Presépios: Cristo nasce índio e negro - Por: FERNANDO FELIX, Jornalista
O primeiro presépio – o real de Jesus – aconteceu na Asia. A primeira representação fez-se na Europa. A tradição chegou à América e a Africa com os missionários europeus, mas depressa os tons ocidentais foram substituídos por cores e materiais locais.
Quando os missionários espanhóis e portugueses chegaram à América nos séculos xv e xvi, levaram a fé cristã e as manifestações religiosas, como as festas principais do ano litúrgico e as celebrações dos santos, envolvidas nos traços ocidentais: os trajes, a cor da pele das imagens, as músicas... Todavia, pouco a pouco, tanto a identidade indígena autóctone como a levada pelos escravos negros emprestaram elementos da sua arte à liturgia.
Na celebração do Natal, em particular, a arte refinada europeia dos presépios com figuras brancas foi substituída pelo carácter e pela estética do folclore ameríndio e afro. Lembre-se, por exemplo, como o padre José de Anchieta, jesuíta espanhol, modelava em argila, com a ajuda dos índios brasileiros, as pequenas estátuas de presépio.
O tom da pele e os rasgos do rosto passam a ser índios e negros. As cores das paisagens reflectem o céu azul e o brilho do Sol, porque, na América Latina, o Natal é celebrado em pleno Verão. As figuras representadas seguem as características dos locais onde são produzidas, sendo vestidas com trajes típicos dos respectivos países. E também são adoptados os animais da região, como os lamas da cordilheira dos Andes.
Os presépios, que podem ser montados em cada casa, na igreja ou ao ar livre, caracterizam-se pela delicadeza do trabalho dos artesãos. E outro destaque vai para a variedade do material utilizado: palha de milho, argila cozida e policromada, pedra, madeira ou mármore. E até ouro, como acontece no Nordeste do Brasil, onde são típicas as lapinhas, que consistem em construções simbólicas nas quais a figura do Menino Jesus é vestida de ouro e de pedras preciosas, em cima de um monte, rodeado de flores, plantas, pássaros e animais de todas as espécies.
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