Jornal Raizonline nº 193 de 22 de Outubro de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XIV) - A honra
O conceito de honra sempre foi um tema que me fascinou, mais pela sua mecânica do que propriamente pelo seu significado: quer dizer, todos nós sabemos o que quer dizer honra, há muitos trabalhos sobre honra e vergonha, vergonha esta que resulta, neste campo, do despojar da honra, enfim.
O conceito de honra sempre foi um tema que me fascinou, mais pela sua mecânica do que propriamente pelo seu significado: quer dizer, todos nós sabemos o que quer dizer honra, há muitos trabalhos sobre honra e vergonha, vergonha esta que resulta, neste campo, do despojar da honra, enfim.
Será um tema complexo, demasiado complexo para ser referido aqui em meia dúzia de linhas, mas é um conceito interessante (e perigoso, muitas vezes, ou quase sempre) porque mexe na posição que o indivíduo tem ou julga ter num dado grupo social e na sua própria família como célula base onde recaiem ou não (nalguns casos)os resultados da honra ou da desonra, que é será a ausência da honra mesmo em casos específicos que acabam depois por abalar toda a estrutura da honra.
Graduações da honra existem, uma delas relatada por José Cutileiro (Embaixador e Sociólogo / Etnólogo) que refere num dos seus livros, talvez pouco lido, que numa dada região do país, havendo, uma maioria de mulheres que tinham de servir o senhor (na cama) e como ele era o senhor e dono de todas as terras e de todo o trabalho, isso era admitido, ainda que de forma camuflada, porque sem isso não haveria trabalho nem comida ou a haver este seria dificultado por uma recusa que aliás nem sequer é referida como tendo acontecido.
O que se passava e que eu achei lastimavelmente interessante é que os homens podiam discutir entre si, por vezes de forma violenta, mas que o comportamento ou o evento forçado das suas mulheres nunca entrava nas discussões por mais acesas que elas fossem. Era como se houvesse um travão na verbalização das ofensas mútuas donde esta era excluída por sistema. Na verdade compreende-se uma vez que todos os homens, discutindo ou não naquele instante, estavam abrangidos pela mesma situação ou podiam nos casos em que ainda o não tinham sido ser objecto do mesmo acontecimento.
Isto para mim, que tenho estudado este tema desde os tempos dos povos primitivos, foi uma revelação, já lá vão talvez vinte anos e uma confirmação de que o conceito de honra é flexível dentro da própria estrutura que o cultiva. Alguns povos primitivos também foram objecto de estudos nestes planos (e noutros, é claro) e nalguns casos chegou-se à conclusão que a penalização pelas forças coloniais de crimes de honra entre os nativos tinha feito com que estes enveredassem pela indemnização pecuniária, por vezes mais ou menos pesada dependendo já da justiça tribal.
Graduações da honra existem, uma delas relatada por José Cutileiro (Embaixador e Sociólogo / Etnólogo) que refere num dos seus livros, talvez pouco lido, que numa dada região do país, havendo, uma maioria de mulheres que tinham de servir o senhor (na cama) e como ele era o senhor e dono de todas as terras e de todo o trabalho, isso era admitido, ainda que de forma camuflada, porque sem isso não haveria trabalho nem comida ou a haver este seria dificultado por uma recusa que aliás nem sequer é referida como tendo acontecido.
O que se passava e que eu achei lastimavelmente interessante é que os homens podiam discutir entre si, por vezes de forma violenta, mas que o comportamento ou o evento forçado das suas mulheres nunca entrava nas discussões por mais acesas que elas fossem. Era como se houvesse um travão na verbalização das ofensas mútuas donde esta era excluída por sistema. Na verdade compreende-se uma vez que todos os homens, discutindo ou não naquele instante, estavam abrangidos pela mesma situação ou podiam nos casos em que ainda o não tinham sido ser objecto do mesmo acontecimento.
Isto para mim, que tenho estudado este tema desde os tempos dos povos primitivos, foi uma revelação, já lá vão talvez vinte anos e uma confirmação de que o conceito de honra é flexível dentro da própria estrutura que o cultiva. Alguns povos primitivos também foram objecto de estudos nestes planos (e noutros, é claro) e nalguns casos chegou-se à conclusão que a penalização pelas forças coloniais de crimes de honra entre os nativos tinha feito com que estes enveredassem pela indemnização pecuniária, por vezes mais ou menos pesada dependendo já da justiça tribal.
Sem comentários:
Enviar um comentário