sábado, 13 de outubro de 2012

Poesia de Abílio Pacheco - Retrato II; Memórias de Março; Revisita à Casa Bipaterna

 
 
Poesia de Abílio Pacheco - Retrato II; Memórias de Março; Revisita à Casa Bipaterna
 
 
Retrato II
 
 A Cecília Meireles

Eu também não tinha este rosto
 assim tenso, assim denso, assim calvo,
 nem olheiras e rugas
 nem cabelos alvos.
 Eu não tinha estes olhos de agora
 tão rubros, tão turvos, tão vagos,
 
Memórias de Março
 
 A Paulo Cardoso

Quando amanheço... leito manso e lento
 Nesta manhã sob este sol silente
 A cidade desperta calmamente
 Ao meu olhar atónito e em tormento.
 Uma canoa tangida pelo vento
 Com as lembranças da última enchente
 Em mim desliza e a cidade sente,
 À margem, nos degraus, um leve alento.
 Mas a tristeza morre neste instante
 
Revisita à Casa Bipaterna
 
 Aos meus pais-avós Ezequiel e D. Nenê

A mesma rua ainda observa imóvel porta,
 janela e paredes da casa,
 onde moram os nossos velhos, pai e mãe,
 onde as aranhas pacientes esperam, à teia urdida intacta,
 pelos insetos que tardam a vir,
 onde pandora parece nunca ter aberto sua caixinha,
 onde, porém, o relógio de hora em hora
 nos lembra que tempo passa,
 onde nós moramos sempre meninos
 a brincar de enterrar tesouro,
 fazer mapas, armar arapucas e pegar pombos,
 
 
 
 
 

 

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