Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLI - Por Daniel Teixeira - Os criados em Alcaria Alta
Havia em Alcaria Alta duas famílias de lavradores com condições para terem criados, mas este termo tem uma conotação hoje que corresponde muito pouco àquela que tinha nesses tempos. Havia uma hierarquia entre o pessoal que trabalhava por conta de outrem e um criado, caso do «Pão de Centeio» ou Zé Lourenço já por mim falado por causa do seu terror das trovoadas, era criado mas era simultaneamente ganhão.
Havia em Alcaria Alta duas famílias de lavradores com condições para terem criados, mas este termo tem uma conotação hoje que corresponde muito pouco àquela que tinha nesses tempos. Havia uma hierarquia entre o pessoal que trabalhava por conta de outrem e um criado, caso do «Pão de Centeio» ou Zé Lourenço já por mim falado por causa do seu terror das trovoadas, era criado mas era simultaneamente ganhão.
O ganhão era um indivíduo que trabalhava ou estava em condições de trabalhar sozinho, que dominava as técnicas agrícolas, nomeadamente a lavoura e o tratamento do gado e era uma pessoa em quem se confiava no sentido técnico do termo. Já o ajudante era isso mesmo, não tinha autonomia reconhecida para trabalhar a sós e fazia parte de grupo ou grupos de trabalho onde exercia as suas funções subordinadas.
Em princípio e pela lógica, confesso que não me debrucei muito sobre isso nem isso fazia parte dos meus interesses de criança, um ajudante deveria trabalhar sob as ordens do ganhão mas pelo que me apercebi essa hierarquia embora fosse espontaneamente respeitada não tinha grande necessidade de ser aplicada de forma mais autoritária. Aliás os próprios patrões procuravam informar-se de como corriam as coisas.
Cada um deles sabia aquilo que tinha de fazer e quando não sabia o ganhão «sugeria» que ele, ajudante, começasse noutro lado quando tinha acabado a fila dele em vez de começar noutra para onde se encaminhava mas isso era mais porque o ganhão tinha a experiência e sabia que era assim que se fazia talvez desde sempre.
De criadas só conheci uma, a Mariazinha, que tinha sérios problemas de ingenuidade (era mesmo poucochinha, coitada) e entrava em paixão assolapada cada vez que um trabalhador ocasional que por ali ficasse uns dias em labuta lhe prometia casamento.
De criadas só conheci uma, a Mariazinha, que tinha sérios problemas de ingenuidade (era mesmo poucochinha, coitada) e entrava em paixão assolapada cada vez que um trabalhador ocasional que por ali ficasse uns dias em labuta lhe prometia casamento.
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