domingo, 27 de janeiro de 2013

Blogue Alcoutim Livre - Escreve: M Dias - Os cheiros e os sons da minha infância!

 
Blogue Alcoutim Livre - Escreve: M Dias - Os cheiros e os sons da minha infância!

 
Recordo os cheiros e os sons da minha infância e conservo deles uma memória viva e doce.
 
A vida na serra, proporciona-nos experiências de tocar, cheirar, ouvir, manipular o que é mesmo natural, autêntico! Os cheiros, os sons e as texturas que a natureza nos oferece na sua espontânea naturalidade em cada estação do ano, (excluindo alguns poucos cheiros e sons desagradáveis que também não esqueci, como o cheiro do pocilgo, ou da matança do porco, e o som dos trovões e dos foguetes), as minhas memórias sonoras, tácteis e olfactivas são doces recordações.
 
No Verão o cheiro das searas ceifadas, dos funchos, e junto do barranco os aloendros floridos, dos figos a secar ao sol, o som das pegadas das bestas e do linguajar dos donos que as conduziam, dos chocalhos do gado que à tardinha regressava aos currais, o zumbir de uma mosca no silêncio no quarto quando dormíamos a sesta (conhecida por folga), o cantar das cigarras em dias de muito calor e dos grilos à noite ao serão, o canto do galo ao amanhecer e da galinha quando acabava de pôr o ovo, dos cães que ladravam e corriam desenfreados atrás de um pobre gato, e o cheiro da terra molhada, quando ocasionalmente «desabava» uma trovoada de Verão.
 
Chegava o Outono com os seus tons amarelados, muitas árvores já despidas, as primeiras chuvas, sempre insuficientes que mal faziam correr os estreitos regatos, a terra com manchas pretas das queimadas e o cheiro da lenha a arder, fazendo subir curvilíneas colunas de fumo no ar. Por essa altura começavam as lavouras e nesses anos ainda se ouviam as charruas e o lento caminhar das bestas a sacudir as orelhas, quando as peganhentas moscas as incomodavam.
 
Cheirava a terra lavrada, e muitas dezenas de passarinhos procuravam aí o petisco que saía da terra remexida. Ouviam-se asas de grandes bandos a bater! As primeiras azeitonas eram apanhadas e pisadas (britadas) para daí a poucos dias, frescas e saborosas serem consumidas, muitas vezes só com pão e tantas vezes serviam de almoço, ou merenda!
 
 
 
 

 

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