Viagem no Crepúsculo Poético - Crónica do Dr. Mário Matta e Silva - Uma saudação a Bocage
Passeava eu pela cidade de Setúbal e logo me ocorreu a figura ímpar que foi esse sadino Bocage, nascido aqui a 15 de Junho de 1765. Admirei mais uma vez a sua estátua, visitei a sua Casa Museu e perdi-me em pensamentos vários sobre a sua tão renegada obra e a sua não menos desprezada estadia, de longos anos, nesta Lisboa de setecentos que ele tanto amou e cantou.
Tantos foram os que o vergastaram e denegriram, e, hoje ainda, poucos são os que lhe dão o mérito que tanto merece. Com a etiqueta literária de pré-romântico e fechado numa qualquer bafienta cave de biblioteca, Bocage, foi muitos e longos anos esquecido, «apedrejado», renegado, odiado até.
Ficou-se por um herege e por um vadio para somente se rirem das suas anedotas (com muitas delas a serem-lhe atribuídas por maldade, de forma vil e enganosa…) Meu Pai orgulhava-se quando me dizia: Barbosa du Bocage era primo afastado da tua avó paterna.
E eu, ainda rapazola, não sabia porquê, já sentia também esse imenso orgulho de o ter como um antepassado distante, mas entristecia-me o facto de só falarem mal dele e de tanto se rirem das anedotas mais rascas e indecorosas que diziam serem da sua veia repentista e irónica.
Realmente, já depois de várias leituras de alguns dos seus biógrafos e da sua obra poética e de atribuladas discussões académicas, comecei a compreender que todo aquele que se opunha frontal e publicamente ao poder instituído por Pombal, a rainha D. Maria e até Pina Manique, estava condenado à ruína moral, intelectual e até física!
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