sexta-feira, 31 de maio de 2013

A Paixão de Ana (1969) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte


A Paixão de Ana (1969) - Texto Recolhido em Cinema Pela Arte  
 
«Minha concepção da existência continua sendo esta: existe uma maldade no ser humano, virulenta e terrível, que não pode ser explicada, e de que, entre todos os animais, só ele é capaz. Uma maldade irracional que não obedece a nenhuma lei. Cósmica. Sem motivo. E não há nada que o homem tema tanto como justamente a maldade incompreensível, inexplicável.» — Ingmar Bergman
 
As cores do pessimismo de Bergman
 
 Transparente é a liberdade de Ingmar Bergman para experimentar nesse filme que sucede a incursão do diretor no universo irracional da guerra. Querendo desafiar a si mesmo, solucionou problemas relativos ao roteiro durante a filmagem de «A Paixão de Ana» (1969), adotou o improviso, fez um uso não convencional das cores e inseriu planos não diegéticos que elidem qualquer barreira entre realidade e ficção — Max von Sydow, Bibi Andersson, Erland Josephson e Liv Ullmann falam sobre peculiaridades de seus personagens após o som da claquete; de um plano para outro, o ator despe-se do personagem.
 
Para Bergman, não foi suficiente abordar a questão da violência como fardo maldito da humanidade em apenas um filme. A direção da câmera muda, não importa mais a brutalidade eclodida por fatores políticos.
 
Em «A Paixão de Ana», a fonte de angústia é inesgotável — crise de identidade, ilusão de felicidade e total incomunicabilidade. Não plenamente satisfeito com «Vergonha» (1968), Bergman faz com que «A Paixão de Ana» seja uma espécie de ramificação do filme anterior.
 
A maldade humana como herança cósmica muito lhe interessa, irreprimível, incompreensível e indefectível. Sem motivo aparente o homem precisa destruir, agredir, verter o sangue de suas vítimas. Não há Deus que possa interferir, somente permanece o silêncio dessa figura sobrenatural (ou quimérica) que não se manifesta. Mistério perpétuo.



ALBERT CAMUS - Romances & Contos - Por Pedro Luso de Carvalho (Blogue Panaroma)


ALBERT CAMUS - Romances & Contos - Por Pedro Luso de Carvalho (Blogue Panaroma)
 
Além da sua obra filosófica, Albert Camus escreveu romances, contos, ensaios e peças para o teatro. Também foi jornalista brilhante. Como não é recomendável escrever textos muito longos neste espaço, optei pelos seus romances e contos. Quanto ao Camus teatrólogo possivelmente falarei em outra ocasião. Lembro, apenas, que o escritor dizia que a obra teatral era «o mais alto dos gêneros literários».
 
Inicio, pois, pelo último romance publicado após a morte de Camus, qual seja, O Primeiro Homem. Essa obra tem como centro os acontecimentos na Argélia, dos anos 30-40, e como personagem central Jacques Cormery, que outro não é que o próprio autor. No livro, Camus conta sua própria história. Começa pela sua infância, junto de sua mãe e de seus sete irmãos. Com estes, compartilhava a casa de sua avó, no bairro popular de Belcourt, em Argel.
 
Em razão de sua condição de pobreza, tudo levava a crer que as perspectivas de o menino Albert Camus ver mudada tal condição eram diminutas, pois todos os fatos conspiravam contra ele, como o de viver num país pobre, e politicamente dominado pela França (a Argélia foi colônia da França entre os anos de 1830 a 1962); de ter perdido seu pai com apenas um ano de idade; Camus nasceu no dia 7 de novembro de 1913, na Argélia (cidade de Mondovi, distrito de Constantina). Mas, contrariando esses fatos, Camus cursou a Universidade de Letras na Argélia, e, com apenas 22 anos escreveu «Direito e Avesso», o seu primeiro ensaio, e, ainda, em Argel realizou seus primeiros trabalhos jornalísticos; em 1936, quando contava com 26 anos , mudou-se para Paris, onde desenvolveu toda sua obra.
 
O romance O Primeiro Homem, no qual Camus conta a pungente história da sua infância e a memória do seu país, não chegou a ser concluído em razão da sua morte, aos 47 anos de idade, ocorrida no dia 4 de janeiro de 1960, perto de Villeblevin, no trajeto da cidade de Sens para Paris, quando um furo no pneu do carro em que viajava, em alta velocidade, dirigido por seu editor Marcel Gallimard, sofreu o trágico acidente..
 
Essa obra, cujos manuscritos foram encontrados sob as ferragens do carro acidentado, foi editada na França em 1994, pela Editions Gallimard; nesse mesmo ano a Editora Nova Fronteira publicou a obra no Brasil, com tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca e Maria Luíza Newlands Silveira.
 
Embora O Estrangeiro e A Peste sejam os romances mais importantes de Camus, O Primeiro Homem veio ocupar um lugar de singular importância no conjunto de sua obra ficcional, não apenas pela força de sua narrativa, com o estilo que o distingue dos demais escritores, mas, principalmente, por se constituir em importante legado histórico, dando-nos a conhecer, agora, fatos relacionados com a sua trajetória de vida.
 
 
 

 
 

domingo, 26 de maio de 2013

Jornal Raizonline nº 224 de 27 de Maio de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XLV)- Não tenho nada para dizer

 
 
Jornal Raizonline nº 224 de 27 de Maio de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XLV)- Não tenho nada para dizer

Cheguei a este ponto de não ter nada para dizer não porque já tenha dito tudo mas porque me sinto cada vez mais vocacionado para ouvir e falar do silêncio e dos silêncios e das palavras não ditas mais do que das ditas.

Cada palavra, cada frase, cada conjunto de palavras traz consigo todo um conjunto de silêncios ou de interpretações que por vezes sinto ser quase criminoso estar a retirar ao potencial leitor a oportunidade de os preencher (os silêncios e as interpretações) a seu gosto ou apetência.

No direito diz-se que quanto mais se escreve mais se restringe e é nesta perspectiva que opto por um oportuno silêncio, conforme dei a entender atrás. As vocações, as vontades, libertadas do espartilho das palavras que explicam as coisas tim tim por tim é uma coisa que pode ser maravilhosa porque essas mesmas palavras explicativas por vezes acabam por direccionar a vontade interpretativa do sujeito para campos bem específicos e mesmo convenientes.

Não é por acaso que se segue, em muita comunicação social, o sistema da ocultação pela amostragem alternativa, ou seja, para se esconder uma dada coisa ou para a não envolver na ambiência geral dos entendimentos, fala-se de outras susceptíveis de ganharem uma maior amplitude nos contextos e eclipsarem aquilo que poderia ser mais importante.

Hoje, por exemplo, tenho um exemplo fresco, (e que se me perdoe a redundância)corriqueiro mesmo: o Benfica, equipa de proa em Portugal não ganhou uma Taça e acabou por ver invertido o resultado (1-0) com que percorreu uma parte substancial do jogo.

Deixou entrar dois golos em seguida e, logo, perdeu por 2-1. Pois... um dos jogadores do Benfica terá, alegadamente «perdido a cabeça», terá dado um encontrão no treinador (do Benfica) e terá dito alto e com bom som: «a culpa é tua»!


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Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - Concepção logosófica das palavras - Acepção do vocábulo «sensibilidade» - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL

 
Fundação Logosófica – Em Prol da Superação Humana - São Paulo - Concepção logosófica das palavras - Acepção do vocábulo «sensibilidade» - Carlos Bernardo González Pecotche – RAUMSOL

 Sensibilidade.
– Faculdade de sentir, própria dos seres animados.
– Propensão natural do homem a deixar-se levar pelos afetos da compaixão, humanidade e ternura.
Psic.: Faculdade de sentir. Faculdade do conhecimento sensível ou faculdade da afeição ou sentimentos.
– Faculdade diferencial característica da vida animal. A sensibilidade é uma forma elementar da consciência, ou a maneira mais simples de conceber uma consciência.
 Todas as definições da sensibilidade podem reduzir-se a três:
A que considera a atividade sensitiva como as afeições do agente psíquico, independentemente de toda noção de objeto ou qualidade extramental.
 
A que lhe atribui o papel de proporcionar dados à matéria do conhecimento sensível, que assume caráter de conhecimento somente pela intervenção da inteligência.
Faculdade cognoscitiva encarregada de informar-nos sobre os objetos externos com inteira independência do entendimento; faculdade superior de conhecimento, que atua sobre as representações de origem sensorial. (Diccionario Enciclopédico Espasa-Calpe.)
 
Difícil é descrever com palavras o conteúdo profundo do vocábulo sensibilidade ou, mais exatamente ainda, o que ele deve significar para a compreensão humana. Nós, ao fazê-lo, iremos diretamente à sua essência e exporemos o que ela deve representar para cada um.
 
O complexo psicológico é diferente em todos os seres, e essa é a causa de a sensibilidade não se manifestar sempre da mesma maneira, com a mesma intensidade ou reagindo do mesmo modo*. Digamos mais; digamos que a sensibilidade desperta e se manifesta com maior plenitude nos seres mais evoluídos. Neles, chega até a constituir uma condição do espírito e, como tal, permite-lhes experimentar ou, em outras palavras, sentir a força de uma verdade como poderia a razão tê-la percebido. Daí o fato de muitas vezes a sensibilidade suprir a razão e nos revelar coisas que esta demora muito a compreender. E é que, enquanto uma atua mais com o externo, a outra, a sensibilidade, recebe as impressões e reage independentemente daquela, por afinidade, por indiferença ou por dissentimento. Fica assim explicada uma das tantas interrogações que com freqüência se apresentam à mente.

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Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações L - Por Daniel Teixeira - Povoamentos e abandono

 
 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações L - Por Daniel Teixeira - Povoamentos e abandono
 

Esta minha crónica foi em grande parte despertada pelo excelente texto do meu parente António Afonso sobre o Monte dos Medronhais que pode ser lida aqui e que me levantou algumas questões em quase resposta ao seu texto. Para quem não leu ainda essa crónica de António Afonso devo dizer que o que me levanta curiosidade e questões é o facto de haver no Concelho de Alcoutim, e por esse Portugal rural fora seguramente, Montes (Povoações) unifamiliares.

Ora, na minha perspectiva, a unifamiliaridade de povoamento, ou o número de habitantes por local, tem a ver sobretudo com o volume dos recursos disponíveis a ser explorados através de uma dada localização geográfica. Penso que seja lógico pensar-se assim e a própria experiência adquirida nos restantes Montes, sejam eles do Concelho de Alcoutim ou outro, demonstra de alguma forma isso.

Quando eu falo de Alcaria Alta, por exemplo, pergunto-me quase sempre, directa ou indirectamente, porque existe uma aglomeração e uma relativamente forte concentração habitacional em espaços que em termos de construção são de difícil trato.

Já referi, por exemplo, que a casa da minha avó foi construída em cima de um rochedo que obrigou ao enchimento em pedra solta e provável entulho de uma grande parte do seu corpo para nivelamento do conjunto habitacional da casa, assim como tenho referido locais de difícil acesso diário, cuja justificação única que se poderia apontar seria o facto de a posse da propriedade a isso ter obrigado.

Mas também já referi que o meu avô tinha uma arramada a cerca de cem metros de casa que não era utilizada senão para armazenamento de palha, quando na verdade os animais e ele mesmo, ficariam muito melhor servidos nessa outra localização, não fora o contra de as bestas terem de comer durante a noite ou madrugada.

Isto para dar a entender que, na minha opinião, existia um factor que levava ao agrupamento habitacional que se não prendia (pelo menos exclusivamente) com a falta de alternativas vistas agora, na nossa perspectiva, mas que requeria uma relação de vizinhança tão aproximada quanto possível.

Ora, quando aparece, nas crónicas, neste caso no Alcoutim Livre, um Monte isolado e unifamiliar o  bichinho da minha curiosidade é despertado pela contradição entre o narrado e a cultura por mim construída. Sei por exemplo, que no litoral, as «hortas» são na sua grande parte separadas entre si pelas  delimitações dos terrenos e sua pertença, e logicamente pelo facto de constituírem unidades específicas, alegadamente auto-suficientes.

Quando isso não acontece, ou seja, quando existe o caso de partilhas, aqui nos arredores de Faro, por exemplo, que «desmembram» a propriedade inicial, mantém-se a separação apesar de haver partilha conjunta de um recurso, neste caso, a água ou a nora, mais especificamente.

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Blogue Alcoutim Livre - O monte dos Medronhais - Escreve António Afonso

 
 
Blogue Alcoutim Livre - O monte dos Medronhais  - Escreve António Afonso
 

Pequena nota:
 Não conhecia nada do Monte dos Medronhais e não me lembro de alguma vez ter lido algo sobre ele a nível das minhas pesquisas, nomeadamente no arquivo histórico camarário quando o consultei de 1986 a 1988 por deferência do então Presidente da Câmara, Manuel Cavaco Afonso.
 
Através das Memórias Paroquiais (1758) encontrei referência a alguns montes da freguesia de Martim Longo de que desconheço a sua existência e por esse motivo postei em 24.06.2011 Martim Longo, montes indicados nas Memórias Paroquiais (1758) e que não identifico, solicitando aos visitantes / leitores qualquer informação sobre o assunto. Até hoje, nunca me chegou qualquer informação sobre o assunto através do meu e-mail.
 
Gostei muito de ter aprendido com o nosso colaborador a existência deste monte tipo alentejano e o que escreve sobre ele são parâmetros que normalmente abordamos.
 Aqui deixo o meu obrigado ao António Afonso e pode ser que ele conheça algum dos montes que refiro na minha postagem de 24.06.2011.
 
JV
 
O ALCOUTIM LIVRE muito tem escrito sobre os montes do concelho, contudo, haverá um ou outro que escapou, por desconhecimento da sua existência.
 
Hoje irei falar sobre um pequenino Monte, perto de Martim Longo, «Os Medronhais». Este monte fica situado um pouco a Norte da sede de freguesia, talvez a dois quilómetros de distância, por um caminho de terra batida, em direcção ao Moinho do Ferreiro.
 
Visitei-o uma única vez, acompanhando um amigo, que me convidou. Teríamos cerca de doze anos e fomos levar uma cabra, cuja intenção era juntá-la ao rebanho para arranjar namorado; (chibato, bode) passada uma semana o animal voltou a casa e decorridos os cinco meses de gestação, passou à condição de mãe solteira e independente.
 
Recordo que o aglomerado possuía as casas de habitação, as instalações para os animais, nomeadamente ramadas, palheiro, forno, alguns currais e pocilgo. Num vale próximo havia uma pequena horta com um poço, que produzia água destinada ao consumo dos habitantes, animais e rega.
 
O monte foi construído numa zona alta o que permite uma vista panorâmica privilegiada sobre os campos outrora cultivados por vastas searas: aqui e ali nota-se o branco do casario de outros montes em redor, alguns deles pertencendo ao concelho de Mértola.
 
Despertou-me interesse escrever algo sobre ele, por vários motivos: Trata-se de um aglomerado rural unifamiliar, implantado numa herdade, típico dos montes do Alentejo. Certamente, desta forma, teriam nascido todos os outros montes de maior dimensão existentes no termo de Alcoutim; porém, este continuou isolado, tal como outros que conhecemos, nomeadamente o Monte dos Guerra que lhe fica próximo, as Bringueiras, o Vale do Gimão, A-Dos-Gagos e o Monte dos Matos.

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Crónica de Arlete Piedade - Viagens ao longo do Rio Tejo - Almeirim

 
 
Crónica de Arlete Piedade - Viagens ao longo do Rio Tejo - Almeirim
 
Almeirim é uma cidade, situada na margem esquerda do rio Tejo, em frente a Santarém, da qual dista cerca de 10 Kms. Capital do concelho com o mesmo nome e de uma vasta região agrícola, que compreende as lezírias do Tejo, ricas planícies de aluvião, que as cheias periódicas do rio, enriquecem e tornam férteis para diversos tipos de cultura, dos quais se destacam, as vinhas e os melões, bem como vários produtos hortícolas, como tomates, milho, morangos e outros.
 
Almeirim é uma cidade antiga com vestígios de ocupação humana desde a pré-história. A presença romana fez-se notar nestas paragens, pois por aqui passava a via militar romana, partindo de Lisboa para Mérida, capital da Lusitânia, datando-se do séc. I a ocupação de terrenos.
 
Mas tem sobretudo uma história rica em acontecimentos relacionados á corte portuguesa, cujos reis nos séculos XV e XVI, elegeram esta localidade como local de recreio para passarem férias e temporadas mais ou menos longas, devido ao seu clima ameno.
 
Nesse tempo o rio Tejo era navegável até Santarém, e a peste grassava em Lisboa. Por isso em procura de melhores ares, toda a corte se deslocava para Almeirim, que passou a ser chamada a Sintra de Inverno, tendo o rei D. João I, mandado construir um palácio em Almeirim, para seu veraneio e descanso, bem como dos reis que lhe sucederam.
 
Dedicava-se á caça e outros passatempos, como a lide de touros, e a criação de cavalos, nascendo assim a tradição das touradas. Todos os assuntos da corte eram despachados em Almeirim, e os fidalgos passaram a construir os seus palácios na cidade, para onde se deslocavam em conjunto com o rei. Toda a gente que dependia do rei e das intrigas e ambiente da corte, se deslocavam também para Almeirim. Sem a via fluvial que o Tejo constituía, tal não seria possível.
 
Nos tempos actuais Almeirim é célebre pelos seus produtos agrícolas, nomeadamente o vinho e o melão. Famosa pela sua gastronomia e os seus restaurantes que todos os fins-de-semana acolhem muitos visitantes vindos de outros pontos do país especialmente para passarem o dia em Almeirim e aqui almoçarem.

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O papel do Multicaixa na Prevenção de Conflitos - Crónica de Gociante Patissa

 
 
O papel do Multicaixa na Prevenção de Conflitos - Crónica de Gociante Patissa
 
Benguela cidade anda movimentada, como devia aliás andar, a caminho de quatrocentos anos de existência. Janota, conhecido por doutor muito antes até de tirar a licenciatura, procurava preencher o vazio que tem sido a sua cama desde que a esposa viajou para a China. Por muito que gostasse e bebesse de filosofia, estava difícil o jejum (devo usar uma linguagem mais ou menos sóbria, já que tenho sobrinhos menores seguindo-me no facebook).
 
Vai daí Janota dar um salto ali pelas bandas da Se Catedral, onde se diz haver um bordel. Assim como ao lado de cada direito anda o respectivo dever, pureza e fé têm sempre uma tentação à perna.
 
Em coisa de minutos Janota tinha uma rapariga, expedita vendedora de orgasmos simulados, e um canto para o labor e o sabor, não sem antes ficar claro o preçário. A menina fê-lo chegar à China por alguns instantes. Ora, completada a viagem, surgia um tipo de conversa mais ou menos imprevista para aquele segmento de negócio:
 
- E agora, como vamos fazer. Posso pagar com cartão? – indagava o saciado enquanto calçava as meias antes de botar a calça.
 
A rapariga olhou para ele, como quem diz, caramba!, está aqui um espertalhão. Antes mesmo que ela emitisse uma palavra, o cliente continuou justificando-se:


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A lotaria da vida - Texto de Leocardo publicado no Blogue Bairro do Oriente

 
 
A lotaria da vida - Texto de Leocardo publicado no Blogue Bairro do Oriente
 

O milagre de dar à luz uma nova vida pode ser uma alegria para uma mulher, mas até neste particular há países onde dá gosto ser mãe, e outros onde se deve pensar duas vezes antes de trazer outra criança ao mundo.
 
Tristemente mais de 3 milhões de crianças por ano morrem no primeiro dia de vida, enquanto 40 milhões de mulheres dão à luz em casa sem a assistência de um medico ou de uma parteira qualificada. Diariamente morrem 800 mulheres durante a gravidez ou no parto.
 
Num ranking baseado em qualidade dos cuidados médicos a parturientes e recém-nascidos, incentivos governamentais à natalidade e taxa de mortalidade infantil em 176 países, a Finlândia é o melhor para se ser mãe. A Escandinávia em geral é um paraíso para as mamãs, com Suécia, Noruega, Islândia e Dinamarca a ocupar os primeiros lugares, com os Países Baixos a «intrometerem-se» no quinto posto.
 
Espanha, Bélgica, Alemanha a Austrália completam o top-10. Apesar de assegurarem com um elevado grau de certeza que o nascimento de uma nova vida é realizado com segurança, estes são países que se encontram a braços com uma baixa taxa de natalidade. E é caso para dizer que dá Deus nozes a quem não tem dentes. Os dez piores países para se ser mãe são todos em Africa, sem surpresa. A Rep. Democrática do Congo é o pior, seguido da Somália, Serra Leoa e Mali.
 
Mas se nascer com qualidade e segurança é importante, não menos importante é onde. Ninguém pode escolher o país Natal, e aqui a sorte desempenha um papel fundamental. Numa lista que atende a factores tão diversos quanto a esperança media de vida, taxa de divórcios, igualdade entre géneros e até a pluviosidade media anual, a Suíça é actualmente considerada o melhor país para se nascer.
 
 
 
 
 

Poesia de Marcos Loures - NADA MAIS PUDERA; SINCERO; FOGOSA

 
 
Poesia de Marcos Loures - NADA MAIS PUDERA; SINCERO; FOGOSA

NADA MAIS PUDERA
 
 Já nada mais pudera aonde eu tento
 Seguir o meu caminho sem sentido
 O corte desenhado onde lapido
 E trama o quanto possa o pensamento
 Gerando o que pudera resolvido
 E nisto só presumo o sofrimento,

Meu mundo se aproxima em sofrimento
 E nisto cada dia novo eu tento
 Meu sonho sem estar já resolvido
 E o todo noutro rumo ora sentido
 Traçando o quanto possa o pensamento
 E um verso sem temor hoje eu lapido,


SINCERO
 
 Agora irei falar do amor sincero,
 Que toma os meus sentidos, que me doma,
 Amor que multiplica mais que soma,
 Aquele a quem desejo, e até venero...

O amor sem preconceitos, como eu quero,
 Que faz todo caminho ir para Roma,
 Espécie de torpor num quase coma,
 Ao mesmo tempo pródigo ou austero...

FOGOSA
 
 Fogosa, eu te procuro a noite inteira
 Numa ânsia desejosa e tão audaz,
 O amor quando em delírios já se faz
 Entrego-me mulher e companheira,

Por mais que tanto amor inda se queira
 A vida sem prazer não satisfaz
 Contigo encontro o gozo feito em paz,
 Paixão que me arrebata, a derradeira.


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Poesia de Pedro Du Bois - Emblemático; Partida; Requerer

 
 
Poesia de Pedro Du Bois - Emblemático; Partida; Requerer 
 
 Emblemático
 
Repito o lema em voz alta
 reparto o tema em gritos
 reconduzo o cego ao lado
 na incerteza no caminho:

exijo a reposição da perda
 dos desencontros repetidos
em ternas palavras

Partida
 
O motor ligado
 o câmbio
 os pés deslizam pedais
 de ir embora

a imagem retrovista
 avisa da tristeza
 
Requerer
 
Requeiro
 visto
 de saída

em nova vida
 me arrependo
 na continuação da busca

requeiro visto de entrada
 e regresso ao prazer atávico
 do seio materno
 
 
 
 
 

 

Manhecença Caipira no meu Paraíso - Poema de Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS

 
 
Manhecença Caipira no meu Paraíso - Poema de Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS
 

 O dia nasce ao cantar do galo
 Dos sabiás e pintassilgos,
Na amoreira rente ao quarto dos meninos
 Do mugido das vacas com seus bezerros,
Livres do curral e da ordenha
 E o cocheiro chega a casa
 Com dois baldes de leite; espumante
 Muuuuuuuuuuuuuuuhhhh, reclama
 O bezerrinho, ansioso pelo leite escondido da mãe... .
 Lá no alto do morro
 Do angical enfeitado, veem-se as flores
 Do ipê amarelo, repleto de aves
 Que Anuncia o tempo de plantar
 Lá no brejo a saracura pia
 Chamando filhotes...
 Na cerca da casa, o cipó de São João, florido
 Onde os coitelo vem buscar o mel
 Que divide com a jataí
 E um bando de quero-quero fazem a fuzarca
 Dirigindo a orquestra da Natureza, que acorda bemol
 Um bando de urubus fazem círculos no trecho do eito de arroz...
E os fogo-apagou, fazem vôos rasantes
 Com as rolinhas e tico-ticos
 
 
 
 

 

 

sábado, 25 de maio de 2013

Emília das Neves e Luís da Câmara Leme

 
Emília das Neves e Luís da Câmara Leme
 

Nota: Durante as nossas «viagens» pela Internet encontramos por vezes informações dispersas às quais não conseguimos dar valor ou articulação.
 
Neste caso, encontrei primeiro num site de um Alfarrabista a capa do Livro abaixo. Procurei saber quem tinha sido a actriz Emília das Neves e encontrei na reunião do conjunto uma história de amor (proibido para a época) mas que mereceu da parte do amante um elogioso volume de 600 páginas.
 
Tendo em consideração a biografia e a bibliografia de Luís da Câmara Leme acho que isto diz muito...de notar que ambos tinham a mesma idade sensivelmente (1819/1820) e que a actriz faleceu aos 63 anos, 21 anos antes do seu amado que faleceu aos 85 anos de idade.
 
Daniel Teixeira
 
 Emília das Neves de Sousa, a Linda Emília (1820 — Lisboa, 19 de Dezembro de 1883) foi uma actriz dramática portuguesa de grande relevo durante o século XIX, a primeira grande vedeta feminina a surgir em Portugal.
 
Biografia
 
 Era filha de um Açoriano da Freguesia de São Bartolomeu dos Regatos, em Angra do Heroísmo, um dos Bravos do Mindelo, razão pela qual a Freguesia lhe dedica a toponímia de um dos seus arruamentos. Foi amante de Luís da Câmara Leme.

Emília das Neves, a Linda Emília, surgiu nos teatros quando tinha 18 anos em 1838 e seria aplaudida até 1883. Trazida para o Teatro sob a égide de Alexandre Dumas, foi uma das grandes figuras do meio teatral português da geração romântica, ombreando com os Epifânios, os Teodoricos e o Rosa-Pai. Ficaram memoráveis os seus desempenhos, em particular os seus papéis nas peças Judith, Proezas de Richelieu, Joana a Doida, Gladiador de Ravena e Maria Stuart.
 
 
 
 
 

Incêndio passional da juventude de um Nobel - Crónica Por José Viale Moutinho

 
Incêndio passional da juventude de um Nobel - Crónica Por José Viale Moutinho 
 
Não, não me refiro ao Saramago, que é Nobel de Literatura, mas ao cientista Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina no longínquo ano de 1949. Outro dia, apanhei na estante um seu livro de memórias, A Nossa Casa, de 1950, e aí ele refere-se a duas viagens suas a Santiago, na primeira das quais se lhe ateou o que ele designa de incêndio passional da juventude.
Conta o prof. Egas Moniz que, em 1897 (o grande fadista coimbrão Hilário morrera no ano anterior), em resposta a uma visita feita pelos tunos compostelanos, os seus camaradas de Coimbra foram a Santiago. «Na passagem em Tui, para a Galiza, escreve o então estudante de Medicina, começaram as manifestações a Santiago que, no céu, se devia sentir atemorizado com tanta evocação do seu nome, em apóstrofes infindáveis.»
 
Depois: «Cantavam-se canções portuguesas e galegas, muitas vezes concordantes na sua toada folclórica que, naquela noite luarenta, trazia em chamas, arrebatamentos inesperados.» Egas Moniz discursava e os seus colegas cantavam.

«E logo me prenderam os olhos negros de uma esbelta rapariga que no seu camarote ostentava no cabelo preto uma rosa vermelha que me serviu para qualquer frase apropriada. Todos se aperceberam da minha predilecção e ela própria não deixou de a sentir.»
 
Entre recitais, o moço acabou por conhecer pessoalmente a tal jovem, com quem teve aceso carteio. «Foi nessa época que surgiu a guerra de Cuba, em que a heroicidade espanhola foi aniquilada pela força dos estados Unidos.
 
A formosa compostelana prendeu-se por tal forma a essa luta, acendrou-se tanto no seu patriotismo exaltado de espanhola, que foi assunto fundamental das suas cartas. Não escondo que houve da minha parte, dado a entusiasmos, alguns madrigais; mas tudo isso era secundário. Pelo meu lado, também andava interessado nessa guerra, prevendo, como toda a gente, um desastre para a Espanha, mas tomando partido a seu lado.»
 
 
 
 
 
 

A Lenda de Inês Negra - Lenda do Distrito de Viana do Castelo

 
A Lenda de Inês Negra - Lenda do Distrito de Viana do Castelo
 

Os Castelhanos tinham-nos tomado a maior parte das povoações fortificadas do Alto Minho; porém, o valor dos Portugueses os tinha feito capitular a quase todos e só Melgaço estava a favor de Castela.
 
Era seu governador ou alcaide-mor. Alvaro Pais Sotto -Maior, castelhano, o qual, tendo de guarnição trezentos infantes e trezentos cavalos, porfiava na resistência. D. João I pôs cerco a Melgaço e havia 10 dias que o assédio durava sem outra consequência mais do que escaramuças, que nada decidiam.
 
Então o rei português mandou edificar um castelo de madeira, que ficasse a cavaleiro das muralhas, cuja construção levou 20 dias. Os cercados, receando o assalto, deram sinal de armistício e foi à praça João Fernandes Pacheco; porém, Alvaro Pais propunha tais condições que nada conseguiu. O rei mandou activar os preparativos do assalto, jurando que ele próprio o comandaria.
 
Dentro da praça havia uma mulher muito valente, parcial dos Castelhanos, que renegara sua pátria, pois era daqui mesmo natural.
 
Sabendo ela que no arraial dos Portugueses estava uma sua conterrânea, ousada e valorosa como ela, a mandou desafiar a um combate singular.
 
Inês Negra (a desafiada) aceitou o repto e dirigiu-se logo para o ponto designado, que era a meia distância do arraial da vila. Já lá estava a arrenegada, (como então se dizia) e o combate começou encarniçado, terrível e desesperado, como duas viragos, ferindo-se com as mãos, unhas e dentes, depois de partirem as armas de que vieram munidas (ignorando-se que armas fossem).

Leia este tema completo a partir de 27 de Maio carregando aqui.



 

UM CONTO DE DANIEL TEIXEIRA - O meu romance

 
UM CONTO DE DANIEL TEIXEIRA - O meu romance 
 
Ainda hoje me pergunto como foi que aquilo aconteceu, como foi possível que eu deixasse passar aquele romance, como foi possível que aquelas palavras não tivessem sido apresentadas por mim. Era o meu romance, asseguro e tenho provas escritas que já mostrei a vários amigos e amigas de que era o meu romance.
 
Que fui eu que o fiz, linha por linha, palavra por palavra, quase.
 
Entre aquilo que eu escrevi e naquele romance que tinha tido nas mãos quase nada havia de diferente; talvez houvessem algumas palavras colocadas num outro contexto, talvez alguns momentos de emoção vividos de outra forma, mas no conjunto tudo dava certo, princípio, meio e fim eram precisamente iguais, as personagens apenas tinham nomes diferentes mas sentia-se bem que eram as mesmas, que diziam a mesma coisa, que se comportavam da mesma maneira.
 
E eu, por uma questão de dias, talvez menos de um mês, não estou bem certo, deixei escapar aquele romance para as mãos e para a ideia de uma outra pessoa.
Pessoa essa que agora ali não estava, na apresentação do livro, numa sala repleta de gente e alguns críticos de órgãos importantes da cultura nacional.
 
Caramba, que azar o meu! Detive-me demasiado tempo a arranjar pontos e vírgulas, a reconstruir algumas frases, a fazer coisas que levam o seu tempo, a aprimorar o dicionário que nunca estava certo para mim mas finalmente acabei por dizer a mim mesmo «vai já assim» mas quando me disse isso a mim mesmo já era tarde, demasiado tarde.
 
O outro já tinha o livro feito, correra a entregar as provas, penso, deve ter corrido, ultrapassara-me e embora não seja muito próprio utilizar estes termos nestas questões culturais digo que ele chegou à meta que era a Editora primeiro que eu.
 
Não quero acreditar que ele tivesse adivinhado que eu estava a fazer um livro que era igual ou quase igual ao dele, isso é impossível, vivemos os dois relativamente perto, é certo, mas a distância que nos separa em termos físicos é enorme.
 
Entre a casa dele e a minha há um riacho lamacento que é praticamente inultrapassável no Inverno e dar a volta ao riacho implica andar a pé quase meio quilómetro, pelo menos. E posso sempre perguntar-me como e porque razão ele viria espiar o que eu escrevia, porque razão ele precisava da minha ideia para fazer um livro, que fosse - como era - quase igual ao meu.


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Conto de Dulce Rodrigues - A corrida das rãs

 
Conto de Dulce Rodrigues - A corrida das rãs 
 
Um belo dia, um grupo de rãs decidiu fazer uma corrida, cuja meta era o cimo de uma grande torre.
 
Veio muita gente para as ver e apoiar, mas mal tinha começado a corrida já todos diziam que as rãs não conseguiriam chegar lá: « Inútil continuarem ! Nunca vão conseguir ! »

Pouco a pouco, as rãs começaram a desencorajar-se e foram desistindo. « Não vale a pena continuar ! Nunca lá vão chegar ! » diziam e repetiam todos.

E à força de ouvirem estas palavras desencorajadoras, as rãs acabaram por se deixar convencer e abandonaram a corrida, excepto uma, que continuava a subir, apesar de tudo o que diziam; sozinha e com grande esforço chegou finalmente ao cimo da torre.
 
Estupefactas, as outras rãs quiseram saber como ela tinha feito. Aproximaram-se dela e perguntaram-lhe qual o segredo de ter terminado a corrida. E foi então que descobriram que aquela rã... era surda !
 
 
 
 
 
 

A Ultima Serenata - Conto Surreal por José Pedreira da Cruz (Tico Cruz)

 
A Ultima Serenata - Conto Surreal por José Pedreira da Cruz (Tico Cruz)
 
Nós éramos bons amigos, e com música costumávamos fortalecer nossos vínculos de amizade. Nosso principal robe era fazer serenatas em noites de lua cheia: uma brincadeira ingênua que enriquecia nosso ego e divertíamos os enamorados.
 
Certa noite, eu e meus amigos João Cosme e Raimundo Torres, resolvemos fazer mais uma. Entre um gole e outro comíamos torresmo e rodelas de salame e a seguir o som do violão quebrava o silêncio daquela madrugada de brisa, luar e poesia.
 
«Tanto tempo longe de você
 quero ao menos lhe falar.
A distância não vai impedir,
meu amor de te encontrar….(….)
Eu te amo, eu te amo, eu te amo».
 
Havia a certeza de estarmos fazendo uma linda serenata.
Nossas canções se alternavam e muitos, na cama, se deleitavam com nossas cantorias. Já outros, xingavam-nos.
 
«....esta noite, eu queria que o mundo acabasse
 e para o inferno o Senhor me mandasse
 para pagar todos pecados meus.......».
 
A bebida já, já, acabaria. Era alta noite. Plena madrugada. Hora dos corococós dos galos, e nós já havíamos cantado algumas canções e sentíamo-nos contentes e orgulhosos.
 
Eu, ladeado pelo dois amigos, estava sentado num dos degraus da calçada da igreja cantando e dedilhando o violão e pressentia que alguma coisa não ia bem, pois, mesmo cantando e bebendo conhaque, vinha-me pensamento desagradável: «aqui, nessa igreja, todos os mortos do lugar obrigatoriamente fazem sua última visita antes de irem para suas covas», e nós estávamos sentados justamente no caminho deles. Isto muito me desagradava e deixava-me apreensivo.


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Poesia de José Geraldo Martinez - DIVIDIDOS! ; TENHO INVEJA...

 
Poesia de José Geraldo Martinez - DIVIDIDOS! ; TENHO INVEJA...


DIVIDIDOS!
 
Vão moça e moço nesta doce adolescência...
 O futuro tem belo esboço, na ilusão que alimentam!
 Os beijos ainda são de tutti-frutti ou menta...

Vão moço ou moça,
que o dia de sol se apresenta de
primavera vestido!
 Propício a perderem a réstia de inocência,
 com beijos quentes e atrevidos...

Segredos guardados para todo sempre,
 onde roubarão no amanhã algum sorriso!
 Nas lembranças do hoje ou em qualquer canção,
 quando adultos estiverem divididos...
 

TENHO INVEJA...

Tenho inveja do cão,
 apesar da submissão!
 Do feroz leão que mata para sobreviver...
 Vergonha do ser humano que em vão,
 mata o outro por bel prazer!

Tenho inveja dos lobos,
 com todo instinto selvagem...
 Dos elefantes gigantescos,
 devassando tudo em suas passagens !

Tenho vergonha do ser humano,
 que precisa de drogas para ter coragem...
 Dos covardes mandatários de gabinetes,
 que ostentam as guerras e suas vantagens!

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sexta-feira, 24 de maio de 2013

VIAGEM EDUCATIVA - Crónica de João Furtado


VIAGEM EDUCATIVA - Crónica de João Furtado  
 
Enfim chegamos. Não completamente. Ainda faltava cerca de 50 minutos. Estava exausto.
 
Tinha saído de Atlanta para Bóston, onde dormi na casa do meu irmão. Para levantar de madrugada. Cansado de avião preferi tomar autocarro para Nova Iorque. O meu irmão me levou de carro de madrugada para o South Station. Não era necessário, podíamos ter ido mais tarde e apanhado o autocarro das dez. Mas, ele tinha trabalho e por isso apanhei o das cinco de madrugada.   Foi uma longa viagem, mas adorei. Estava farto de avião e tinha que o apanhar em Nova Iorque. Não tinha outra alternativa. Viver nas Ilhas, tem esta inconveniência temos que estar sempre a apanhar avião ou barco. O barco estava fora das minhas opções, mesmo se existisse, não consigo superar o enjoo.
 
Cheguei a Nova Iorque, troquei de autocarro. Tomei o errado. Devia tomar para o aeroporto de John F. Kennedy, mas apanhei de Newark Liberty.
 
Acontece comigo. Da última vez fui parar a La Guardia tive que apanhar um táxi. Desta vez não preocupei, tinha tempo. Estava com mais de seis horas de avanço. Apanhei outro autocarro e por fim cheguei onde devia apanhar o Avião de South Africa, o voo SA202 com destino a Ilha do Sal.   O SA 202 ia para Joanesbourg. Era uma escala praticamente técnica no Sal, entretanto a companhia aceitava alguns passageiros para Cabo Verde. Quase sempre menos de vinte. Naquele dia éramos cerca de doze. A maioria do completamente cheio boing 747 tinha como destino Africa do Sul.  
 
Entre os quase doze passageiros estava uma senhora jovem, não tinha mais que 25, 26 anos. Bonita e toda maquiada. Nem os cerca de 6 horas de voo nocturno. Nem a madrugada da chegada, duas horas e trinta minutos, a conseguiu tirar o batom da boca ou os muitos quilos de produtos nos olhos, face etc. Ela estava de roupas brilhantes, destacando o colan vermelho e a bota de couro.
 
A senhora estava acompanhada de um rapaz, a idade situava-se entre os 8 e 10 anos. Estávamos na sala de embarque. Eu na curta fila e ela a preencher a folha dos Serviços Fronteiriços. Mas os meus olhos não desgrudavam do rosto dela. Tentavam saber de que ilha era ela. Embora já tivesse apercebido que ela era de uma das nossas muitas ilhas virtuais, a emigração.




Poesia de Arlete Deretti Fernandes - A Quem muito amei; Bolinhas de sabão

  
Poesia de Arlete Deretti Fernandes - A Quem muito amei; Bolinhas de sabão
A Quem muito amei
 Queria ser uma flor, a rosa.
De todas a mais delicada.
Queria ser pedra preciosa
que cintila ao sol, na madrugada.
Ao surgir de seus primeiros raios,
a iluminar a natureza inteira,
eu saio a vagar, a procurar-te,
até chegar a lua branca e faceira.

Bolinhas de sabão
A menina de vestido bonito,
lá do topo da escada,
solta bolinhas de sabão
e as observa admirada!
Multicoloridas bolhinhas!!!
que voam nas asas do vento.






Da inocência obstinada - Texto recolhido em As Leituras de Madame Bovary


Da inocência obstinada - Texto recolhido em As Leituras de Madame Bovary
 
Há algum tempo que não me deixava tocar por um livro. Tenho andado arisca a literaturas, concentrada em usar as pernas para andar. Tentando manter os pés no chão e a cabeça nas nuvens.
 
Mas às vezes o sonho faz sentir a sua falta nas mãos inquietas que fumam demasiado. Foi assim na manhã alegre de sábado em que encontrei o livro Os Cães e os Lobos. Confortadas pela presença do livro, as mãos abrandaram junto ao peito, trocando a compulsão do fumo pelas palavras límpidas de Irène Némirovsky.  
 
Não concordo com o texto da contracapa que apresenta a obra como «um romance sobre a infância e a inocência perdida, uma obra-prima indiscutível da literatura do século XX». A cada leitor o seu livro: para mim, é um romance sobre a infância e a inocência obstinada.   O enredo acompanha a história solitária de Ada, uma judia pobre que se apaixona por Harry, filho de um rico banqueiro judeu. Através da narração deste amor insensato, conhecemos a diferença entre os cães e os lobos.
 
Os lobos desejam com toda a força das suas almas, cravam os dentes nas presas da sua esperança e não largam. Conseguem privar-se dos bens essenciais e decorativos mas não abdicam das suas alucinações interiores.



Poesia de Sylvia Beirute - Por vezes podemos falar; Improviso para um Mundo melhor; Alma Etérea


Poesia de Sylvia Beirute - Por vezes podemos falar; Improviso para um Mundo melhor; Alma Etérea    
 
Por vezes podemos falar
     
por vezes podemos falar  
sobre aquela luminosidade em forma de melancolia,  
sobre a memória que germina na lucidez mais propositada,  
muito como aquelas cidades  
do mundo que anoitecem cedo e cuja escuridão  
parece mergulhar numa espécie de desejo intacto  
e que nunca foram ao ocultador de riscos,  
à forma do místico.  
por vezes podemos falar sobre as imagens fixas
 
Improviso para um Mundo melhor  
   
e então pelo contrário um sol  
é tolerável num olhar  de dentro.  
olhas para a tua ausência  
como se lesses um romance.  
um gato passa directo e complexo,  
não contesta o ar e a ordem  do universo diário.  
e então morres como um sono  
em equilíbrio, deslocas um objecto  
como um poema que te põe a mesa.
 
Alma Etérea
 
 não nasças de novo  
debaixo de uma estrela.  
há demasiada luz.  
há outros lugares algures  
no universo.  
lugares que te oferecem  
inscrição aberta  
ao fundo do conhecimento,  
à alma dos espíritos.  
claro que aí não farás login  
nem log off  
porque esses lugares  
entrarão em ti.
 
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Histórias da Minha Terra - Por Arlete Piedade - O túmulo de Cabral


Histórias da Minha Terra - Por Arlete Piedade - O túmulo de Cabral  
 
Durante este mês voltei a passar com frequência junto á casa onde viveu Pedro Alvares Cabral, que agora é a Casa do Brasil, bem como da Igreja da Graça, onde se encontra o seu túmulo. Ando a frequentar uma formação em primeiros socorros, numa escola que funciona num edifício antigo ao lado da igreja e do mesmo período.
 
No intervalo pela janela do átrio no primeiro andar, vejo a estátua de Cabral, no largo fronteiro e parece tão perto que quase lhe posso apertar a mão. Lembrei-me assim deste texto que escrevi há alguns anos e que transcrevo abaixo, em especial em intenção de um nos nossos mais recentes colaboradores brasileiros, que ao ver uma reportagem na televisão sobre a minha cidade, me escreveu um e-mail dizendo as suas (boas) impressões sobre a região.  
 
Então aqui vai:   O Descobridor Injustiçado
 
Sempre que passo junto àquela casa reconstruída e onde funciona um centro cultural de exposições permanentes, chão de duas pátrias como é denominada pelas autoridades da cidade, ou seja a Casa do Brasil, relembro mais intensamente a figura histórica, querida em duas nações, que a habitou há 500 anos atrás.
 
Seu nome, Pedro Alvares Cabral, o mesmo que ficou para a História como o Descobridor oficial dessa pátria irmã, do seu nome Brasil, a terra de Vera Cruz.   Corria o ano de 1500 quando El-Rei D. Manuel I lhe entregou o comando de uma grande armada, que devia seguir a caminho da India com o objectivo de comerciar e fazer a paz com reis dessas terras longínquas que haviam hostilizado Vasco da Gama e seus comandantes aquando da primeira missão oficial dos portugueses por essas rotas das especiarias e de outras riquezas cobiçadas pelos reinos europeus.
 
No entanto segundo consta, El-Rei teria também outorgado outra missão, esta mais secreta ao grande comandante, que seria chegar a uma terra a ocidente, de que o rei já teria conhecimento por meios não oficiais, e tomar posse dela para a Coroa Portuguesa. Assim fazendo um desvio inesperado na rota, chegou a armada na semana da Páscoa á vista de uma terra em que se destacava um alto monte arredondado, pelo que foi chamado Monte Pascoal.





«Vó Aninha» - Crónica de Arlete Deretti Fernandes


«Vó Aninha» - Crónica de Arlete Deretti Fernandes
 
A modesta senhorinha, de estatura baixa e corpo franzino, foi testemunha viva de um século de História em nosso país. Ela era minha avó materna e viveu com lucidez até aos 103 anos. Nasceu em 1876.   Descendente de açorianos, vó Aninha tinha 14 irmãos. Quando batizados recebiam o nome do santo do dia, ou de personagens históricos.   Cristovam nasceu em 12 de outubro, aí a homenagem foi ao descobridor da América, Colombo.   Por ficar viúva muito cedo, Vó Ana morava com meus pais. Daí sua influência em nossa formação. Ela era de uma disposição invejável. Grande cozinheira e ainda melhor costureira.
 
Nossa casa tinha um corredor grande e uma varanda. Quando alguém «se passava», era uma corrida só pelo longo corredor, para depois pular a janela e o peitoril da varanda, se escapando da chinelada, que ardia. Logo a seguir passava a vó atrás com o chinelo na mão.   No verão subíamos nas árvores onde não raras vezes éramos picados por marimbondos . Outras vezes saíamos pelos pastos da pequena fazenda capturando borboletas com um saco apropriado para a finalidade.
 
Depois do almoço, como o sol era muito forte, vó Aninha colocava o «pegador de borboletas» sob o seu colchão enquanto descansava. E nós, ficávamos esperando-a levantar-se.   Havia em nossa casa um poço fundo, de água potável, onde se retirava a água limpa e pura, com um balde ou uma bomba elétrica. Meu irmão tinha um gato de estimação que costumava dormir sobre a sólida tampa de cimento do poço. Um belo dia o poço ficou aberto por uns segundos, enquanto a água era retirada.
 
O gato acostumado a pular sobre a tampa, desta vez caiu no vácuo e lá embaixo emitia miados desesperadores. O dono do gato chorava sem parar, até que chamaram meu pai, que retirou o bichano com um balde, para a alegria de meu irmão e o trabalho que papai teve de esgotar o poço.   Enquanto meu irmão gritava, minha avó pegou-lhe pelo suspensório que ficou em suas mãos, e ele escapou.