sábado, 29 de dezembro de 2012

O FLAGELO - Conto de Liliana Josué

 
O FLAGELO - Conto de Liliana Josué 
 
O dia era de chuva causticante, por vezes dolorosa. Batia no chão da rua numa fúria impositiva. Riachos corriam em caudal considerável, procurando ansiosos a valeta que lhes serviria de abrigo.
 A trovoada fazia estremecer os corpos e amedrontar o espírito, como um ralho divino de forte severidade.

O vento atirava o incauto transeunte contra as paredes, ou soprava-o furiosamente para fora do passeio, expondo-o aos caprichos dos automóveis meios cegos, e o negro do céu encovava os parcos rostos que circulavam amedrontados.
 
João abriu a porta já destrancada do escritório; bateu com os pés no tapete num desejo inglório de que a tempestade terminasse ali. Um silêncio pesado espalhava-se por todo o compartimento embora alguns colegas já se encontrassem nos seus postos de trabalho, lembrando personagens de filme fantasmagórico e, uns «bons-dias» , lá iam saindo, a custo, das bocas desmaiadas e sorrisos imbecis.
 
Dirigiu-se ao cacifo, tirou a gabardina creme molhada e salpicada de lama, desenrolou o cachecol vermelho escuro do pescoço e pendurou ambos no minúsculo rectângulo mais parecendo um sarcófago.
 
Era um homem na pujança dos seus quarenta anos. Alto, magro, cabelo quase loiro mas já pouco abundante e estupendos olhos azuis.
 Sentou-se à secretária iniciando o ritual de todos os dias: ligar o computador, olhar a papelada e dar prioridades de execução.
 
O primeiro toque telefónico soou como gargarejo de peru, num alerta para mais um dia espinhoso. Nesse momento, todos na sala, se sobressaltaram por ainda pertencerem ao reino dos vivos.
 Chuva e mau tempo no exterior; chuva de telefonemas, de campainhadas e vozes impacientes. A labuta era tanta que nem tempo havia para engolir um triste café na esperança de mais energia e vontade renovada.
 
Mariana, a sua colega mais antiga, num bem vindo intervalo entre os gritos telefónicos e vozes impacientes do balcão, chamou João denotando apreensão:
- Não via jeito de conseguir falar contigo -. Aproximando-se mais um pouco continuou: - Já ouviste as últimas que ecoaram da sede?
 
 
 Leia o texto completo a partir de 31/12/2012 carregando aqui.
 
 
 

 

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