Pânico na Madrugada - Conto - Crónica de José Pedreira da Cruz (Tico Cruz)
Foi numa funerária o meu primeiro emprego, aonde, aos 13 anos de idade, adquiri a difícil arte da compreensão e da humildade.
Lá, no florescer da minha doce juventude, vivi as mais turbulentas e atribuladas madrugadas recheadas de desconforto frente a dor e o sofrimento alheio, o que me fazia, diuturnamente, só pensar no bem-querer.
A vida não me era assim tão prazerosa, mas tudo transcorria num harmonioso clima com os companheiros que passavam o tempo a se divertir de minhas abastadas maluquices dignas da idade.
A necessidade me impôs na obrigação de ser plantonista noturno daquela casa mortuária, onde foram inúmeras as noites em que dormi entre caixões, castiçais, coroas, flores, velas e tecidos de mortalhas; e onde, também, em muitas madrugadas tive o sono interrompido: ora para agilizar funerais: ora para fazer caixões; ora por puro medo.
Para os pernoites de plantão eu sempre contava com a companhia de dois colegas: o Joé e o Jesulino, este, amigavelmente apelidado de Jesus. Eles compartilhavam comigo das insónias: coisas já habituadas; uma vez que faziam parte da nossa atribulada rotina; e raríssimas eram as noites sem elas.
Consta-me que certa noite, ao retornar da escola, avistei de longe o Jesus triste e desolado. Estava ele só, sentado no batente da porta de entrada da funerária e visivelmente melancólico; o que me fez pensar em algo errado ter acontecido, mas... o quê?
Lá, no florescer da minha doce juventude, vivi as mais turbulentas e atribuladas madrugadas recheadas de desconforto frente a dor e o sofrimento alheio, o que me fazia, diuturnamente, só pensar no bem-querer.
A vida não me era assim tão prazerosa, mas tudo transcorria num harmonioso clima com os companheiros que passavam o tempo a se divertir de minhas abastadas maluquices dignas da idade.
A necessidade me impôs na obrigação de ser plantonista noturno daquela casa mortuária, onde foram inúmeras as noites em que dormi entre caixões, castiçais, coroas, flores, velas e tecidos de mortalhas; e onde, também, em muitas madrugadas tive o sono interrompido: ora para agilizar funerais: ora para fazer caixões; ora por puro medo.
Para os pernoites de plantão eu sempre contava com a companhia de dois colegas: o Joé e o Jesulino, este, amigavelmente apelidado de Jesus. Eles compartilhavam comigo das insónias: coisas já habituadas; uma vez que faziam parte da nossa atribulada rotina; e raríssimas eram as noites sem elas.
Consta-me que certa noite, ao retornar da escola, avistei de longe o Jesus triste e desolado. Estava ele só, sentado no batente da porta de entrada da funerária e visivelmente melancólico; o que me fez pensar em algo errado ter acontecido, mas... o quê?
Ao me aproximar olhei temeroso para o interior da loja e vi tudo escuro como um breu, exceto um ponto amarelado que se destacava lá na parede dos fundos e, com inevitável preocupação indaguei ao colega:
– Que houve por aqui?
– Sei lá, rapaz! Deu um estouro ai dentro, buummm, (sonorizou) – e apagou tudo – retrucou Jesus deixando-me transparecer uma certa credulidade.
– Meu Deus! – falei tapando a boca com a mão direita e acrescentei: cadê o Joé? – perguntei por perguntar, pois este sempre faltava ao plantão.
– Mandou dizer que não vem. Que tá gripado! Acho que é safadeza dele. – disse-me Jesus, deixando transparecer uma certa malícia no falar: como se tivesse ensaiado ao que me responderia.
– Que houve por aqui?
– Sei lá, rapaz! Deu um estouro ai dentro, buummm, (sonorizou) – e apagou tudo – retrucou Jesus deixando-me transparecer uma certa credulidade.
– Meu Deus! – falei tapando a boca com a mão direita e acrescentei: cadê o Joé? – perguntei por perguntar, pois este sempre faltava ao plantão.
– Mandou dizer que não vem. Que tá gripado! Acho que é safadeza dele. – disse-me Jesus, deixando transparecer uma certa malícia no falar: como se tivesse ensaiado ao que me responderia.
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