O Leão, o meu amigo e eu - Crónica de Daniel Teixeira
-Eu acerto pá. Podes crer que ele não mexe mais.
-Acertas uma ova, fostes atirador especial mas isso foi no tempo da Maria Cachucha, tinham as armas de carregar pela boca acabado de sair de circulação.
-Brincalhão...não são armas muito modernas hoje mas eram fiáveis, a gente fazia tiro a mosquitos e tudo...
-Ah, Ah! Isso é que era bom de ver, os mosquitos a partirem-se todos mas de rir. Deixa-te disso, eu não nasci ontem...já cá contam setenta e tal e a esta distância nem num elefante tu acertavas. Depois se fazes o barulho com a espingarda então é que ele repara em nós e a gente já não tem pernas para fugir...estás nos oitenta, tu, não!?
-Setenta e nove, meu caro, ainda não cheguei aos oitenta.
O leão estava de facto logo ali, quer dizer a cerca de cem metros, com a sua calma toda, deslocando-se de um lado para o outro e sacudindo as moscas. Não nos tinha visto ou se nos tinha visto, como tinha a barriga cheia tinha achado que nem valia a pena incomodar-se.
-O que será que o gajo comeu? Parece que anda pesado, estás a ver aquela barriga toda? E é um leão não é uma leoa, com aquela barrigona também, mas que grande barrigada ele teve com certeza.
- Pois, se calhar é melhor a gente passar-lhe logo ao lado, não temos outro caminho e se for preciso usas tu a tua excelente pontaria quando ele estiver para aí a cinco metros de nós. Aí deves acertar, de certeza.
- Daqui mesmo eu acerto. Devias ter um pouco mais de confiança em mim. Isto de fazer tiro é como andar de bicicleta, nunca se desaprende.
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