Devolvida à noite - Texto de Gociante Patissa
A vivência do homem resumia-se em umas quantas ruas, a da escola, a do serviço, a das refeições em casa da mãe. Esta última saía-lhe agridoce, por serpentear entre o hospital e a casa mortuária, e com isso o embaraço em tomar por rotina o contacto com pesares alheios – confundindo-se a origem de pesadelos esporádicos, entre o caminho ou algum prato indigesto.
O ciclo do dia fechava-se faltando poucas horas para o outro. Visto do seu relevo, tudo o resto ficava a norte, noutra margem do século. No dia seguinte, estava outra vez a vida a imitar-se a si própria, nos mesmos caminhos e desencontros. Sorte era não ter de quem se esconder, já que «ofeka yinene ño nda okasi mo lesunga» (o país só é grande se levas a vida com justiça).
Numa qualquer noite, ia ele a conduzir devagarinho, o que bem podia ser atribuído à digestão, se não à chatice que era ir para a cama com a bomba de embraiagem na cabeça, agendada que estava a oficina para as primeiras horas da manhã. Quando a amizade com o mecânico aumenta, está na hora de nos desfazermos do carro.
Sobre a rotunda do Kulinji, estava uma mulher de dedo em riste, trajo de festa em dia normal de serviço. Não devia ter mais de 25 anos. Parecia ter pressa. Não parecia, tinha mesmo! O homem pára, ela ocupa de imediato o assento do «morto». Obrigada, moço! Vamos, diz, como se estivesse a ser perseguida. São dez da noite. A aflição da rapariga, revelada em fracção de segundos, deixa o homem perplexo, pois contrastava com a harmonia que se auferia do lugar.
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