Poesia de Sylvia Beirute - E agora Eu; Nervo em forma de hélice; Poema de Beneficência
E agora Eu
e agora eu quero
eu quero para depois não querer
seguir o telefone por uma cidade
a língua de fora morre na ligação mas é sempre
a língua de fora
porque o corpo é objecto do tempo
e eu agora quero
mas não quero para depois querer
existir no corpo inabitado
nada mais me absolve
senão o silêncio em pleno voo
eu quero para depois não querer
seguir o telefone por uma cidade
a língua de fora morre na ligação mas é sempre
a língua de fora
porque o corpo é objecto do tempo
e eu agora quero
mas não quero para depois querer
existir no corpo inabitado
nada mais me absolve
senão o silêncio em pleno voo
Nervo em forma de hélice
eu não quero o que já é meu. repito: eu não quero
o que já é meu. repito com uma variante: eu não
quero o que será meu. ainda outra: eu não quero
o que será meu por destino. e outra: eu não
quero o que é meu em virtude das leis da república.
e outra: eu não quero o que é alcançável
com uma simples febre e um rosto que simula
alguma beleza com veneno respirável.
e outra: não quero um prazer falso como
a claridade entre pálpebras.
e outra: não quero o meu nome próprio e apelido.
o que já é meu. repito com uma variante: eu não
quero o que será meu. ainda outra: eu não quero
o que será meu por destino. e outra: eu não
quero o que é meu em virtude das leis da república.
e outra: eu não quero o que é alcançável
com uma simples febre e um rosto que simula
alguma beleza com veneno respirável.
e outra: não quero um prazer falso como
a claridade entre pálpebras.
e outra: não quero o meu nome próprio e apelido.
Poema de Beneficência
introduza um colapso numa dúvida. recolha-a por elementos. coloque perguntas ao redor. as respostas situam-se entre tempos verbais. um detalhe apaga-se para dar lugar a outro. a memória como um todo. qualquer força para medir é uma inexpressão na arte. não há um só caminho aberto em direcção a um caminho aberto. imperdibilidade é um modo feio de beleza. as coisas mais belas são decíduas porque não assíduas. como aquele fragmento de biografia sem palavras que procura corporalidade no texto. o seu instinto difásico é como um diálogo em que as duas linguagens se friccionam e encontram como que numa orla central em que tudo o resto se autopune até à morte, ficando um quadro de órgãos estrelados. quem entrou aqui introduziu um colapso numa dúvida, recordo. quem tem dúvidas não morre verdadeiramente. recolher elementos de dúvida é uma ocupação como qualquer outra. os ocupados não morrem. a estética escultural do olfacto é mais importante do que as auto-estradas.
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