Estranhos ruídos no casarão. - Conto de Arlete Deretti Fernandes
O relógio marca três horas da manhã. No silêncio da madrugada, ouve-se o silvo de algum animal noturno lá fora.
Enquanto o marido dorme tranquilo no quarto do casal, a esposa, sentada numa poltrona da sala de visitas tece o seu tricô. As primorosas encomendas precisam ser entregues no dia seguinte.
Ela tem dedos hábeis e ligeiros e não pode contar com o que o marido, homem sem iniciativas, traz para o orçamento doméstico.
A casa onde residem é ampla, de grossas tábuas de madeira, situada em uma rua com poucos vizinhos. No lado oposto localiza-se a igreja e o cemitério luterano da Cidade.
Na Páscoa os túmulos enfeitam-se de um colorido todo especial com os chocolates e presentes que as famílias que ali tem parentes sepultados, oferecem aos que se foram.
Mas, nesta noite a Páscoa já se foi há tempo. E é outra a história.
Enquanto as mãos da tricoteira tecem os fios num belo trabalho, seus pensamentos voam distantes.
Ela tem muitas coisas a contar, sua vida daria um livro interessante, por todas as situações que já passara.
Seus pensamentos são interrompidos abruptamente, quando ecoam na casa fechada sons de fortes batidas, provenientes do forro.
Apavorada com a estranha sensação provocada pelos ruídos, ela corre até o quarto onde o marido já acordado, estava com os olhos arregalados e a fisionomia de terror. Sem fala, ficaram sentados na cama lado a lado, sem nada dizer.
Após alguns minutos os sons disseminaram-se pelo corredor. A impressão que tinham era de que um homem de tamancos pesados pisava e andava de um lado para outro.
O barulho cessava, e dentro de segundos recomeçava.
Sem comentários:
Enviar um comentário