domingo, 21 de outubro de 2012

Chicletes e perda da inocência - Por: Cecílio Elias Netto - VIVER VIVE-SE VIVENDO (33)

 
Chicletes e perda da inocência - Por: Cecílio Elias Netto  - VIVER VIVE-SE VIVENDO (33)
 
Algum dia, haverei de entender se é possível o corpo e a razão mancharem-se, deteriorando-se, sem, no entanto, essa toda corrupção comprometer a alma. Pois a matéria humana é corruptível e o homem – sei lá eu – somente sobrevive na integridade de sua própria alma.
Nela, está o sagrado da vida, aquele fulcro que não pode ser alcançado ou atingido por outra pessoa, pois seria violação. Sinto, neste fim de caminhada, ter mantido a alma limpa, ainda que com cicatrizes e feridas.
 
Até meus filhos, já adultos e amadurecidos – tendo-me dado netos que acompanho à distância – estranham a minha ainda capacidade de sonhar. E sou eu, por outro lado, que estranho a estranheza de outros. Se não for o sonho, o que resta do homem?
 
O pintor, ao pintar, dá forma e cor ao sonho. O músico, o poeta, o escritor, o escultor, todos damos apenas forma e som e ritmo e harmonia ao sonho sonhado, que nada mais é senão aquele do paraíso perdido. O homem está no seu exílio. Se não sonhar, será apenas um desterrado, sem lugar algum para ir. E há, creio eu, o lugar do retorno, não sei qual. Nem que seja a terra, o pó, o chão.
 
Há um ciclo de tudo o que é e está vivo. E, à proximidade do fim, sinto que os humanos somos, inexoravelmente, levados à reflexão, a revisões, talvez até mesmo às aparentemente simples recordações. Recordar não é viver, mas rever. Recordar, a memória, o conto, a mitologia, a religião, doutrinas, teorias de vida – isso são revisões de quem viveu. E me é, neste fim de tempo, como que o encontro do destino: contar, rever, deixar, na alegria de, fazendo-o, sentir-me vivo. E estar vivo é ser parte. Ainda. Enquanto.
 
Tenho, por isso mesmo, tentado estabelecer alguns entendimentos que me sirvam de referenciais e de critérios. Para não morrer com ou de culpas. Refiro-me a erros e a equívocos. O erro é proposital, algo – leve ou grave – que se faz por vontade própria, sabendo não ser certo.
 
 
 
 
 

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