O REAL IRREAL OU IRREAL REAL - Conto de Liliana Josué
Orlando sentou-se no banco do jardim de braços dobrados pelos cotovelos apoiados sobre o início das coxas. As mãos crispavam-se de ambos os lados da cabeça.
A noite já era adulta, os transeuntes poucos, não contando com os deserdados da sorte que abundavam pelo escuro das suas vidas. Alguns olhavam-no indiferentes, outros com alguma curiosidade desmaiada nos olhos, outros ainda o ignoravam simplesmente por acharem não valer a pena tentar o furto. Provavelmente encontrava-se pior que eles.
Orlando vagueava o pensamento ausente dos mistérios e perigos nocturnos.
Homem de cinquenta e três anos, alto, levemente forte, mas ainda bem parecido. As frontes já denunciavam uma calvície um tanto avançada , mas o restante cabelo de matizes cinzentos ainda dava alguma graça aquele rosto cansado, e a barba quase branca iluminava-se de prata quando o luar a acariciava.
Os dedos afundavam-se nos cabelos e as unhas fincavam-se na pele. Sentia-se um condenado.
Um gato amarelo sentou-se no asfalto frente a ele, observava-o admirado ao mesmo tempo que coçava uma orelha com a enérgica pata traseira. Orlando abriu as pálpebras e acariciou o animal com o olhar enquanto deixava correr as palavras em jeito de confissão:
- Felino curioso… . Porque te interessaste por mim?
O gato amarelo ficou estático e hesitando entre o fugir ou ficar . O homem entendeu-lhe o embaraço e estendeu-lhe a mão enfeitando-a com pequenos gestos graciosos. O animal foi-se aproximando meio desconfiado, mas já lhe tocava os dedos com a ponta do nariz frio e cor-de-rosa. A partir desse instante tornaram-se camaradas de noitada.
- Ando meio atrapalhado com a vida, Gaibéu. Porque te admiras? Sim, Gaibéu és tu, baptizei-te, acho que o nome te assenta bem.
O gato já sentado a seus pés lambeu indiferente o dorso esbelto e lustroso.
- Vivo numa aflição permanente e ninguém me compreende, acham que não sou bom da cabeça. Como podem ser tão estúpidos e cruéis? . Ainda há pouco estava um fulano, muito suspeito, a olhar para mim. O que pretendia ele?... E depois o doido sou eu. Mas não foi só hoje, a minha vida tem sido isto. Perseguições por tudo e por nada, em todo o lugar que esteja, e toda a família, incluindo amigos, sempre com a mesma pergunta imbecil: Porque razão há-de alguém andar a perseguir-te ou querer fazer-te mal?
A noite já era adulta, os transeuntes poucos, não contando com os deserdados da sorte que abundavam pelo escuro das suas vidas. Alguns olhavam-no indiferentes, outros com alguma curiosidade desmaiada nos olhos, outros ainda o ignoravam simplesmente por acharem não valer a pena tentar o furto. Provavelmente encontrava-se pior que eles.
Orlando vagueava o pensamento ausente dos mistérios e perigos nocturnos.
Homem de cinquenta e três anos, alto, levemente forte, mas ainda bem parecido. As frontes já denunciavam uma calvície um tanto avançada , mas o restante cabelo de matizes cinzentos ainda dava alguma graça aquele rosto cansado, e a barba quase branca iluminava-se de prata quando o luar a acariciava.
Os dedos afundavam-se nos cabelos e as unhas fincavam-se na pele. Sentia-se um condenado.
Um gato amarelo sentou-se no asfalto frente a ele, observava-o admirado ao mesmo tempo que coçava uma orelha com a enérgica pata traseira. Orlando abriu as pálpebras e acariciou o animal com o olhar enquanto deixava correr as palavras em jeito de confissão:
- Felino curioso… . Porque te interessaste por mim?
O gato amarelo ficou estático e hesitando entre o fugir ou ficar . O homem entendeu-lhe o embaraço e estendeu-lhe a mão enfeitando-a com pequenos gestos graciosos. O animal foi-se aproximando meio desconfiado, mas já lhe tocava os dedos com a ponta do nariz frio e cor-de-rosa. A partir desse instante tornaram-se camaradas de noitada.
- Ando meio atrapalhado com a vida, Gaibéu. Porque te admiras? Sim, Gaibéu és tu, baptizei-te, acho que o nome te assenta bem.
O gato já sentado a seus pés lambeu indiferente o dorso esbelto e lustroso.
- Vivo numa aflição permanente e ninguém me compreende, acham que não sou bom da cabeça. Como podem ser tão estúpidos e cruéis? . Ainda há pouco estava um fulano, muito suspeito, a olhar para mim. O que pretendia ele?... E depois o doido sou eu. Mas não foi só hoje, a minha vida tem sido isto. Perseguições por tudo e por nada, em todo o lugar que esteja, e toda a família, incluindo amigos, sempre com a mesma pergunta imbecil: Porque razão há-de alguém andar a perseguir-te ou querer fazer-te mal?
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