A cultura da telenovela - Por Leocardo - Blogue Bairro do Oriente
Quem tem a idade suficiente para se lembrar com clareza dos anos 80 lembra-se certamente daquilo que chegou a ser conhecido por «cultura da telenovela». Durante vários anos, quando os canais de TV se resumiam à RTP1 e RTP2, a hora depois do Telejornal das oito era «sagrada».
O país chegava a parar para assistir às telenovelas que chegavam do outro lado do Atlântico, do Brasil. A moda foi inaugurada com «Gabriela, cravo e canela», que consagrou a então muito sensual Sónia Braga, e a partir daí deu-se uma mudança radical nos hábitos televisivos. O serão passou a ser ocupado na sua boa parte em frente ao pequeno ecrã, e no caso das telenovelas com maior audiência, as ruas chegavam a ficar desertas entre as 8:30 e as 9:30.
Havia quem resistisse a esta moda, mas era uma minoria tão insignificante que não entrava para a estatística. Quem se atrevesse a criticar a dependência nacional da novela era visto como um tipo «esquisito», ou um estraga - prazeres.
A crítica que mais se ouvia prendia-se com o facto das telenovelas serem uma forma de entretenimento oco, de consumo imediato e onde «não se aprendia nada». Outro problema era a língua, pois a exposição demorada às «radiações» do português com sotaque tinha o seu impacto sobre as pessoas mais influenciáveis, especialmente os jovens.
A teoria não era de todo descabida, mas se era isto que o povo queria e gostava, e ninguém imaginava sequer outra alternativa para ocupar o «prime-time» televisivo. Os críticos eram deixados a falar para a parede.
Realmente passavam novelas brasileiras que eram uma parvoíce pegada sem ponta por onde se pegue. Lembro-me de uma em particular, o «Sassaricando», com Claúdia Raia, Alexandre Frota, Paulo Autran e Tônia Carrero que era tão má que cheguei a pensar que era alguma partida que os brasileiros estavam a pregar ao seu irmão mais velho, o «tuga».
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