sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Blogue Alcoutim Livre - José Varzeano - O burro, precioso auxiliar para a sobrevivência do povo alcoutenejo

 
Blogue Alcoutim Livre - José Varzeano - O burro, precioso auxiliar para a sobrevivência do povo alcoutenejo
 
Como as coisas mudam quase sem darmos por isso!
Na década de 60 do século passado e mesmo na primeira parte da seguinte, no concelho de Alcoutim e em muitos outros do país, o burro ainda fazia parte de toda uma organização familiar rural como peça indispensável para a obtenção da sobrevivência do núcleo familiar constituído de uma maneira geral por prole dilatada.
 
Ao núcleo original juntavam-se quase sempre os avós de um lado ou de outro quando já não podiam trabalhar. A existência de um idoso tinha grande importância no equilíbrio familiar, onde a sua presença impunha respeito e o seu conhecimento da vida era transmitido aos netos em estórias, parábolas, regras de conduta ou conhecimentos empíricos.

Estávamos no final do ciclo, pois a debandada dos montes dos jovens e homens em idade de trabalho já se tinha iniciado para as cinturas industriais de Lisboa e Setúbal a que se seguiu o litoral algarvio com o desenvolvimento do turismo, que ia recrutando os braços de que careciam.
 
Ao recuarmos no tempo (o concelho de Alcoutim foi aumentando de população até meados da década de 50 do século passado) ainda é mais notória a ajuda dos animais de carga e sela, com destaque para o burro, pois tratava-se do parente pobre dos equídeos, com vantagens para a sua fácil adaptação a terrenos ásperos, ao seu preço e manutenção mais acessíveis.
 
A agricultura de subsistência praticada no concelho de Alcoutim onde as máquinas não podiam chegar por inúmeros motivos como económicos, vias de comunicação e acidentado terreno, entre outros. Poucas eram as pessoas que não se dedicavam à agricultura de subsistência e isto em terrenos pobres como são os do concelho de Alcoutim constituídos à base de xisto.

O burro tinha várias funções. Como animal de sela transportava as pessoas aos sítios mais inóspitos devido à sua rijeza de unha. Levava as pessoas onde necessitavam de fazer os trabalhos ou a qualquer outro sítio onde precisavam de se deslocar, ao monte vizinho, à aldeia ou à vila. A existência dos rossios, espaços comunitários, possibilitava o seu «estacionamento» e onde existia quase sempre algo para o animal comer. A «estalagem» na vila ou em Martim Longo destinava-se a gente mais endinheirada.

Os poços comunitários dos montes ficavam quase sempre um pouco afastados, pois enquanto os edifícios se situavam numa posição cimeira, estes ficavam nos vales onde beneficiavam das toalhas freáticas, facilitando assim a existência do precioso líquido, indispensável à manutenção do ser vivo.
 
 
 
 

 

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