sábado, 15 de dezembro de 2012

O Natal do Mendigo - Conto de Daniel Teixeira

 
O Natal do Mendigo - Conto de Daniel Teixeira
 
Tinha amealhado durante os últimos dias tudo aquilo que lhe fazia falta. Pouco a pouco, em caixotes de lixo, em sacos semi - despejados à porta das casas e na rua, nas calçadas ou nas sarjetas.
 
Por vezes encontram-se coisas com valor nas ruas. As pessoas são descuidadas, por vezes, nem sempre metem as coisas com cuidado nos bolsos e no silêncio da noite ou no ruído da cidade elas caem no solo e vão ficando, por ali, por vezes muito tempo.
 
Achava muitas coisas: relógios, envelhecidos pelo tempo que tinham passado nas calçadas, à chuva ou ao calor por vezes, velhos ornamentos, brincos, sobretudo, coisas de pouco valor, sempre, nunca lhe davam muito dinheiro por nada que encontrasse.
 
Em certo sentido ele pensava que se fosse ouro os outros pensavam que mesmo sabendo que era ouro, que o ouro que ele trazia valia menos que o outro ouro que as ourivesarias vendiam ou que o seu ouro não valia quase nada.
 
Não se importava muito nem discutia com o senhor Armando aquilo que ele lhe pagava por aquilo que ele lhe levava: as coisas vinham sempre em mau estado e era ainda uma sorte para ele que ele quisesse ficar com elas e lhe desse algum dinheiro em troca. Recebia o que lhe davam, não protestava, nem tinha que protestar. Um mendigo não reclama, um mendigo pede, e as pessoas dão aquilo que podem ou querem.
 
Gostava de pensar que as pessoas davam tudo o que podiam. Era uma ideia que os seus amigos na sopa dos pobres por vezes gozavam e chegava a haver discussões sobre isso entre eles. «Dão o que querem!!» e «Alguns nunca dão nada», diziam. Não valia a pena - dizia - não vale a pena discutirem por causa disso, cada um pensa como quer.
 
 
 
 
 

 

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