domingo, 30 de dezembro de 2012

O regresso da velha senhora (Cesária Evora). - Recolha de Helena Emília Bortoloti

 
O regresso da velha senhora (Cesária Evora). - Recolha de Helena Emília Bortoloti 
 
A Cesária Evora foi e é uma mulher extraordinária. Neste texto vamos conhecer uma pouco da história de sua vida e sua trajetória na carreira como cantora.Os seus olhos cantam. São irmãos desavindos - quando um chora, o outro sorri. Morna e coladeira na esquina do mesmo olhar. Sempre foi assim, nos dias de sombra e nos de luz também. Há um brilho especial que ilumina o seu caminho. Já assim era nos tempos em que soltava a voz numa qualquer tasca da cidade do Mindelo, a troco de um cálice de grogue.

Continuou assim, agora que avança com passos tão pesados quanto triunfantes, por alguns dos mais importantes palcos deste mundo. «A tristeza e a alegria são vizinhas», deixa escapar com desconcertante ingenuidade. Sem dar conta, de um sopro, Cesária Evora resumiu os seus sessenta anos de vida. Uma simples frase explica a música que lhe corre nas veias.

Morna e coladeira, tristeza e alegria. Música e sentimento - essências de uma mulher nascida com a voz num véu de ternura. Sina de uma vida feita história, que começa com «era uma vez». Era uma vez uma ilha, uma cara esculpida na rocha, o Porto Grande a abarrotar de navios, um imenso azul a embalar sonhos impossíveis.
 
O querer ficar, mas, ter de partir. A miséria.

 E uma criança a beber os acordes do violino no aconchego do pai: «Quando eu era uma asneira, jeito de dizer criança ele começava a tocar e metia-me entre as suas pernas. Então, eu cantava uns disparates. Não me passava pela cabeça que viria a cantar a sério.»
 
 
 
 

 

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