Poemas de Ilona Bastos - Chorarei; Aos caracóis; Noctívaga
Chorarei
Digo-te como me sinto -
à beira das lágrimas.
Prestes a iniciar um choro
Que não cessará, nunca mais.
Vou esquecer os lábios
E o sorriso, que não é meu.
Vou ignorar as maçãs
Do rosto, que abandonei.
Vou franzir o sobrolho -
Tudo o que de mim controlo.
E o sorriso, que não é meu.
Vou ignorar as maçãs
Do rosto, que abandonei.
Vou franzir o sobrolho -
Tudo o que de mim controlo.
Vou semicerrar os olhos
E entregar-me ao pranto,
Como a um rio caudaloso,
Que nasce de fonte recôndita,
Nas entranhas do coração
Apertado, e pelas veias se expande,
Subindo, descendo, vertendo
Do lago do meu olhar.
E entregar-me ao pranto,
Como a um rio caudaloso,
Que nasce de fonte recôndita,
Nas entranhas do coração
Apertado, e pelas veias se expande,
Subindo, descendo, vertendo
Do lago do meu olhar.
Aos caracóis
é preciso que se entenda:
O meu cabelo é aos caracóis!
Por isso não posso ser prática -
Linear, avançada, organizada!
O meu cabelo é aos caracóis!
Por isso não posso ser prática -
Linear, avançada, organizada!
é necessário que se compreenda:
Quando entregue a si mesmo,
O meu cabelo rebela-se e revira-se,
Indiferente a modas e convenções,
Quando entregue a si mesmo,
O meu cabelo rebela-se e revira-se,
Indiferente a modas e convenções,
E se tentam impor-lhe ordem,
Ergue-se, pujante, resoluto,
Ostentando um volume grandioso
Que esvoaça ao vento e resiste à chuva.
Ergue-se, pujante, resoluto,
Ostentando um volume grandioso
Que esvoaça ao vento e resiste à chuva.
Noctívaga
Desacelero os movimentos,
Os meus braços movem-se
Suavemente, como numa dança,
Escuto o silêncio e os sons da noite,
Os meus braços movem-se
Suavemente, como numa dança,
Escuto o silêncio e os sons da noite,
Concentro-me no roçar do lápis
Sobre o papel,
No arfar da minha respiração,
No correr dos automóveis, ao longe.
Sobre o papel,
No arfar da minha respiração,
No correr dos automóveis, ao longe.
A lucidez da noite invade-me,
Agora que devo deitar-me e dormir…
Agora que devo deitar-me e dormir…
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