domingo, 2 de dezembro de 2012

Destino de uma criança - Texto de Lina Vedes

 
 
Destino de uma criança - Texto de Lina Vedes
 
Estávamos em 1940, a tuberculose era o cancro dos tempos actuais, um flagelo mortal, sem cura, sem esperança…

Carlos, mais novo dois anos do que a Joana, sua irmã, adoece com tuberculose e vai para um Sanatório, no Caramulo, com 3 de idade.
Ele recorda factos soltos, como o ter apertado o pescoço com uma guita, que o levou quase ao enforcamento, o ser picado no dedo por uma abelha e o dormir todas as tardes numa marquise, cheia de camas, viradas para o sol e ter de se tapar com uma manta até ao pescoço.

São acontecimentos soltos, da vida de uma criança hospitalizada num sanatório, muito longe de casa.
 Estava doente, tinha sido retirado do seio familiar, vivia com outros doentes da mesma idade, todos sujeitos a tratamentos rigorosos, que os obrigava a privações elementares.

A vida era monótona, os utentes infantis não podiam saltar e pular em liberdade. Era uma carência absoluta de amor, de exercícios lúdicos, a vida direccionada para uma alimentação eficaz, muito repouso e nada de excitações. Tudo tinha de decorrer «sem ondas», numa calmaria cansativa, desgastante e desmotivante.
 
O Carlos até aos três anos, no seio familiar, havia criado confiança e segurança emocional. Tinha a mãe como garantia que lhe abria espaço para um desenvolvimento intenso, numa aprendizagem tumultuosa, própria para o seu nível etário.

A doença e a consequente separação, com um corte radical, foi um desafio traumático, aos três anos de idade.
 
 
 
 

 

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