sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Portugal dos mansos - Texto de Virgínia Teixeira

 
Portugal dos mansos - Texto de Virgínia Teixeira
 
Sempre ouvi dizer que os Portugueses são mansos e tal é essa a nossa reputação que nestes meses de inquietação e movimentos de protesto os ingleses parecem não ter problemas nenhuns em comprar casa no Algarve ou pelo menos ir passar as suas férias a costas lusas, sem qualquer receio de bombas, atentados, tiroteios ou qualquer outro evento catastrófico.
 
Ninguém espera que os Portugueses deixem de ser «mansos» e que de repente as manifestações de protesto contra as medidas da austeridade se tornem em chacinas como na Grécia, ou em momentos de agressão policial desmedida como em Espanha.
 
E a verdade é que estão certos, ou pelo menos parcialmente certos. Nós, Portugueses de alma cheia de saudosismo e um quase prazer no sofrimento, não vamos chegar á agressividade desmedida da Grécia, nem os nossos polícias, também eles com ordenados insatisfatórios e protecção inadequada, nos vão dar com o cassetete até nos partirem o crânio. Pelo menos não neste caso, que a violência policial é também em Portugal uma realidade.
 
Mas pelo que tenho tido oportunidade de ver nos protestos dos últimos meses, parece-me que, pouco a pouco, a fome e a falta de alternativas, nos está a fazer revoltar mais e mais, e talvez dentro em breve sejamos um povo que esquece a mansidão em prol da luta pela sobrevivência.

Pelo menos é o que eu espero e sonho para este meu Portugal que também eu tive de deixar para ter uma vida melhor. O que espero e sonho para Portugal é que todos compreendam que a revolta é legítima, que querer dar de comer aos nossos filhos, ver os nossos jovens terem uma profissão que os satisfaça, ver os nossos animais protegidos convenientemente e ver os nossos idosos viver com dignidade; não é menos do que um direito, e por ele temos de lutar.
 
Não sonho um Portugal manchado de sangue e violência, porque esse não é o caminho que sabemos marchar, mas também não quero uma terra deserta de jovens e esperança, onde a Igualdade, a Fraternidade e a Liberdade são apenas conceitos tão estrangeiros que já nem vale a pena comemorar com um feriado bem merecido, a Implantação da nossa República.
 
 
 
 

 
 

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