domingo, 27 de janeiro de 2013

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLIV - Por Daniel Teixeira - Os contrabandistas no Monte

 
Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XLIV -  Por Daniel Teixeira - Os contrabandistas no Monte

Já aqui tenho referido que o meu avô fez contrabando durante a sua idade adulta, talvez até aos 40/50 anos sensivelmente e eu quando comecei a conhecê-lo já ele tinha deixado essa actividade. Para o efeito de ter largado essa actividade em muito terá contribuído o facto de quase ter morrido após uma queda de uns rochedos quando fazia uma travessia, queda essa que resultou num ligeiro afundamento da parte posterior do crânio, situação essa que foi tratada em casa, à base de pensos e pachos de água fria com rodelas de batata.

Na foto mais pequena tentei fazer notar esse traço de junção no crânio, partindo logo sobre o centro das sobrancelhas. Tenho uma outra foto do meu avô tipo passe, mais nítida, mas o simpático fotógrafo fez o «favor» de a retocar nesse ponto. De qualquer forma o que interessaria mais referir aqui seria que a metodologia de tratamento na altura era do género «ou safa-se ou morre» porque não havia mesmo outra alternativa. Safou-se...

O meu avô e a minha avó numa das suas visitas a Faro, anos 60, talvez, quando morávamos numa casa tipo quinta (dentro da cidade de Faro). O luto da minha avó nunca foi tirado após o falecimento da sua filha e minha tia nos anos 50/60.
 
Ora e voltando ao contrabando, numa das minhas crónicas eu referi que ainda faltava contabilizar a o impacto que esta actividade (ilegal) teve no fortalecimento das relações entre as populações raianas, portuguesas e espanholas, neste caso. Ora estudos sobre este factor e outros com ele relacionados já foram feitos por antropólogos e por departamentos de antropologia de Universidades Portuguesas e Espanholas, só que a matéria parece ser pelo menos um pouco controversa e o andamento destes estudos tem sido relativamente lento.

Cito: (...) O contrabando era, assim, «forma de viver, de sobreviver sempre no fio da navalha, sempre nos limites sem nunca saber quando do outro lado estaria a Guarda à sua espera. Eram quilómetros e quilómetros percorridos sempre a pé, dentro de água, no meio do escuro, à procura do sustento», salienta na introdução à obra (de Luís Filipe Maçarico - 2005) João Miguel Martins, vereador da Câmara Municipal de Mértola.
Luís Filipe Maçarico entrevistou ao longo de vários meses antigos contrabandistas e guardas-fiscais reformados que actuaram na raia de Mértola. Um trabalho que se estendeu até Espanha, ouvindo alguns raianos de Paymogo, El Almendro e El Granado. (...)
 
 
 
 
 

 

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