguns momentos. O primeiro a falar perguntou-lhe como se chamava. Ele disse ‘«Estamos Juntos».
- Com quem vives?
Com Ninguém respondeu.
Ninguém era um papagaio que o avô lhe tinha dado, poucos dias antes de ir embora para nunca mais voltar. Foi ele mesmo quem lho deu com esse nome ao dizer «agora ficais sozinho e ninguém te vai ajudar. Por isso mesmo, este papagaio vai-se chamar Ninguém, depois verás». O avô remeteu-se ao silêncio sobre aquele assunto, sem deixar de falar de outros, depois de dar duas chupadas no cachimbo, sacudindo a brasa, que devolveu á fogueira fazendo-o rolar na palma da mão.
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