Coluna de Manuel Fragata de Morais - Sílvio Peixoto - A RIVAL
Se alguém alguma vez ouvir falar da minha história, há-de com certeza desculpar-me pela maneira rude e bravia como uso os termos.
Esta história é um foguete moral dirigido aos corações daqueles que não acreditam no amor, daqueles que são murchos e fechadiços como o Everest. Vou ser breve porque cada minuto que levo em desabafar arruína a sensibilidade interna do meu ser.
Para começar tenho a dizer que nós, as mulheres, somos um violino: a música que emitimos depende de como os homens tocam as nossas cordas musicais, o ritmo suave e pontiagudo do nosso erotismo sensual.
Conheci-o no aeroporto de Luanda, num dia de frio e nublado. Era a encarnação material de todas as ilusões motoras que uma mulher como eu, viúva e não muito bonita podia ambicionar.
Senti-me violentamente atraída como se eu fosse a epiderme para o seu corpo, como se ele fosse o pulmão para o meu aparelho respiratório.
Sentou-se ao meu lado na sala de espera e saudou-me com uma vénia de gentileza. Respondi-lhe com um monossílabo ininteligível, ao mesmo tempo que sentia o coração feito uma rocha dinamitada cujos fragmentos esvoaçavam pelo meu corpo e obscureciam a vista.
Apaixonei-me, viúva como era nos meus vinte e cinco anos de vida. Já não usava o negro, é claro.
Já no ar, desapertei o cinto de segurança e dispus-me a passear pelo corredor do avião, mais para vê-lo do que propriamente desentorpecer os músculos. De repente ele voltou-se também e nossos olhares se cruzaram, insistentes. Aproximou-se e perguntou-me da viagem. Respondi-lhe que ia bem e deu-me um cigarro.
Quando chegou ao Lubango eu já tinha o seu nome, Eurípedes, e o seu telefone. Sete dias depois rendi-me totalmente à evidência dos factos e começamos a namorar. Ele era o meu Euípedes, eu era a sua Lutércia.
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